
Engenheiro agrônomo, atual presidente da Associação Nacional de Pecuária Intensiva (Assocon), membro da Comissão Nacional de Pecuária de Corte da CNA e membro da Câmara Setorial da Carne Bovina do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), Maurício Vellloso, 60 anos, é pecuarista desde 1984. Hoje, faz um resumo do que foi 2020 e do que esperar para 2021 da agropecuária brasileira. Confira a seguir!
Como foi 2020
O ano passado foi marcado por um elevado preço da arroba do boi. Houve falta de animais para abastecer o mercado doméstico, que estava enfraquecido em virtude da crise provocada pela pandemia. O principal motivo que explica a falta de animais foi o ciclo pecuário e a escassez de chuvas nos principais polos produtores do país.
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A nova palavra de ordem, “fique em casa”, aumentou e valorizou o consumo de alimentos do setor agropecuário. “No decorrer da pandemia, o setor contou com a falta de muitos insumos; da noite para o dia, tudo inflacionou. Com isso, o produtor não teve muito tempo de saborear a alta da arroba, porque os novos custos de produção vieram de forma avassaladora e pegaram muitos pecuaristas de surpresa”, afirma Velloso.
Já as exportações de carne bovina se mantiveram firmes e com um crescimento global elevado no volume, especialmente para o mercado chinês.
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Para Velloso, em 2020 muitas tecnologias se consolidaram e as novas formas de se comunicar vieram para ficar. “No ano passado, precisamos adaptar as nossas reuniões, as avaliações de compra e venda. Os monitoramentos e as análises dos animais foram feitos via satélite, e as recomendações agrícolas também mudaram. Diante de tudo isso, essas tendências permitiram uma economia muito grande, não só de dinheiro, mas de tempo, principalmente fazendo com que os negócios e algumas relações acontecessem de forma mais célere e mais focada”, reforça o engenheiro.
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Consumo durante a pandemia
A valorização das refeições em casa e em família foi uma das coisas que fomentaram a alta generalizada no preço dos alimentos básicos de consumo dos brasileiros, como arroz, feijão, carnes e frutas.
Velloso explica que o crescimento das exportações de produtos, a alta do dólar e a maior demanda interna foram os principais fatores que geraram o aumento dos preços nesse setor.
Qualidade e sustentabilidade
O Brasil tem um dos maiores rebanhos comerciais de bovinos do mundo. Depois de muitos esforços para conquistar o mercado internacional, tornou-se um dos maiores exportadores de carne do tipo. Esses, afirma o profissional, são fatores que colocam o país em uma posição importante para alimentar o mundo com proteína segura e de alta qualidade.
Nesse contexto, o país está localizado estrategicamente na produção de bovinos para atender às rígidas exigências dos consumidores, com condições climáticas e vegetação adequadas e abundância de água e pastagens, que contribuem para a competitividade em termos de custos produtivos.
Para Maurício, nenhum outro local se compara ao Brasil quando o assunto é qualidade, volume, preço e sustentabilidade pecuária.
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Ciclo pecuário
Atualmente, estamos no ciclo de alta de preços de vacas e bezerros. Os valores das categorias de reposição sofreram reajustes anuais acima da média em todo o país, o que leva à retenção de fêmeas, aumentando a produção de bezerros e, consequentemente, a uma maior disponibilidade de ofertas para os recriadores em médio prazo.
“Como diz Rogério Goulart, “quem dá preço ao boi é a vaca!”. Eu concordo completamente com essa frase, ou seja, é a oferta de vacas ao mercado que vai inverter o ciclo pecuário. Se isso vai acontecer em 2021 ou 2022, nós não sabemos. Não podemos dizer isso agora, porque tudo depende de como todo o mundo vai reagir ao pós-pandemia. Uma coisa é certa: hoje, aqui no Brasil, estamos vivendo um aquecimento extraordinário na economia”, enfatiza Velloso.
Dica de ouro
Segundo dados recentes da Embrapa, o Brasil perde em média 60% da pastagem que produz. Para Velloso, esse percentual é absurdo se comparado com o da Nova Zelândia, que aproveita mais de 90% de seu pasto. Diante desses números, esse aspecto precisa e deve ser valorizado. “Precisamos aprender e entender que pasto é o que há de melhor nas nossas fazendas, mas isso só será possível se estiver bem cuidado.”
Para os pecuaristas, produtores rurais e fazendeiros, a orientação do engenheiro agrônomo para 2021 é que eles olhem cada vez mais para suas fazendas, em especial para o pasto.
“Valorize o pasto que você já tem, preste atenção nele. Não se trata de reformar a pastagem, mas trata-se de cuidar, verificar se está tendo um pastejo homogêneo, se a pastagem está limpa. É preciso um manejo correto. Só o fato de manter as pastagens limpas praticamente triplica a rotação. Portanto, faça uma colheita precisa das folhas do pasto, faça a suplementação estratégica e a aferição permanente do que está sendo obtido desse manejo”, reforça.
“O alicerce da pecuária nacional é o pasto, mas infelizmente muitos pecuaristas acham que ele vai se redimir pelo custo da arroba do boi. Entretanto, não é esse o caso. É pelo custo da produção. Não é a suplementação, não é pasto novo e não é adubação que vão salvar o pecuarista, pelo contrário. Se o pecuarista não está dando conta de manejar a sua pastagem para mantê-la limpa, ele perde em todos os aspectos”, explica Maurício.
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Tendências do mercado
Para este ano, Maurício Velloso projeta um cenário positivo, por mais que a retração da oferta permaneça no início de 2021, a não ser que haja uma sinalização de preços mais convidativos aos pecuaristas. Em relação ao segundo giro, ele ainda vê um valor muito alto para a reposição, limitando o aumento da intenção e com uma oferta extremamente restrita de vacas e bezerros.
“Acredito em uma importante reação econômica brasileira, e, é claro, para isso, dependemos do restante do mundo. Com o dólar alto do jeito que está, e a tendência de continuar assim, é extremamente convidativo para o restante do planeta. Por mais que todos vivam a crise, o mundo precisa comer – e todos querem comprar o melhor alimento, o mais seguro e, evidentemente, pelo preço mais convidativo. Portanto, o Brasil sai na frente e é o único que tem essas condições”, finaliza Velloso.
O que você espera da agropecuária neste ano? Conte para a gente!