Se o assunto é a história do berrante no Brasil, então, também temos que falar sobre o Tropeirismo. Você sabe por quê? Na época em que o Brasil era uma colônia de Portugal, período entre 1500 e 1822, existiam os tropeiros – condutores de mulas que comercializavam animais, principalmente mulas e cavalos, entre as regiões brasileiras Sul e Sudeste. Como as viagens eram longas, e os caminhos repletos de obstáculos naturais, os tropeiros começaram a usar o berrante para reunir, organizar e conduzir os animais. O instrumento funcionava como uma “conversa” com os animais e até entre os tropeiros, já que, em muitas situações, ficavam longe uns dos outros. E como isso era possível? O som do instrumento pode ser tão alto e forte que ecoa e chega a até três quilômetros de distância!
A prática de tocar berrante durante as travessias foi, então, inserida no Brasil pelo Tropeirismo e, posteriormente, adotada por boiadeiros e vaqueiros durante as comitivas, ou o chamado pastoreio, o transporte de gado. Parte da cultura brasileira, essa tradição representa o nosso folclore, está na memória das culturas sertaneja e caipira e continua forte até hoje pelas regiões brasileiras.
Tanto é que tocar berrante virou, inclusive, uma prática realizada em eventos e shows do segmento. Na tradicional e famosa Festa do Peão de Barretos, realizada anualmente no estado de São Paulo, por exemplo, há uma disputada competição para escolher o melhor berranteiro do Brasil, o chamado “Concurso Queima do Alho e de Berrante”.
Os primeiros modelos de berrante
Binga, guampa ou buzina. Dependendo da região brasileira, é dessa forma que as pessoas chamam o berrante. E você tem ideia de como eram feitos os primeiros modelos?
Antes de mais nada, é bom saber ou relembrar que o instrumento nada mais é do que a junção de chifres, com a ponta cortada (o chamado bocal), e com um orifício no meio. Segundo especialistas, é esse furo que vai mostrar o equilíbrio, o acerto e a afinação do som. Essas junções também são chamadas de emendas e podem ser feitas de três tipos de materiais: couro, chifre ou anéis de chifre.
Lá por 1910, existia uma raça bovina chamada Boi do Pedreiro cujos chifres podiam chegar a medir até um metro e meio de comprimento. Os primeiros berrantes foram feitos justamente a partir do chifre desse tipo de boi. Depois, surgiram os berrantes com anéis de prata, com os bocais medindo até 40 centímetros.
Como criar e conservar um berrante

Alguns estilos de berrantes, que podem variar de tamanho e material.
O primeiro passo para se criar um berrante é escolher o chifre adequado. Segundo especialistas, é necessário que o objeto tenha uma determinada curvatura e não seja muito fino. Em seguida, é a etapa do corte do chifre. Depois, deve-se colocá-los em água quente para que sejam amolecidos e moldados de forma correta. Só depois de frios é que os chifres são soldados com uma cola especial feita a partir do próprio pó dos chifres. É importante tomar cuidado com o encaixe deles para que o som não vaze. O bocal é moldado em torno da ponta do chifre, e as braçadeiras são usadas para reforçar as emendas.
Para não ressecar o instrumento, é recomendável limpá-lo com pano seco e hidratá-lo com azeite. E sempre carregá-lo nas mãos, nunca pendurado.
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Identificando os sons
Agora vamos ver se você é bom mesmo na cultura berranteira e se sabe identificar o que significam os principais tipos de toques feitos pelos berranteiros.
- Toque de Saída ou Solta – para despertar as pessoas e preparar a boiada para começar ou retomar a viagem.
- Toque Repicado – para os bois pegarem a marcha.
- Toque Solto – para despertar os bois, costuma ser um som mais longo.
- Toque de Estradão – considerado um dos mais bonitos, é ainda mais longo que o Toque Solto.
- Toque Queima do Alho – para avisar sobre o momento de alimentar o gado.
- Toque Rebatedouro – para avisar sobre situações de perigo, como um animal perdido ou algo pelo caminho.
- Toque Livre ou Floreio – para ser tocado de forma livre nas horas de lazer.
Conhece mais alguma curiosidade sobre o instrumento e costuma utilizá-lo na sua fazenda? Conte para a gente aqui no blog!