Historicamente, as cotações do boi gordo obedecem a um ciclo de preços que oscila em duas direções; há períodos de baixa e de alta nas cotações.
Entender as variáveis que afetam essas oscilações e, consequentemente, a formação do preço da arroba do boi gordo, é fundamental para o planejamento estratégico da propriedade, tendo em vista que a pecuária de corte é uma atividade de longo prazo.
O primeiro ponto a ser observado é que as flutuações dos preços são provocadas pelo aumento ou pela diminuição da oferta de animais disponíveis para o abate. A oferta de machos destinados ao abate ao longo dos anos sempre é equilibrada, com oscilações de baixa amplitude. Dessa forma, quem define o aumento ou a diminuição substancial da oferta são as fêmeas.
Como publicado no artigo As oportunidades do ciclo de preços para o mercado de reposição, vimos que o resultado proporcionado pela cria é o que estimula a retenção ou o descarte de fêmeas para o abate.
Em períodos que as cotações do bezerro estão em baixa, a receita do criador se retrai e, com isso, um maior volume de fêmeas é destinado ao abate para “fechar as contas”. Esse movimento, a princípio gera um incremento de oferta de gado para abate e as cotações da arroba são pressionadas para baixo.
Com as cotações do boi gordo em baixa, o estímulo de recriadores e invernistas em investirem na reposição do rebanho fica reduzido. Essa menor demanda provoca queda nas cotações de animais de reposição e a atratividade pela cria se mantém em baixa.
Naturalmente o volume de fêmeas destinados ao abate mantém sua trajetória ascendente e as cotações da arroba do boi gordo seguem em queda.
Figura 1
Cotações da arroba do boi gordo, em São Paulo, em valores deflacionados pelo IGP-DI.

Fonte: Scot Consultoria
Essas fêmeas destinadas ao abate deixam de produzir bezerros e, consequentemente, há redução das demais categorias de reposição e menor oferta futura de boi gordo. Sendo assim, após alguns anos, há escassez de bezerros e menos novilhas para a reposição das vacas de descarte, e os preços para a reposição iniciam um ciclo de alta.
Com os preços do bezerro em alta a atratividade pela cria aumenta e as fêmeas que antes eram destinadas ao abate agora passam a ser retidas nas fazendas para a produção de bezerros, diminuindo ainda mais a oferta de animais para o abate, gerando aumento nas cotações da arroba do boi gordo.
Em períodos de alta nas cotações do boi gordo, recriadores e invernistas aumentam a procura por animais de reposição para ter matéria-prima (boi gordo) para fornecer às indústrias, e as cotações no mercado de reposição se elevam.
Figura 2
Cotações da arroba do boi gordo, em São Paulo, em valores deflacionados pelo IGP-DI.

Fonte: Scot Consultoria
Esse movimento permanece até a retenção contínua de fêmeas proporcionar uma oferta de bezerros maior do que o mercado pode absorver naquele momento, o que naturalmente gera redução nos preços do bezerro e se inicia um novo ciclo de baixa.
Diante dessa estrutura do ciclo de preços, fica evidente a alta correlação entre as cotações do bezerro e do boi gordo (figura 3).
Figura 3
Cotações da arroba do boi gordo e do bezerro de doze meses (7,5@) em São Paulo. Base 100.

Fonte: Scot Consultoria
Lições do ciclo de preços
Além de ser uma ferramenta de auxílio nas decisões, a observação do ciclo de preços retrata como a pecuária de corte está se comportando ao longo dos anos.
A duração do ciclo completo, que antes durava em torno de dez anos, diminuiu e hoje é de aproximadamente seis anos. Esse fenômeno é reflexo do aumento de tecnologia aplicada na pecuária.
Com a intensificação, a idade média de abate dos bovinos tem se reduzido, e os índices reprodutivos das matrizes melhoraram, permitindo maior produção de bezerros em menor espaço de tempo.
Produzir mais em menor tempo, além de acelerar o ciclo, auxilia na melhoria do resultado financeiro da propriedade, uma vez que devido a questões biológicas não é possível “quebrar” o ciclo.
Em períodos de baixa do ciclo, é interessante adquirir maior número de animais e elevar o estoque da fazenda para liquidá-lo no momento de alta, expandindo assim as margens.Já em períodos de alta, como o preço da cria se eleva e as margens diminuem, é interessante acelerar a engorda para se livrar do estoque “caro” e minimizar a pressão sobre as margens.
Conclusões
O mercado é dinâmico, com variações diárias e não está livre de acontecimentos externos que podem afetar diretamente o bolso do pecuarista.
Entretanto, em longo prazo, há uma tendência que se repete ao longo dos anos devido aos fundamentos de mercado, da oferta e da demanda.
Portanto, mais importante do que o preço da arroba amanhã é a tendência de preços para daqui a um ou dois anos, no momento em que a boiada for negociada. Ter um rumo para as estratégias é importante para as decisões de investimento.
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Autor: Breno de Lima – Zootecnista