Blog •  24/05/2019

Aprenda a fazer o manejo de diferimento de pastos

Autores:  Vitor Del Alamo Guarda – Doutor em Ciência Animal e Pastagens pela Esalq-USP, pesquisador na área de Forragicultura e Pastagens e gestor de Ativos – Forrageiras da Secretaria de Inovação e Negócios da Embrapa.
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Aprenda a fazer o manejo de diferimento de pastos

A estacionalidade de produção dos pastos é conhecida há muito tempo e não deve mais ser vista como um grande problema da produção animal em pasto.

Vamos iniciar esta nossa caminhada refletindo sobre as palavras do sábio Engenheiro Agrônomo Dr. Fernando Penteado Cardoso, que diz “O Brasil é um país onde as pessoas acham muito, observam pouco e não medem absolutamente nada!”. São palavras duras, mas eu, em meus quase 35 anos de profissão, sou obrigado a concordar plenamente com ele.

É comum um pecuarista me chamar para ir à sua fazenda sem saber o nível de gravidade em que ela se encontra quanto à degradação, e muitos acreditam que suas pastagens estão muito boas, enquanto aos meus olhos estão no vermelho.

Como sou um profissional da lida e procuro sempre levar ao pecuarista o conhecimento e a prática, desenvolvi uma metodologia de diagnóstico bastante fácil para ele avaliar o estado de sua pastagem.

Metodologia do Quadrante

Esta metodologia chama-se “Metodologia do Quadrante”, em que eu considero 4 fatores principais que provocam a degradação da pastagem. Vejamos a seguir:

  • Plantas daninhas: para avaliar esse item, normalmente eu peço ajuda de um distribuidor da CORTEVA, especialista em limpeza de pasto e controle de plantas daninhas. Damos uma nota que vai de 0 a 10, em que zero é muito bom e sem plantas daninhas, cinco é 50% de infestação e dez 100% de infestação.
  • Fertilidade: para esse item, não existe outra forma a não ser fazer uma análise de solo, o pecuarista costuma “achar” que sua terra é muito boa e raramente faz análise de solo. Vamos nos atentar principalmente aos níveis de Fósforo, em que zero seria com 1 ou 2 mg/dm³, cinco 10 mg/dm³ e dez 20mg/dm³, que seria o desejável para termos uma boa pastagem.
  • Outras plantas: chamo de outras plantas gramíneas ou outras plantas de folha estreita como a gramínea forrageira. Porém, são plantas muito agressivas, que o bovino pouco aceita comer. Um exemplo seria o famoso Navalhão ou o Rabo-de-Raposa. Agora a Corteva tem em seu portfólio um produto para o controle do Navalhão.
  • População de capim: nesse item, zero o capim se acabou, cinco só temos 50% e dez temos 100% do estande de capim.

Depois de avaliados esses 4 itens, podemos localizar onde a nossa pastagem se encontra, conforme a figura abaixo.

tipos de pasto

  • Verde 1, é um pasto que se encontra em uma situação que necessita apenas de uma eventual manutenção, é um pasto bom ou ótimo, que pode receber uma carga animal mais elevada.

    pasto bom ou ótimo, que se encontra em uma situação que necessita apenas de uma eventual manutenção

  • Amarelo 2, é um pasto que já se encontra em degradação, porém, é muito fácil de se recuperar, pois apesar de termos muitas plantas daninhas, temos muito pasto. Com uma aplicação de herbicida em área total, podemos eliminar as invasoras e rapidamente o pasto retoma a sua capacidade produtiva.

    pasto que já se encontra em degradação, mas muito fácil de se recuperar

  • Amarelo 3, é um pasto que também está em degradação. É uma situação muito mais difícil de se recuperar, pois a fertilidade está muito baixa e o capim com diversos espaços vazios.
     pasto que também está em degradação, numa situação muito mais difícil de se recuperar
  • Amarelo 4, nesse último o pasto se acabou e é necessário refazer tudo novamente.

    pasto totalmente degradado

Com essa metodologia simples, o pecuarista pode começar a estabelecer uma avaliação para as suas pastagens e um plano de recuperação e reforma.

Medir a taxa de lotação

Outra maneira de medir como anda o seu negócio é avaliar a sua taxa de lotação, seja em cabeças/ha ou Unidade Animal/ha, lembrando que uma UA equivale a um animal de 450 kg. Um bezerro de 225 kg corresponde a 0,5 UA e um boi de 550 kg corresponde a 1,22 UA.

Segundo um estudo da EMBRAPA:

Média brasileira

0,9 cab/ha

0,7 UA/ha

Sistema melhorado

1,2 cab/ha

0,9 UA/ha

Tecnologia avançada

1,6 cab/ha

1,2 UA/ha

Alta tecnologia

2,0 cab/ha

1,6 UA/ha

Essa é uma forma bastante interessante para se avaliar em que patamar a propriedade se encontra.

Outros indicadores que o pecuarista deve acompanhar

Outra forma importante é o pecuarista pesar o seu rebanho periodicamente e avaliar o ganho de peso tanto nas chuvas quanto na seca. Nas águas, um bom pasto deverá dar um ganho de peso de pelo menos 900 g/cab/dia e, na seca, 400 g/cab/dia. Quanto está dando em sua propriedade? Por incrível que pareça existem pecuaristas de corte que nem balança possuem em sua fazenda.

A EMBRAPA possui uma régua para a medição de pastagem para o pecuarista avaliar a altura de entrada e de saída do pasto. Lembro que cada gramínea possui uma altura de entrada e de saída. É lamentável que a grande maioria desconheça esses números.

régua de medição de pastagem

Podemos avaliar diversos índices zootécnicos que nos permitem concluir em que nível de desenvolvimento estamos. Por exemplo: peso do bezerro na desmama, índices de natalidade, mortalidade, mortalidade pós-desmama, idade da primeira cria, intervalo entre partos, entre outros.

Veja a tabela da Embrapa abaixo:
índices zootecnicos médios do rebanho brasilieor e em sistemas tecnológicos mais evoluídos

Apesar de alguns desses índices já estarem ultrapassados, ainda servem como referência.

Quantos anos de vida média tem a pastagem em sua propriedade?

A vida média de uma pastagem no Brasil é de 4 a 5 anos, sendo que a pastagem é constituída por plantas perenes, ou seja, vida longa. Temos pastagens com mais de 30 anos no Brasil.

Um hectare de pastagem para ser reformado custa em torno de R$ 1.700,00. Dependendo do grau de degradação e incidência de plantas daninhas, pode até passar de R$ 2.000,00, mas vamos considerar o primeiro valor: se dividirmos por 4, teremos um custo anual de R$ 425,00, enquanto que, se dividirmos por 30, teremos o valor de R$ 56,66.

Aí está a diferença.

Se o pecuarista investir anualmente algo em torno de R$ 300,00/ha em manutenção, no mínimo, triplica sua taxa de lotação e sua lucratividade e não precisa reformar nada.

Além desses índices, existem muitas outras formas de o pecuarista medir o seu desempenho: medindo a chuva com um pluviômetro, anotando as suas receitas e despesas.

Mas é muito fácil você avaliar a sua performance diante da situação, quer ver?

  • Há quanto tempo você não participa de um congresso ou encontro de adubação?
  • Há quanto tempo você não abre suas porteiras para levar um consultor para lhe dar assistência?
  • Há quanto tempo você não testa novas tecnologias e busca se aprimorar?

Apesar de o Brasil estar em meio a uma grande crise econômica, o que importa hoje para se continuar no negócio é o seu índice de mudanças. Lembre-se:, quem não muda, dança!