A exportação de carne é um setor econômico importante e rentável para o Brasil, devido ao grande potencial pecuário e à capacidade para atender a demanda mundial com preços competitivos.
Mas, ao mesmo tempo que alimenta a população de outros países, o comércio de carnes é um veículo importante na transmissão de doenças.
Para se manter como o maior player global no comércio de proteínas, o Brasil tem o desafio de continuar oferecendo aos consumidores segurança sanitária e inocuidade.
E, para garantir e atestar a qualidade da carne brasileira, são feitas ações de fiscalização e inspeção do governo. A inspeção de bovinos em frigoríficos é feita por médicos veterinários, que autorizam o aproveitamento in natura ou condicional da carcaça dos animais.
Uma das principais causas de condenação de carcaças de bovinos abatidos é a cisticercose, zoonose que causa poucas perdas no desempenho dos animais na fazenda, mas traz prejuízos nos últimos elos da cadeia que reverberam em todo do setor.
A cisticercose é um grande problema para a saúde pública, além disso, a doença limita as possibilidades de exportação de carne e diminui a credibilidade do Brasil no comércio internacional.
Ciclo de vida do parasita
A cisticercose bovina é caracterizada por pequenas vesículas transparentes alojadas nos tecidos dos animais, principalmente no coração e nos músculos da mastigação e na língua.
Elas fazem parte de uma fase do ciclo da Taenia saginata (solitária), verme achatado encontrado no intestino de seres humanos parasitados.
O ciclo inicia quando o homem come carne com cisticercose crua ou mal cozida. Os cistos evoluem para a forma adulta do verme no interior do intestino humano.
Uma vez que o indivíduo esteja infectado com teníase, a solitária libera “partes” de seu corpo pelas fezes humanas. Se os bovinos ingerirem água ou alimentos contaminados com os segmentos da tênia, eles desenvolverão a cisticercose.
Assim, pela grande interação e dependência do homem, lugares com saneamento básico deficiente e com maior concentração de pessoas, são consideráveis zonas de risco.
Perdas econômicas
Por não causar sintomatologia nos bovinos infectados, a cisticercose é uma doença silenciosa nos rebanhos, sendo que, normalmente, o pecuarista só fica sabendo do problema depois de uma ligação do frigorífico.
A destinação da carcaça depende do grau de infestação e do nível de desenvolvimento dos cisticercos (viáveis ou calcificados).
Segundo o Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária dos Produtos de Origem Animal (RIISPOA), as carcaças com infestações intensas devem ser condenadas. Nesse caso, elas são destinadas à graxaria (imprópria ao consumo humano) e o produtor não recebe pagamento.
Quando há rejeição parcial e a carcaça é destinada ao tratamento pelo frio, o valor pago ao pecuarista costuma ter um decréscimo de 30%. Quando a carcaça é destinada à produção de conserva (esterilização pelo calor), o produtor recebe cerca de 50% a menos.
Tratamento
O primeiro passo para manter o rebanho longe da doença é fornecer água e alimentos de qualidade para os animais. É importante também monitorar o trânsito de pessoas nos pastos, evitando possíveis fontes de infecções.
A vermifugação dos animais deve seguir o controle estratégico de verminoses. E em sistemas em que o risco é elevado, é recomendado que o produtor institua um programa de tratamento específico no final da engorda.
Situação da doença no Brasil
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a faixa aceitável da prevalência da cisticercose bovina para um país em desenvolvimento gira em torno de 1 a 3%.
No Brasil, essa faixa varia de acordo com a região. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), de 2013 a 2017, 54 milhões de bovinos foram abatidos no Centro-Oeste. Desse total, 16 mil carcaças foram totalmente condenadas por cisticercose bovina, o que corresponde a 0,03%.
Contudo, em algumas regiões menos desenvolvidas do Brasil, com índices mais baixos de educação e saneamento básico, essa taxa é significativamente maior.
De acordo com a classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS), os países sul-americanos estão entre os de prevalência moderada de Taenia saginata (taxa de infecção entre 0,1 e 10%).
Entretanto, com mais políticas públicas e maior controle na produção, o Brasil pode galgar o status de baixa prevalência na OMS.
Esse cenário seria positivo para o produtor, que enfrentaria menos casos de penalização; para os consumidores, que comeriam carnes mais seguras; e para a economia do país, resguardando o bom posicionamento do Brasil no mercado internacional.