
O ano de 2021 foi marcado por acontecimentos no mercado internacional de fertilizantes que impactaram os preços praticados no mercado brasileiro.
A China e a União Europeia enfrentaram uma crise energética com a menor oferta de carvão mineral e desabastecimento de gás natural, cenário que permanece com o conflito e as ameaças de cessar a oferta de gás natural por parte da Rússia.
Além da menor produção por conta da crise, países como China, Egito e Turquia estabeleceram restrições às exportações do insumo para garantir o abastecimento do mercado interno.
Belarus sofreu sanções econômicas para a exportação de fertilizantes e petróleo pelos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido e, neste momento, estão ligadas diretamente ao conflito, mantendo a produção de fertilizantes limitada.
O mercado iniciou indefinido no ano de 2022, com o crescimento do número de infectados pela Covid-19 e o risco de novas medidas sanitárias, o que reduziria a produção de fertilizantes, mas as tensões entre a Ucrânia e a Rússia protagonizaram o último mês.
Com o desenrolar do conflito, a exportação russa de fertilizante ao Brasil foi suspensa, impactando a disponibilidade e os preços do produto no mercado nacional, já que 23,3% das despesas com a importação, em 2021, foram com fertilizantes originados na Rússia.
Preços dos fertilizantes em alta
A menor oferta de fertilizantes no mercado e a demanda aquecida no Brasil para a safra 2021/22 resultaram em preços firmes no decorrer de 2021 e a expectativa, após o início da guerra, é de que se mantenham firmes em 2022.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o custo com fertilizantes por saca de soja em Sorriso-MT, subiu de R$16,04, em janeiro/20, para R$37,86, em janeiro/22, apresentando uma alta de 136%.
Para o milho de primeira safra o cenário é o mesmo: o custo por saca passou de R$6,98, em janeiro/20, para R$22,76, em janeiro/22. Em Ponta Grossa-PR, o aumento foi de 226%.
O cenário de preços dos fertilizantes em fevereiro (no período pré-conflito entre Rússia e Ucrânia) era de preços mais frouxos, com quedas para os insumos potássicos, fosfatados e nitrogenados na comparação mensal (figura 1). O dólar em queda frente ao real foi o principal fator de recuo das cotações.
Na segunda quinzena de fevereiro, considerando ainda o período anterior à guerra, as cotações dos fertilizantes potássicos, fosfatados e nitrogenados caíram 0,6%, 1,8% e 4,8%, respectivamente, no comparativo quinzenal, enquanto os fertilizantes formulados subiram 0,6%, segundo levantamento da Scot Consultoria.
Figura 1.
Preços médios mensais de fertilizantes nos últimos 24 meses, em reais por tonelada, sem o frete, em São Paulo.
- Fonte: Scot Consultoria
Já em março, grande parte das revendedoras de fertilizantes brasileiras suspenderam as vendas visando à adequação ao novo momento vivido, causando escassez de produtos no mercado e, com isso, preços acima da referência foram noticiados.
Demanda nacional
O Brasil demandou mais adubo em 2021. Segundo dados da Agência Nacional para Difusão de Adubos (ANDA), foram entregues 42,54 milhões de toneladas de fertilizantes de janeiro a novembro, alta de 2,04 milhões de toneladas frente à quantidade total entregue em 2020 (figura 2).
Figura 2.
Volumes mensais de fertilizantes entregues no Brasil, em 2020 e 2021, em milhões de toneladas.
Fonte: ANDA / Elaboração: Scot Consultoria
O Brasil é dependente da importação de fertilizantes em razão da sua produção ser insuficiente para atender a demanda. A produção nacional em novembro/21 foi de 590,5 mil toneladas, totalizando 6,32 milhões de toneladas no acumulado do ano, o que representa 14,9% do volume total entregue (ANDA).
O aumento da área prevista para as principais culturas na safra 2021/22, a produção nacional de fertilizantes insuficiente e o maior uso de tecnologia por parte do agricultor capitalizado, refletindo na expectativa de aumento da produtividade, corroboram o aumento da demanda interna por fertilizantes.
As estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em março/22, para a produção brasileira de grãos na safra 2021/22 é de 256,13 milhões de toneladas.
Com a expectativa de aumento de 4,5% na área plantada, alcançando 69,3 milhões de hectares, a demanda por fertilizantes no mercado doméstico deverá seguir aquecida em 2022.
Expectativas para o mercado nacional e internacional em 2022
Assim como em 2021, o mercado interno tende a permanecer firme em 2022, por conta da guerra, pelas sanções econômicas impostas aos países produtores de fertilizantes e pelo risco de desabastecimento de gás natural e combustíveis na Europa.
Não se espera um desabastecimento no Brasil entre as safras 2021/22 e 2022/23, que começa a ser semeada no terceiro trimestre, segundo a ministra da Agricultura.
O governo pretende lançar o Plano Nacional de Fertilizantes, visando ao aumento dos investimentos na produção nacional e redução da dependência da importação.
A desvalorização do dólar frente ao real, chegando ao patamar dos cinco reais necessários para a compra de um dólar, pode impedir altas mais expressivas caso o abastecimento e a logística sejam normalizados.
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Raphael Rando Poiani – zootecnista
Scot Consultoria