
O início de mês, com o pagamento dos salários, é um período típico de melhoria do escoamento de carne bovina, assim como de outras carnes e produtos. Não é difícil perceber a diferença das filas dos supermercados no quinto dia útil.
Com isso, é comum que a busca por boiadas pelos frigoríficos aumente no final de cada mês para o abate e envio da carne ao varejo, a fim de suprir tal demanda.
Sazonalidade dos preços ao longo do ano
Além desse movimento em cada mês, temos a sazonalidade de preços ao longo do ano, com cotações médias maiores no segundo semestre, especialmente no último trimestre.
Um dos motivos desse movimento é o rendimento da população, que aumenta com o período de contratações temporárias observadas em diversos setores. A indústria contrata mais para produzir e o comércio, para as vendas do período de festas. Além disso, há o recebimento de 13o salário e bonificações que também ocorrem nesta época.
A figura abaixo mostra a média da massa de rendimentos por mês. Perceba como o segundo semestre demonstra elevação nesse parâmetro, com pico no último trimestre.
Figura 1.
Massa de rendimentos, em bilhões de reais corrigidos pela inflação (valores reais), média mensal de 2013 a 2019.

Fonte: Ipeadata | IBGE | Elaboração: Scot Consultoria
Parte desse maior rendimento da população no fim do ano é convertida em consumo e colabora com as vendas no mercado doméstico.
A combinação de uma demanda crescente com um cenário de oferta de boiadas dependente de confinamento colabora com preços em alta. Veja na figura abaixo que, em média, o pico de preços do boi gordo ocorreu em novembro. Já para os cortes no atacado, a alta ainda se mantém em dezembro.
Figura 2.
Evolução média dos preços do boi gordo e dos cortes de carne bovina no atacado, considerando janeiro como base 100, no período de 2010 a 2019.

Fonte: Scot Consultoria
Podemos destacar outro momento de movimento típico, que é a saída de boiadas com o final das chuvas e queda da qualidade das pastagens, o que pressiona o produtor a realizar a venda. Assim, normalmente entre abril e junho, dependendo das chuvas no ano, aumenta a oferta de gado, pressionando as cotações.
Em dezembro, enquanto a cotação dos cortes no atacado segue em alta, na média, a queda do boi gordo ocorre porque as escalas de abate e a produção para o melhor consumo no fim de ano são definidas entre o fim de novembro e o começo de dezembro.
Após a carne ser produzida, a movimentação no atacado segue em bom ritmo até o período mais próximo das festas, enquanto os abates e a busca por gado já diminuem.
E para o final de 2020?
Com o cenário de oferta curta de boiadas e a sazonalidade, parece haver espaço para um mercado positivo neste último trimestre de 2020.
A ressalva é que a redução do valor do Auxílio Emergencial, somada ao desemprego ocasionado pela pandemia, pode amenizar o efeito positivo do período de fim de ano, mas isso ainda deve ser sentido.
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Hyberville Neto – médico veterinário, msc.
Scot Consultoria