Autores: José Renato Silva Gonçalves – engenheiro agrônomo, doutor em ciência animal, administrador e pesquisador da Fazenda Figueira e estação experimental, Londrina-PR.
Laísse Garcia de Lima – engenheira agrônoma, mestre em ciência animal e pesquisadora da Fazenda Figueira e estação experimental, Londrina-PR.
A baixa produtividade das plantas forrageiras tem sido apontada como a principal responsável pela limitada competitividade da pecuária de corte, frente às demais atividades do agronegócio.
Grandes esforços são feitos na tentativa de encontrar soluções simplificadas, como seleção e melhoramento de novas plantas forrageiras; recomendações de correção e adubação de solos; tipos de pastejo e controle químico, entre outros.
Para a melhoria da produtividade, é necessário compreender e adotar técnicas capazes de aumentar a eficiência nas três principais fases de produção dos animais em pastagens, sendo que a soma dessas eficiências determinará o nível de produtividade a ser alcançado.
Figura 1.
Representação esquemática da produção animal em pastagens.
Fonte: Adaptado de Hodgson, 1990.
O crescimento do pasto depende da interação entre fatores de produção, principalmente clima e solo, com a planta forrageira escolhida. Por isso, a necessidade de plantas adaptadas às condições locais do projeto.
Após ser produzida, quando colhida durante o pastejo, o crescimento da forragem pode ser afetado, devido à remoção de partes produtivas da planta.
O estágio de crescimento da planta pode interferir na utilização do animal, uma vez que o consumo de forragem depende da estrutura do dossel forrageiro, principalmente com relação à densidade e profundidade das folhas.
Outro fator limitante é a presença de material lignificado, que também dificulta o consumo.
A complexidade desses fatores impõe ao animal o desafio de obter uma dieta de alta qualidade, em quantidade suficiente para atender suas necessidades nutricionais.
Após consumida, a forragem precisa ser convertida em produto animal para comercialização. Essa fase é influenciada pela quantidade e qualidade da forragem disponibilizada, fator diretamente ligado à eficiência obtida nos processos de crescimento e utilização, além da idade fisiológica e valor nutritivo característico da planta forrageira adotada no momento do pastejo.
A eficiência nessas fases de produção pode ser obtida através da adoção de manejos que tenham como objetivo maximizar a produção animal, através da oferta de forragem em quantidade e qualidade, sem afetar a persistência das plantas forrageiras.
Dessa forma, o manejo de pastagens tem como objetivo encontrar o ponto ótimo entre remoção e conservação de tecidos das plantas forrageiras durante o processo de produção animal. Ou seja, permitir a colheita da forragem produzida de forma eficiente, com maior valor nutritivo possível, mínimos de perdas por senescência, mantendo área foliar suficiente para assegurar a interceptação luminosa, para disponibilização de nutrientes para as plantas, visando atingir o balanço adequado para as exigências dos animais e plantas.
Independentemente do método de pastejo utilizado, é necessário definir metas para controle do uso dos pastos, com o objetivo de maximizar a produção animal sem degradar o pasto. Para isso, é necessário definir uma variável capaz de ser mensurada e que tenha relação com o uso da pastagem.
As variáveis normalmente utilizadas são interceptação luminosa; altura das plantas forrageiras e proporção de forragem disponível em relação aos animais a serem alimentados, também denominada oferta de forragem.
O entendimento e busca por eficiência nas diferentes fases do sistema de produção animal em pasto permitem ganhos significativos na produtividade, pois são capazes de aumentar a taxa de lotação e o desempenho individual.
Figura 2.
Produtividade em sistemas de produção de bovinos a pasto.
A taxa de lotação é função direta da capacidade de produção vegetal do pasto e eficiência com que os animais conseguem colher a massa de forragem produzida.
A produção de massa forrageira depende do potencial genético do material escolhido, competição com plantas daninhas e principalmente da disponibilidade de nutrientes e água.
É comum observarmos propostas de aumento da produção de massa das forragens apenas com a escolha de materiais mais produtivos. No entanto, independente do material genético escolhido, se não houver disponibilidade de nutrientes, não tem como a planta expressar o seu potencial produtivo.
Logo, a genética da planta forrageira define o potencial produtivo, enquanto o manejo é responsável pela expressão dessa característica.
A produção de massa forrageira pode ser estimada através do corte de uma área conhecida de pasto rente ao solo, normalmente quadrados (1 m²), com coletas em pelo menos oito pontos representativos por hectare.
A eficiência de pastejo depende do manejo adotado e de outras variáveis, tais como: tamanho do lote de animais; tamanho e formato dos pastos e distância do ponto de bebida, além da presença de material lignificado do capim e incidência de plantas daninhas.
Apesar do consumo de matéria seca ter mais impacto na produção animal do que as variações na disponibilidade dos nutrientes, o desempenho animal é função direta do consumo de matéria seca digestível, sendo observados maiores ganhos em sistemas que possuem pastagens com elevada disponibilidade de matéria seca e alta proporção de folhas.
O consumo diário de matéria seca de forragem de um bovino de corte é ao redor de 2% do seu peso corporal, podendo ser reduzido pela presença de restrições físicas e/ou valor nutritivo da forragem.
O consumo de forragem é maximizado quando a oferta é três a quatro vezes maior que a capacidade de ingestão do animal. Por outro lado, ofertas de forragem muito elevadas devem ser evitadas, pois reduzem a utilização da forragem produzida, gerando perdas excessivas, que diminuem a produtividade do sistema de produção.
Nas plantas forrageiras tropicais, as folhas são estruturas que apresentam maior qualidade nutricional e podem representar mais de 80% dos tecidos consumidos por animais em pastejo. Desse modo, para estas pastagens, é conveniente definir a oferta de matéria seca de lâminas foliares para estimar a capacidade de suporte das áreas de pastagens.
Nos ambientes tropicais, com grande disponibilidade de energia solar e chuvas, existe maior potencial para aumentar a produtividade através do aumento de lotação do que através do aumento do desempenho individual.
Porém, como as duas variáveis participam do cálculo da produtividade, é essencial que as técnicas de manejo adotadas sejam capazes de melhorar a eficiência nessas variáveis de acordo com a região em que o projeto se encontra, potencial genético das plantas forrageiras e animais utilizados.
Figura 5.
Efeito da lotação e do ganho de peso diário sobre a produtividade.
Os materiais forrageiros disponíveis no mercado, quando bem utilizados, têm potencial produtivo para alimentar mais de cinco cabeças por hectare, valor superior à média brasileira (1,2 cabeça/ ha).
Por outro lado, desempenho animal médio no ano, na ordem de 0,60 kg/cabeça/dia, proporciona um ganho corporal suficiente para abater um bovino macho com 480kg ao redor de dois anos de idade.
Assim, quando duplicamos ou até mesmo triplicamos a taxa de lotação das pastagens, ainda estamos longe de seu potencial produtivo, diferentemente do desempenho individual.
A gestão do projeto com adoção de tecnologias corretas aumenta a competitividade da pecuária de corte em relação às demais atividades do agronegócio, possibilitando a permanência dos produtores na atividade, o aumento da produção nacional de carne bovina e disponibilização de áreas em pastagens para as demais atividades do agronegócio.
Devido ao clima tropical e disponibilidade de áreas, sistemas de produção em pastagens podem ser a forma mais econômica e prática de produzir bovinos de corte no Brasil.
Excelente matéria parabéns
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