Autor: Henrique Campos, engenheiro agrônomo, doutor em tecnologia de aplicação de pesticidas, Consultor da Sabri – Sabedoria Agrícola.
Os herbicidas são importantes ferramentas para o controle de plantas daninhas em pastagens. Entretanto, o mesmo nível de importância deve ser dado ao modo como ele é aplicado, em especial à deriva que pode ocorrer durante a aplicação.
A deriva de herbicidas é uma fonte de contaminação ambiental, classificada em deriva de vapor e deriva de partículas.
A deriva de vapor ocorre quando as moléculas do herbicida que se estabeleceram previamente em uma área aplicada se deslocam para o lado de fora da zona de tratamento na forma de vapor.
Isto ocorre para alguns ingredientes ativos semi-voláteis, quando as condições meteorológicas são propícias à volatilização, como em situações de inversão térmica mais acentuada, principalmente quando a temperatura está elevada após ocorrerem chuvas.
Já a deriva de partículas é provocada pelo movimento de arraste de gotas pela ação do vento e pela deposição de gotas fora do alvo, devido à técnica de aplicação.
As condições meteorológicas consideradas “ideais” para a aplicação de herbicidas são de temperaturas abaixo de 30°C, umidade relativa do ar maior que 50% e ventos presentes com velocidade entre 3 km/h e 10 km/h.
As aplicações de herbicidas, quando feitas em condições inapropriadas do equipamento aplicador e das condições meteorológicas, podem resultar em perda de até 50% do produto, via evaporação, escorrimento e interceptação por não-alvos.
A manutenção da produtividade e da rentabilidade das pastagens é muito dependente do uso de herbicidas.
No entanto, seja na pulverização terrestre ou aérea, o sucesso no tratamento fitossanitário depende não somente de produtos de ação comprovada, mas também da tecnologia desenvolvida para sua aplicação.
Visto o dinamismo e a complexidade que envolve o processo de aplicação de produtos fitossanitários, em que há oportunidades de perdas de ingrediente ativo, o maior desafio para se conseguir a resposta biológica esperada de um herbicida é produzir o espectro de gotas ideal para cada mistura ou tipo de produto.
Na figura 1 está um esquema que representa as etapas do processo de aplicação de produtos fitossanitários, do equipamento até o alvo biológico.
Figura 1.
Roteiro do processo de aplicação de produtos fitossanitários, do equipamento até o alvo biológico, identificando pontos de possíveis problemas nesse processo.
O processo de fragmentação de um líquido em gotas é chamado de pulverização. A gota formada durante este processo é o veículo de transporte do ingrediente ativo desde o momento em que se forma até atingir o alvo.
As gotas podem ser formadas por pressão, forças centrífugas, cisalhamento de ar, vibração ou cargas eletrostáticas, sendo resultado da interação entre a ponta de pulverização e a calda fitossanitária.
Se produzidas gotas de diâmetro pequeno, aumenta-se as chances de melhor cobertura do produto aplicado sobre o alvo, mas estas gotas são mais facilmente arrastadas pelo vento.
Gotas de maior diâmetro podem mitigar os riscos de deriva pelo arraste de gotas com o vento, porém, diminuem a cobertura e podem prejudicar a retenção e a formação de depósitos nas folhas em função do escorrimento, ricocheteio e cisalhamento das gotas.
Com a adição de adjuvantes¹ na calda fitossanitária algumas alterações no espectro de gotas podem ocorrer. Essas alterações tendem a minimizar os riscos de deriva durante a aplicação.
Os herbicidas, em suas composições, possuem ingrediente(s) ativo(s) e componentes inertes. Estes “inertes”, se caracterizam por adjuvantes com a finalidade de aumentar a eficiência da resposta biológica do herbicida na planta e, em alguns casos, reduzir a deriva nas aplicações.
Em alternativa à aplicação terrestre, a aplicação aérea pode ser mais eficiente dado o seu maior rendimento operacional. Porém, quando o uso desta técnica não é realizado de forma correta, todo esse rendimento operacional é desperdiçado e o resultado da aplicação pode ser menos eficiente do que a aplicação terrestre.
Nas aplicações aéreas de herbicidas as pontas de pulverização de energia hidráulica são as mais utilizadas, as quais formam um jato plano e geralmente trabalham com pressões entre 100 kPa e 400 kPa para aplicação de volumes de calda entre 30 l/ha a 50 l/ha.
A formação de gotas com estes modelos de pontas é bastante desuniforme, dificultando muitas vezes uma aplicação eficiente devido ao potencial de deriva.
Vale ressaltar que a deriva está diretamente relacionada com o espectro de gotas formado no processo de pulverização.
Portanto, torna-se necessária a realização de protocolos, procedimentos operacionais padrão e avaliações com validade científica de pontas, misturas de tanque entre adjuvantes e herbicidas ou quaisquer outras tecnologias que possam melhorar a qualidade de aplicação.
Com técnica, conhecimento e inovação será possível, em um futuro próximo, atender às particularidades das aplicações de herbicidas em pastagens, onde há um grande potencial de melhoria.