Para uma propriedade fazer parte da lista TRACES e estar apta a exportar para a União Europeia, precisa atender às exigências estabelecidas pelo SISBOV e ter a certificação de Estabelecimento Rural Aprovado no SISBOV (ERAS). Mas tudo isso começa pelo sistema de rastreamento.
Nem sempre o processo de rastreabilidade é barato e fácil para o pecuarista, mas o rastreamento agrega valor ao produto final e dá credibilidade para toda a cadeia pecuária. E caso o Brasil continue se consolidando como maior exportador e conquiste mais mercados, haverá aumento na demanda por bovinos rastreados.
Em um mercado amplamente competitivo e frequentemente em transformação, a adaptação ao processo de rastreamento pode ser o diferencial de sucesso na pecuária.
A essência da rastreabilidade
Muitas vezes, a pecuária brasileira é bombardeada por notícias negativas, seja pela “qualidade ruim do produto final” ou pelos “métodos de produção extrativistas”, com isso, não é difícil a produção de gado ser rotulada como vilã nacional.
Porém, um dos melhores argumentos para rebater essas críticas e conquistar a confiança do consumidor é mostrar e provar a realidade por meio do acesso a todas as fases de produção, industrialização e distribuição da carne bovina.
E é isso o que a rastreabilidade faz!
Todas as informações do processo produtivo podem ser encontradas em animais que possuem sistemas de identificação e programas que registrem o desempenho zootécnico e as ocorrências sanitárias ao longo da vida do animal.
Esta certeza de adquirir uma carne com qualidade nutricional, sanitária, e produzida dentro de critérios socioambientais já existe, e o consumidor, cada vez mais preocupado e inteirado, quer informações de onde vem sua comida e como e por quem ela é produzida.
Assim, a rastreabilidade é a ferramenta que pode aproximar o prato do campo, pois rastrear significa conhecer toda a história de um alimento em cada segmento da cadeia alimentar, seguindo todos os seus rastros até chegar à sua procedência.
Por mostrar para o consumidor que o produto é seguro e saudável, a rastreabilidade também é a porta de entrada para países que possuem regras mais rígidas de importação, como a União Europeia. Isso porque a rastreabilidade garante a segurança alimentar, pois viabiliza localizar e, se necessário, retirar rapidamente do mercado bovinos ou carne identificados como caso de provável risco à população.
Como funciona a rastreabilidade no Brasil
Visando atender às exigências do mercado europeu, em meados dos anos 2000, o Brasil criou o Sistema Brasileiro de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos (SISBOV).
O SISBOV é coordenado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e consiste em um conjunto de normas que registram e controlam as propriedades rurais que, voluntariamente, aderiram ao sistema.
Originalmente, o sistema de rastreabilidade foi criado visando atender somente o mercado internacional, porém, com o aumento do nível de exigência geral dos consumidores, o SISBOV vem sendo implementado em todo o território nacional.
Como aderir ao SISBOV?
O produtor interessado deve solicitar o cadastramento da sua fazenda a uma empresa certificadora credenciada pelo MAPA.
A certificadora coleta dados do proprietário, da propriedade e o inventário dos animais e encaminha ao produtor diversos formulários, tais como para comunicado de entrada/saída de animais e comunicado de morte ou acidente de animais.
Além disso, existe o protocolo declaratório de produção para caracterização do sistema produtivo, da infraestrutura e do manejo da propriedade.
Para identificar os animais, o produtor precisa adquirir os produtos (brincos, bottons, chips, etc.) em empresas credenciadas e, a partir daí, solicitar a vistoria da propriedade.
Após a vistoria e a checagem da identificação dos bovinos, se a propriedade atender às exigências estabelecidas pelo SISBOV, a certificadora emite um laudo e faz a atualização na Base Nacional de Dados (BND), e, por fim, a fazenda recebe a certificação de Estabelecimento Rural Aprovado no SISBOV (ERAS).
A certificação ERAS é um estágio de transição até a fazenda se tornar TRACES (lista de propriedades que são aptas a exportar). Para uma propriedade rural entrar para a Lista TRACES, precisa passar por diversos processos de auditorias realizadas por fiscais federais.
Números do SISBOV
Segundo o MAPA, mais de 40 milhões de bovinos foram inseridos na BND do SISBOV. Com relação aos estabelecimentos ERAS, em janeiro de 2019, havia mais de 1.734 propriedades com essa classificação. A lista TRACES, no mesmo mês, era composta por 1.670 propriedades, totalizando 4,3 milhões de bovinos.
Para manter a certificação, as propriedades passam por vistorias periódicas realizadas pelas certificadoras. Elas ocorrem em intervalos de 180 dias para propriedades que trabalham em sistemas a pasto e semiconfinamento e de 60 dias para os confinamentos que recebem bovinos de outros estabelecimentos ERAS, por exemplo, os boitéis.
Além disso, é obrigatória a auditoria, por um fiscal do MAPA, uma vez por ano, em 10% das propriedades presentes na lista TRACES.
Custos e oportunidades
Segundo pesquisa da Scot Consultoria, atualmente, o ágio pago pelo bovino rastreado (lista TRACES) está entre R$ 2,00 e R$ 3,00 por arroba de boi gordo.
Veja na tabela a seguir uma estimativa de custo de rastreabilidade feita pela Scot Consultoria.
Perceba que, conforme aumenta o volume de animais rastreados no rebanho, os custos diluem mais.
Tabela 1.
Estimativa de custos da rastreabilidade bovina, considerando três fazendas com diferentes rebanhos (SISBOV).
500 bovinos | 5.000 bovinos | 10.000 bovinos | |
Brinco + botton | R$ 2,60/cabeça | R$ 2,43/cabeça | R$ 2,15/cabeça |
Certificação SISBOV | R$ 3,00/cabeça | R$ 3,00/cabeça | R$ 3,00/cabeça |
Vistorias | R$ 3,00/cabeça | R$ 0,30/cabeça | R$ 0,15/cabeça |
Custo total (R$/cabeça) | R$ 8,60 | R$ 5,73 | R$ 5,30 |
Custo total (R$/arroba) | R$ 0,48 | R$ 0,32 | R$ 0,29 |
Fonte: Scot Consultoria
Vale ressaltar que na tabela 1 foi considerado apenas uma vistoria e essa operação deve ser realizada a cada 60 dias em confinamento e a cada 180 dias em sistema a pasto. Portanto, para o custo final, o número de vistorias a ser realizado deve ser contabilizado.
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Autora: Marina Zaia – médica veterinária