Quando a avaliação do sistema de produção demonstra a necessidade de recuperar uma área de pastagens, devemos observar as características climáticas da região e seguir os seguintes passos:
1. Controle de Plantas Daninhas Duras
São denominadas plantas daninhas duras aquelas que são de difícil controle com aplicação foliar, sendo necessário o corte e aplicação de herbicida no toco, após o corte da planta.
Como é uma operação que demanda mais mão de obra e pode ser feita quando a planta daninha está com reduzida atividade metabólica, podemos efetuar essa técnica durante os períodos secos do ano, inclusive com o objetivo de otimizar a mão de obra da propriedade, que normalmente é mais ociosa nessa época do ano.
2. Análise do Solo
A análise do solo tem como finalidade avaliar a concentração dos nutrientes no solo e, consequentemente, a sua fertilidade.
Com base nos resultados da análise de solo é possível recomendar as quantidades necessárias de calcário e adubo que serão aplicados, de acordo com o potencial produtivo desejado.
Quando as recomendações são feitas com base nos dados da análise de solo, a lucratividade do sistema é melhorada, pois os insumos serão aplicados na dosagem correta, sem sobras ou déficits.
Dessa forma, evita-se aumentos desnecessários nos custos de produção ou a redução da produtividade.
Para obter resultados confiáveis na análise é necessário proceder uma boa coleta de solo, sendo recomendado retirar amostras de 0 a 20 cm de profundidade, com uso de enxadão, trado ou sonda.
Os pastos devem ser analisados individualmente, através de coletas em ziguezague, amostragens de pelo menos 5 pontos por hectare (ha), que serão armazenadas em recipientes sem contaminações e homogeneizadas para posterior retirada de amostra composta.
3. Calagem
A calagem consiste na aplicação de calcário com o objetivo de neutralizar a acidez do solo e fornecer cálcio e magnésio para a planta forrageira.
A calagem é essencial para a recuperação do solo pois, em solos com pH próximos à neutralidade, verifica-se maior disponibilidade de quase todos os nutrientes que as plantas forrageiras necessitam. A calagem deve ter como objetivo elevar a saturação por bases (V%) para valores próximos a 70%.
O uso de adubações antes da correção do pH do solo reduz a eficiência no uso desses nutrientes (tabela 1), causando redução no aumento da produção e aumento do custo por quilo de matéria seca de pasto produzido.
Dessa forma, é essencial a correção da acidez do solo através da aplicação antecipada de calcário na área para potencializar a eficiência de ação no uso dos fertilizantes e garantir o retorno dos investimentos em fertilidade, já que estes possuem preços de aquisição maiores do que os do calcário.
Mesmo em condições ideais, ou seja, com umidade disponível, o calcário necessita de pelo menos três meses para que as reações químicas ocorram, realizando o efeito esperado na solução do solo. Essas informações demonstram que a aplicação de calcário tem que ocorrer com bastante antecedência à aplicação dos fertilizantes, sendo indicado realizar essa operação no final da estação chuvosa anterior ao período que será realizada a recuperação das pastagens.
4. Fosfatagem
Os solos brasileiros normalmente apresentam baixa disponibilidade de fósforo para as plantas cultivadas. A fosfatagem é a aplicação de fósforo no solo e é essencial para o aumento da produtividade das plantas forrageiras.
A fosfatagem só pode ser realizada após a correção da acidez do solo, pois em solos ácidos e com presença de alumínio, o fósforo sofre um processo de fixação formando compostos de baixa solubilidade, reduzindo sua disponibilidade para as plantas.
O fósforo é essencial para as plantas forrageiras pois faz parte de diversos compostos estruturais importantes: participa como catalizador de diversas reações bioquímicas; compõe as estruturas do DNA e RNA e participa do transporte de energia através do ATP, formado durante o processo de fotossíntese.
Para que a planta forrageira não tenha restrições à absorção é necessário que o nível de fósforo no solo esteja entre 6 e 12 mg/dm3 de solo. Essa variação é em função do nível de produtividade desejada e o teor de argila no solo.
Em solos onde os níveis de fósforo já estão próximos do ideal, a fosfatagem pode ser substituída pela aplicação de fósforo junto com as adubações de cobertura, através da utilização de fórmulas contendo nitrogênio, fósforo e potássio (NPK).
5. Controle de Plantas Daninhas Moles
São denominadas plantas daninhas moles aquelas que são de fácil controle com aplicação foliar. Normalmente são plantas de ciclo anual e apresentam aumento de população no início da estação chuvosa, principalmente em áreas degradadas e com baixa cobertura do solo pelas plantas forrageiras.
O seu controle deve ser efetuado no início da estação chuvosa, com o objetivo de reduzir a competição com as plantas forrageiras por água, luz e nutrientes. O controle das plantas daninhas moles permite a rebrota mais rápida das pastagens, refletindo em maiores produtividades e aumento da cobertura do solo, com consequente aumento da viabilidade econômica do controle.
Quando o controle é feito no início da estação chuvosa, a planta forrageira tem o seu potencial produtivo aumentado durante todo o período chuvoso, o que permite maior produção animal com consequente aumento de receita, melhorando a relação “custo/ benefício” da adoção da técnica.
6. Adubações de Cobertura
As adubações de cobertura têm como finalidade fornecer os nutrientes necessários ao aumento de produtividade das plantas forrageiras. Em situações onde a fosfatagem já foi realizada, as adubações de cobertura consistem na aplicação principalmente de nitrogênio e potássio.
O nitrogênio é o principal modulador da produção das plantas forrageiras, por isso, a dose a ser aplicada depende do nível de produtividade adotado no projeto. Os dados de pesquisas mostram que para aumentar a capacidade de suporte em uma unidade animal por hectare são necessários em média a aplicação de 30 a 60 kg N/ha.
As adubações de cobertura têm seus efeitos potencializados quando há umidade no solo e quando são realizadas imediatamente após o pastejo, com a retirada dos animais da área.
7. Manejo das Pastagens
A recuperação das pastagens é um processo caro, por isso, ao adotar esse tipo de investimento, é essencial melhorar a forma de manejá-las, com o objetivo de potencializar seus efeitos e reduzir a degradação das forragens.
Independentemente do método de pastejo utilizado, é necessário definir metas para controle do uso dos pastos, com o objetivo de maximizar a produção animal sem degradar o pasto, controlando a interface planta-animal, uma vez que alterações na estrutura do dossel podem causar modificações na composição da forragem consumida.
Para isso, é necessário definir uma variável capaz de ser mensurada e que tenha relação com o uso da pastagem. As variáveis normalmente utilizadas são interceptação luminosa; altura das plantas forrageiras e proporção de forragem disponível para os animais que serão alimentados, também denominada oferta de forragem.
8. Cronograma
A época que as operações serão realizadas está diretamente relacionada com as condições climáticas, por isso segue proposta de cronograma com exemplo de distribuição de chuvas (gráfico 1).
Gráfico 1.
Cronograma das atividades envolvidas no processo de recuperação das pastagens.