Blog •  06/02/2024

Em fevereiro, tem carnaval. Mas e para o mercado do boi?

Autor: Felipe Fabbri, zootecnista, Me.
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O mercado do boi gordo trabalhou moroso em janeiro. 

Com os vendedores retraídos e os compradores pouco ativos e escalas já posicionadas, os preços praticamente não andaram em São Paulo até a última semana de janeiro, apesar da pressão de baixa pela ponta compradora.

Com uma demanda por carne bovina mais fraca e uma retomada dos vendedores às negociações, os preços cederam no fechamento do mês. 

No mercado físico do boi gordo em São Paulo, a cotação de todas as categorias caiu em janeiro, com exceção do “boi China”. O boi comum encerrou o mês negociado a R$ 240,00/@, a vaca gorda em R$ 212,00/@ e a novilha gorda em R$ 230,00/@, preços brutos e a prazo. 

Com a movimentação, o ágio entre o “boi China” e o boi comum é de R$ 10,00/@, quadro que não ocorria desde outubro/23. A exportação está aquecida e colabora com esse cenário. Veja na figura 1.

Figura 1.
Cotação do boi gordo, em R$/@, preços brutos e a prazo, em São Paulo

Fonte: Scot Consultoria

Exportação encerra 2023 com recorde e começa 2024 aquecida

Os últimos meses de 2023 tiveram um recorte acelerado para os embarques de carne bovina in natura. 

Dezembro/23 foi recorde de exportação, considerando um único mês e, no acumulado do ano, foram exportadas 2,0 milhões de toneladas, 0,7% a mais que em 2022 – volume recorde.

A virada de ano trouxe uma manutenção dos bons volumes. Até a quarta semana de janeiro/24 foram exportadas 168,0 mil toneladas de carne bovina in natura — o volume já é recorde para um mês de janeiro. 

Os preços pagos pela carne bovina exportada, porém, não têm tido variações positivas e, no patamar que encerraram 2023 (US$ 4,73 mil/t), permanecem. 

Mercado de reposição e as oportunidades de janeiro

Janeiro foi marcado por movimentos díspares entre as praças no mercado de reposição (tabela 1). 

Tabela 1.
Preço do bezerro de ano, em R$/cabeça, em diferentes praças pecuárias

Fonte: Scot Consultoria 

A oferta de bovinos de reposição segue elevada, mas os efeitos do El Niño impactaram a condição das pastagens, principalmente no Brasil Central, promovendo um volume de negócios fraco.

Apesar dos negócios compassados, janeiro trouxe uma grande oportunidade ao recriador/invernista. Este foi o janeiro de menor dispêndio, considerando a quantidade de arrobas de boi gordo necessárias à compra de um bezerro de desmama (figura 2).

Figura 2.
Arrobas de boi gordo por bezerros de desmama para reposição entre os meses de janeiro

Fonte: Scot Consultoria

As melhores janelas de compra para bovinos de reposição devem começar a ficar pelo retrovisor daqui adiante, por isso é importante levar em consideração oportunidades que venham a surgir pelo radar.

Quais as perspectivas para o mercado do boi gordo em fevereiro?

Historicamente, o abate de bovinos é sazonalmente menor em fevereiro. E o preço? Historicamente, em termos nominais, é maior. Veja na figura 3.

Figura 3.
Variação (%) no preço nominal do boi gordo e dos abates de bovinos, em fevereiro, frente a janeiro

Fonte: IBGE / Scot Consultoria

O que isso nos mostra? O comportamento de preços para o boi gordo, ao menos em São Paulo, é, na maior parte dos anos, de alta para fevereiro, frente a janeiro. E, nos anos de retração, como 2012, 2017 e 2018, o comportamento é comedido. 

Ou seja, se a história repetir o passado, não devemos ter fortes emoções em fevereiro em relação aos preços no começo de 2024. 

Há a expectativa de que, em fevereiro, mais plantas sejam habilitadas a exportar para a China. Se isso se confirmar, devemos ver um mercado sustentado adiante, com o produtor, cujas pastagens permitirem, retendo a oferta em um momento com acréscimo de compradores dispostos a negociar por boiadas mais jovens. É esperar, para ver.