Coprodutos proteicos para uso na alimentação de gado de corte
Regionalmente, muitos coprodutos estão disponíveis para a suplementação em pasto e sistemas mais intensivos de produção de bovinos, como o semiconfinamento ou confinamento.
Regionalmente, muitos coprodutos estão disponíveis para a suplementação em pasto e sistemas mais intensivos de produção de bovinos, como o semiconfinamento ou confinamento.
A produção de gado de corte tem como base as pastagens e, nessas condições, geralmente há necessidade de suplementação proteica ou energética (para várias categorias, em diferentes fases do ciclo de produção), para que níveis economicamente viáveis de produtividade sejam alcançados.
Para um rebanho criado em pastagem, duas respostas positivas vão ocorrer quando adotamos uma suplementação proteica adequada: o aumento da digestibilidade e do consumo de forragem.
Aqui vamos destacar o uso de dois coprodutos da industrialização do milho, o DDG (grão e solúveis de destilação) e o farelo de glúten de milho, e também os coprodutos da industrialização do algodão, o caroço e o farelo.
Os grãos e solúveis da destilação do etanol de milho contêm a proteína, a fibra, os minerais e o óleo do grão após o amido ter sido fermentado.
O DDG é um alimento rico em energia, proteína, extrato etéreo e enxofre (observar a tabela 1 abaixo). Uma característica importante do DDG é o alto teor de proteína não degradável no rúmen, muito superior aos outros alimentos abordados aqui, o que pode ajudar em formulações nas quais necessitamos de mais proteína metabolizável para os animais.
Em função do alto teor de óleo (extrato etéreo) e de enxofre, o DDG tem limitação de inclusão em dietas de bovinos de corte (ver a tabela 2). O uso de DDG para gado de corte deve observar as recomendações do National Research Council (NRC), de 2016, que estabelece os teores máximos de enxofre e extrato etéreo na dieta em 0,4% e 7,0%, respectivamente.
O processo de secagem do DDG pela indústria é fundamental para manter a qualidade da proteína desse alimento.
Na compra do DDG, é importante avaliar a coloração do material, pois pode indicar como foi o processo de secagem. Se o material apresentar uma coloração caramelo muito escuro, pode ter ocorrido o uso de temperatura acima da recomendada ou excessivo tempo de exposição, o que produz a complexação de parte da proteína, ou seja, reduzindo sua disponibilidade para o organismo.
O farelo de glúten de milho 21 é um coproduto, composto pela parte fibrosa do grão de milho, parte do germe e parte do glúten, com quantidades reduzidas de amido e frações proteicas solúveis, resultantes do processamento por via úmida desse grão.
O FGM 21 contém cerca de um terço do amido do milho, é rico em energia, proteína e fibra solúvel, e pobre em cálcio, conforme pode ser observado na tabela 1.
É um alimento altamente palatável, de alta qualidade, podendo ser usado na formulação de suplementos e rações, substituindo o milho e o farelo de soja ao mesmo tempo.
Os níveis de inclusão ou fornecimento do FGM 21 variam em função da situação (ver a tabela 2). No caso de uso exclusivo, em suplementos para animais em condições de pastagem, não há risco de ocorrência de acidose ruminal¹ em função do baixo teor de amido quando comparado ao milho.
Um cuidado importante, ao adquirir esse alimento, é a avaliação da coloração, que pode variar de amarelo a um tom caramelo, porém, se for excessivamente escuro, pode indicar um excesso de temperatura ou tempo de exposição durante a secagem na indústria. Se isso ocorreu, haverá uma redução na qualidade da proteína do FGM 21.
O caroço de algodão é um coproduto do processamento do algodão para produção de fibra. A semente (caroço) pode ser utilizada para extração de óleo ou usada na alimentação de ruminantes. Ele tem tido um amplo uso na alimentação de bovinos, mas muitos ainda têm dúvidas ou o utilizam de maneira incorreta. É um alimento com características únicas, pois é rico em energia, proteína, extrato etéreo (óleo) e em fibra (ver mais na tabela 1).
Uma das vantagens do caroço de algodão é que pode ser usado integral, sem necessidade de processamento. No entanto, pode ocorrer baixa ingestão no início do fornecimento e, por esse motivo, recomenda-se a mistura com alimentos mais palatáveis como milho, por exemplo. Os níveis de uso do caroço de algodão são mostrados na tabela 2, logo abaixo.
Apesar das várias qualidades, o uso do caroço de algodão requer alguns cuidados. Devido ao alto teor de extrato etéreo (20%) e de gossipol livre² (aproximadamente 7000 mg/kg) há limites para a sua inclusão na dieta ou em formulações de rações (Tabela 2).
Mesmo considerando que a maior parte do gossipol livre é degradado no rúmen, os níveis máximos seguros em dietas para bovinos de corte são de 200 mg/kg de Massa Seca (MS) para animais jovens e touros e 500 mg para outras categorias.
Em relação ao farelo de algodão, que é usado há mais de 100 anos na alimentação de bovinos, não há restrições de inclusão na dieta, pois a concentração de gossipol livre é muito inferior à do caroço.
No farelo, o teor de gossipol livre normalmente fica entre 60 e 600 mg/kg, sendo maior nos farelos com 28% de Proteína Bruta (PB) do que nos farelos com 38%. A definição da quantidade a ser usada ou percentual na dieta, dar-se-á pela formulação desejada e pelo custo-oportunidade.
Os animais só devem receber tanto o caroço como o farelo de algodão depois de apresentarem o rúmen completamente desenvolvido.
Apesar da fama de prejudicar a reprodução, mais em machos do que em fêmeas, normalmente não há problemas quando o fornecimento fica dentro do recomendado (conforme informado na tabela 2). Porém, como medida de segurança no manejo, recomenda-se que, no caso de touros, seu fornecimento seja suspenso 90 dias antes de os animais começarem a servir.
Outro cuidado é com relação ao armazenamento, nesse caso, o caroço de algodão deve ser armazenado com teor de umidade abaixo de 14%, em locais protegidos, pois o risco de combustão quando é armazenado com teores mais elevados é muito grande.
Além dessa questão, o armazenamento do material com teor de umidade mais alto favorece o desenvolvimento de bolor e o aparecimento de aflatoxina, que deve ser uma preocupação.
Tabela 1
Composição química dos alimentos
Tabela 2
Limites de inserções dos alimentos concentrados na dieta de bovinos.
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Antonio Ferriani Branco possui graduação em Zootecnia pela FCAV-UNESP Jaboticabal, mestrado e doutorado pela FCAV-UNESP Jaboticabal e doutorado pela University of Kentucky, na área de produção e nutrição de ruminantes, pós-doutorado pela Pennsylvania State University na área de nutrição de ruminantes.