As dez megatendências para a pecuária bovina até 2040
Especialista aponta as principais mudanças previstas para a cadeira produtiva de carne nas próximas décadas
Especialista aponta as principais mudanças previstas para a cadeira produtiva de carne nas próximas décadas
A pecuária de corte no Brasil passará por importantes transformações nos próximos vinte anos. São mudanças que vão impactar toda a cadeia produtiva, para que o país possa manter sua posição de liderança no cenário mundial e alcançar novos mercados.
Para entender melhor sobre os desafios e tendências do setor, conversamos com o coordenador do Centro de Inteligência da Carne Bovina (CiCarne) da Embrapa Gado de Corte, Guilherme Cunha Malafaia. Ele coordenou o estudo “O futuro da cadeira produtiva da carne bovina – Uma visão para 2040”, que detalha e orienta sobre os principais caminhos que devem proporcionar uma transformação radical na pecuária bovina de corte.
Confira quais são as dez megatendências para a pecuária bovina.
Atualmente, a sanidade bovina é garantida com o uso de produtos químicos. Em 2040, as soluções biológicas irão ocupar espaço importante no manejo e serão a base para garantir a saúde do rebanho. Além de diminuir os riscos de contaminação por fármacos tradicionais, essa mudança aumentará a aceitação de produtos de origem animal pelos consumidores e reduzirá os riscos de embargos comerciais.
A biotecnologia impactará desde o manejo na propriedade até a qualidade do produto que chegará à mesa dos consumidores. Ela será usada para a melhoramento genético e sanidade, contribuindo para melhorar a qualidade da carne e ajudando em problemas históricos da atividade, como doenças e parasitas. Na genética, os principais avanços serão na inseminação artificial.
Haverá aumento expressivo em área de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), com maior número de bovinos integrados à diversidade produtiva e ao meio ambiente. Mais carne será produzida com menos áreas de pastagem. Essa mudança pode melhorar a imagem da pecuária de corte diante da sociedade brasileira e estrangeira.
“A expectativa é que nos próximos 20 anos o Brasil duplique a área de ILPF, trazendo maior eficiência dentro deste sistema. Como consequência, mais áreas para cultura de grãos e de florestas serão abertas, de modo interligado com a pecuária, criando um círculo virtuoso de desenvolvimento sustentável”, afirma Malafaia.
O respeito ao bem-estar animal será uma rotina obrigatória em toda a cadeia produtiva, da cria ao abate. A propriedade, a transportadora e o frigorífico serão obrigados a apresentarem certificados de produção com bem-estar animal e rastreabilidade. Estas práticas serão indispensáveis para a aceitação da carne nos mercados nacional e internacional.
“Os protocolos de bem-estar animal estão sendo cada vez mais cobrados, principalmente no mundo pós-pandêmico, em que os critérios de biosseguridade são cada vez mais elevados. As certificações de bem-estar animal serão mandatórias para se fazer negócio”, salienta ele.
Para atender aos consumidores, a busca por soluções sustentáveis será brutal, transformando a indústria de insumos. Toda a cadeia produtiva deverá adotar procedimentos que garantam a qualidade da carne e a sustentabilidade de suas atividades, incluindo a aquisição da matéria-prima e os sistemas de manejo. Estas exigências limitarão a produção extrativista ao mínimo.
O novo cenário da pecuária vai colocar em destaque os produtores que investirem em tecnologia e gestão, e que estejam dispostos a acompanhar a evolução do setor. Quem quiser se manter no mercado, deverá atender às exigências produtivas e investir em meios de produção, controle e qualidade do produto final. Aqueles que não melhorarem seus padrões produtivos e gerenciais serão eliminados da atividade.
“Nos próximos 20 anos, as exigências para atender às necessidades do mercado serão muito maiores e os custos de produção tendem a ser mais elevados. Isso vai incorrer em necessidades maiores de inteligência e gestão dentro do negócio”, complementa ele.
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A nova forma de consumo será guiada pela sofisticação. Assim como acontece com queijos e vinhos, as carnes terão como diferencial sua denominação de origem, como forma de agregar valor ao produto. Para satisfazer consumidores exigentes e em busca de novas experiências gastronômicas, a carne terá cortes e porcionamentos diferenciados.
O Brasil vai se consolidar entre os maiores exportadores de carne, com destaque para a genética bovina. Isso se deve aos avanços em biotecnologia, produção sustentável, bem-estar animal e qualidade da carne. O país terá destaque na exportação de genética, animais vivos para abate, cortes de carne e subprodutos em diferentes mercados.
A inovação digital vai impulsionar o processo de transformação de toda a cadeia produtiva de carne, injetando gestão e inteligência na atividade. Ela vai aproximar o produtor do consumidor, e muitos gargalos de produção serão eliminados devido à gestão mais tecnológica nas propriedades e frigoríficos, com a robótica reduzindo os custos e aumentando a produtividade.
“Estas inovações vão permitir um controle mais preciso sobre os processos produtivos e seus custos, para tomadas de decisão muito mais qualificadas e assertivas. Elas serão baseadas em dados coletados instantaneamente e tecnologias com o componente digital embarcado.”, disse Malafaia.
Com o crescimento da população urbana, haverá aumento na automação das atividades no campo para suprir a falta de trabalhadores. “A transformação tecnológica vai mudar completamente o perfil dos sistemas produtivos, sistemas inteligentes e isso vai demandar uma mão de obra cada vez mais qualificada”, complementou o coordenador do CiCarne.
Formar e reter trabalhadores qualificados na pecuária será um dos maiores desafios do setor, que exigirá profissionais capacitados em ferramentas mais avançadas, como a Internet das Coisas (IoT), a maior complexidade no manejo, técnicas de ILPF e o foco em gestão.
O estudo conclui que a concorrência com outras fontes de proteína forçará toda a cadeia a produzir melhor, e o maior grau de exigência do consumidor será um grande gatilho transformador da atividade.
O Brasil vai ocupar espaço no cenário internacional exportando desde genética a produtos altamente especializados e de elevado valor agregado. Também será reconhecido por uma pecuária de corte altamente tecnificada, profissional e competitiva e como uma referência global.
Segundo Malafaia, quem não quer ficar para trás neste processo precisa se capacitar e usar as tecnologias que já estão disponíveis: “O produtor deve buscar a orientação técnica e se capacitar em termos de gestão. Acima de tudo, é preciso entender que a empresa rural funciona dentro de uma mesma lógica que a empresa urbana. Os processos decisórios são os mesmos, o que muda é o grau de risco, que é muito maior no setor rural.”
Acesse aqui o estudo completo.
Entrevista bate-bola com o coordenador do Centro de Inteligência da Carne Bovina (CiCarne) da Embrapa Gado de Corte, Guilherme Cunha Malafaia: 1 - Uma mudança em sanidade bovina: Uso de insumos biológicos 2 - Uma tendência em biotecnologia: Edição gênica 3 - Uma tendência no manejo de pastagem: Sistemas rotacionados 4 - Uma área com avanço em bem-estar animal: Conforto térmico 5 - Uma prática sustentável obrigatória: Manejo de pastagem e recuperação de áreas degradadas 6 - Uma tendência para os frigoríficos: Produto cada vez mais natural 7 - Um diferencial para consumidores exigentes: Rastreabiliade dos processos (conhecer a história total do produto) 8 - Uma tendência na exportação de carne: Pegada ambiental 9 - Um avanço na inovação digital: Metaverso 10- Um desafio para a gestão de pessoas: Reter mão de obra qualificada |