O pico de produção de leite foi registrado em dezembro último, nas principais bacias leiteiras do Brasil Central e da região Sudeste do Brasil.
Apesar da maior oferta de matéria-prima (leite cru), é importante destacar que os incrementos foram menores comparativamente com as variações médias históricas para o período. Por exemplo, em novembro/19, o Índice Scot Consultoria de Captação de Leite registrou um aumento de 0,9% na produção (média nacional) em relação ao mês anterior, e em dezembro/19 o incremento foi de 0,6%, frente a novembro/19.
Para uma comparação, nos últimos anos, a produção nacional cresceu entre 2,0% e 2,5% ao mês nesse período.
Os atrasos das chuvas no início da estação chuvosa, o aumento dos custos de produção no segundo semestre do ano passado (destaque para o milho) e as margens mais apertadas para o produtor, devido às quedas nos preços do leite, refletiram em menores investimentos na atividade e, consequentemente, impactaram a produção.
Ainda do lado da oferta, o cenário está mais ajustado também no Sul do país, mais especificamente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, onde a falta de chuvas e o calor intenso no final de 2019 e começo de 2020 prejudicaram as condições das pastagens e as lavouras de milho.
Com isso, a expectativa é de queda mais forte na produção de leite em janeiro e nos meses seguintes, já que as perdas na produção de milho vão impactar, além da oferta do grão, a produção de silagem para os animais.
Consumo interno
A associação de desemprego em queda com o crescimento econômico e sem inflação elevada corroendo o poder de compra da população desenham um cenário promissor para o consumo doméstico.
Existe também a possibilidade de o Brasil aumentar as exportações de leite em pó e queijos, criando um canal de escoamento da produção para a China, fato que poderá ajudar na sustentação dos preços no mercado interno.
A abertura do mercado egípcio e o acordo entre o Mercosul e a União Europeia também podem trazer oportunidades do lado das exportações. O aumento das exportações brasileiras de produtos lácteos vai depender, é claro, das negociações e da competitividade dos produtos lácteos nacionais no mercado internacional.
Outro ponto importante é que o dólar em patamar elevado deve diminuir as importações de leite em pó em 2020, sendo esse mais um fator positivo para a cadeia leiteira.
A preocupação é com relação aos custos de produção, especialmente com a alimentação (milho e farelo de soja), em função das altas de preços e peso maior no bolso do produtor em 2020 e nos dois anos seguintes.
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Preços ao produtor
Diante dos fatores apresentados, ou seja, de oferta mais ajustada e incremento da demanda, para 2020, a expectativa é de valorizações mais fortes no preço ao produtor no primeiro semestre, em relação à variação verificada na entressafra em 2019.
Para uma comparação, de janeiro a junho de 2019, o preço do leite (média nacional) subiu 12,1% frente a uma média de 20,5% de alta, nesse mesmo período, nos últimos cinco anos.
Este ano, as altas no preço do leite ao produtor deverão ficar mais próximas da valorização média dos últimos anos.
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Autor: Rafael Ribeiro de Lima Filho – zootecnista, msc.