Reposição é a aquisição de bovinos para a entrada no sistema de produção para um novo ciclo, seja de recria, engorda ou recria e engorda.
Cada sistema de produção tem uma composição de custos, mas a reposição é a maior despesa naqueles que dependem da compra de animais, ou seja, que não trabalham com cria. Em geral, a participação da reposição nos gastos fica entre 55% e 65% do custo de produção.
Sendo o maior componente de custo, fica clara a relevância do assunto e como isso impacta o resultado do produtor. A reposição é a matéria-prima da produção desses sistemas que não produzem bezerros.
Como funciona a relação de troca
Relação de troca é a associação entre o preço de venda e a categoria que será comprada para continuar o sistema.
Por exemplo, em um sistema de recria e engorda, o produtor vende bois gordos e compra bezerros. A relação de troca é a quantidade de bezerros que podem ser comprados com a venda de um boi gordo. Perceba que o peso do animal terminado vai influenciar a relação, ou seja, um boi gordo com peso 10% maior terá valor equivalente a 10% mais bezerros.
Esse ponto demonstra o efeito do peso ao abate na capacidade de compra de reposição. Um bovino mais pesado tem receita maior, e isso melhora a relação de troca. Na média de 2019, considerando preços do bezerro de doze meses e do boi gordo em São Paulo, a venda de um boi gordo de 18@ permitiu a compra de 1,9 animal de reposição, enquanto a venda de bois com 20@ permitiu a compra de 2,2 bezerros.
Aqui cabe um destaque importante de que, embora bovinos mais pesados gerem mais receita, não é regra que isso aumenta o lucro. A avaliação da estratégia do peso de venda deve ser feita conhecendo os custos da propriedade.
Por isso, a depender da análise, também é usada a relação de outra forma, que calcula quantas arrobas de boi gordo são necessárias para a aquisição de um bovino de reposição. Considerando esse parâmetro, a média em 2019 foi de 9,3@ de boi gordo para a aquisição de um bezerro de doze meses em São Paulo. Para o boi magro (360 kg), a relação média foi de 13,3@.
Na média do ano, ambas as relações ficaram próximas da média dos últimos cinco anos, embora ao longo desse período existiram momentos de troca apertada (bezerro e boi magro relativamente caros), como pode ser observado na figura 1.
Figura 1.
Relação de troca: arrobas de boi gordo por bezerro de doze meses em São Paulo e média do ano.

Fonte: Scot Consultoria
No final de 2019, a valorização do boi gordo em ritmo mais forte que a reposição melhorou a troca. Entre outubro e novembro, houve redução de uma arroba na relação de troca, ou seja, uma arroba a menos de boi gordo para a compra de um bezerro.
Entre outubro e novembro de 2019, a relação com o boi magro melhorou em 1,6@, passando de 13,4 para 11,8 arrobas de boi gordo por boi magro.
Qual o melhor momento para repor o gado vendido?
A venda da boiada é o momento final de um ciclo de recria e engorda, em que a receita chega, mas também há a necessidade de reposição daquele lote para continuar a produção. Essa é uma etapa na qual muitos produtores ficam em dúvida em relação à aquisição de animais para reposição: se compram o quanto antes ou aguardam um pouco mais.
Um exemplo é o que observamos no último trimestre de 2019: com o boi gordo em alta, os preços da reposição também estavam valorizados. Isso deixou muitos produtores na dúvida sobre o que fazer.
Obviamente, não há receita de bolo, mas, em geral, a indicação é realizar a troca o quanto antes. Isso porque, se o gado for vendido em momentos de alta e o dinheiro não for investido em arrobas, pode-se perder poder de compra, uma vez que os preços dos animais para reposição e o boi gordo têm forte correlação.
Em um momento de preços em queda, poderia até ser interessante esperar um pouco para a compra de reposição, mas qualquer espera no mercado é agregar risco, além do fato de que quanto antes o gado entrar no pasto, antes estará produzindo.
Expectativas do mercado de reposição para 2020
A tendência é de preços firmes para o boi gordo ao longo de 2020, com a demanda doméstica e para exportações colaborando.
Com isso, é esperado que o poder de compra de reposição continue melhor que em meados de 2019. O cenário não deve ser de queda para reposição, mas o boi gordo, provavelmente firme, deve manter o cenário de troca melhor.
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Autor: Hyberville Neto – médico-veterinário, msc.