Quando o assunto é equipe, a gestão de pessoas deve ser conduzida na fazenda como um jogo de xadrez, que envolve raciocínio lógico, comprometimento, paciência, estratégia, criatividade e informações precisas para tomada de decisão.
Todas essas competências são necessárias porque um dos grandes gargalos na produção agropecuária é a dificuldade com colaboradores, seja por falta de mão de obra capacitada ou por falta de engajamento da equipe.
No que se refere à falta de mão de obra, um dos fatores responsáveis por afastar a população do campo foi a urbanização e as oportunidades por ela geradas.
Décadas atrás, era comum que as famílias existentes nas fazendas fossem crescendo, e as gerações seguintes fossem mantendo a formação da equipe. Mas, na atualidade, os filhos dos colaboradores vão para a cidade em busca de outras oportunidades.
Em 1960, a população rural era praticamente metade da população brasileira. Hoje, segundo dados da ONU, 86,6% dos brasileiros vivem na zona urbana.
Este movimento de urbanização da população levou a uma retração da quantidade de pessoas empregadas no campo. Na década de 70, havia mais de 20 milhões de trabalhadores rurais e, hoje, o total é de 15 milhões de pessoas nessa situação. Nesse caso, além da atratividade dos empregos nas cidades, as tecnologias, principalmente as máquinas e implementos, também colaboraram para uma menor oferta de trabalho no campo.
Por isso, a reclamação dos pecuaristas quanto à dificuldade para formar uma equipe é legítima. E mesmo aqueles que já possuem os colaboradores, relatam dificuldades envolvendo o nível de capacitação deles e a integração com os objetivos e resultados da fazenda.
Treinamento e bonificação
Algumas iniciativas podem mudar esse cenário de problemas com mão de obra, ou melhor, a falta de mão de obra especializada e comprometida. As ações mais efetivas envolvem treinamento dos colaboradores, determinação de um propósito, lançamento de desafios e estabelecimento de políticas de recompensa/apoio financeiro.
A escolha de cada uma dessas ações dependerá do perfil de cada colaborador e de cada fazenda, mas dentre todas essas ferramentas a que tem gerado resultados positivos mais imediatos é a política de bonificação financeira.
Isso porque a premiação materializa a recompensa de um desafio superado. Para algumas pessoas, somente o alcance da meta é motivador, mas outras têm a necessidade desse “empurrãozinho”.
E não há dúvidas de que uma equipe com mais dedicação e empenho realiza os processos adequadamente, trazendo resultados melhores para a fazenda.
Como fazer?
Elaborar um programa de bonificação não é simples, e a falta de cuidado na aplicação pode incentivar a falta de transparência, a competição e a deslealdade da equipe, portanto, o planejamento é fundamental.
O primeiro passo para implementar o programa é estabelecer as metas que devem ser alcançadas na fazenda.
Na fase de cria, dentro da maternidade, por exemplo, diminuir a incidência de infecções umbilicais através da melhora do manejo sanitário pode ser um objetivo.
Já na fase de recria e engorda, como a principal finalidade desse sistema é o ganho de peso, estipular um valor a ser alcançado pode ser o alvo para a equipe.
A meta pode ser estipulada por meio de diversas variáveis, tais como Ganho Médio Diário, produção de arrobas totais ou produção de arrobas por hectare.
Mas, nesses casos, o controle do ganho de peso dos animais deve ser rígido. A frequência de pesagens depende dos processos de cada fazenda, mas quanto maior a meta estipulada, mais próximo deve ser o acompanhamento. A recomendação é que as pesagens sejam feitas coincidindo com o protocolo de vacinação adotado na fazenda.
Contudo, os propósitos podem ser mais simplificados, focados, por exemplo, em quantidade de bois abatidos ou bezerros desmamados. Esse método é o ideal para os produtores que pretendem iniciar essa política dentro da fazenda.
Acompanhamos o caso do Marcelo, que tem uma fazenda de cria no norte de Tocantins. Ele enfrentava alguns problemas envolvendo a alta mortalidade de bezerros em decorrência de diversos manejos inadequados.
Após implementar uma bonificação de 5% nos salários de seus colaboradores caso a taxa de mortalidade caísse de 8% para 3% na próxima estação de parição, Marcelo conseguiu motivar a equipe e obteve o resultado desejado.
Assim como na fazenda do Marcelo, as metas devem ter como finalidade melhorar o resultado econômico da fazenda, e esse ganho extra será o responsável por financiar o prêmio.
Para “dividir o bolo”, a indicação é que todos os colaboradores recebam o mesmo percentual sobre o salário. E, a cada ano, novas metas devem ser implantadas.
Mas, para que tudo isso dê certo e a gestão da equipe seja levada para outro nível, a rotina de reuniões e o processo de coleta e armazenamento de dados terá que funcionar adequadamente.
Por fim, os desafios de adotar uma política de bonificação são grandes, mas se bem executada, trará benefícios para todos os envolvidos.
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Marina Zaia – médica-veterinária
Scot Consultoria
Tenho tido problema no incentivo da equipe.
Poxa, Nágela. Mas com essas dicas, você vai conseguir dar todo o incentivo para a sua equipe 🙂