Blog •  20/11/2023

Pecuarista lidera grupo que fortalece liderança feminina no agro

Something went wrong. Please try again later...

Por meio do grupo As Fazendeiras, a pecuarista Érika Lira busca levar às mulheres a oportunidade de crescer e alcançar posições de liderança no agro

A intensa relação da pecuarista Érika Lira Chaves dos Santos com o agro começou ainda na infância. Nascida em Imperatriz (MA), ela tinha apenas 4 anos quando se mudou para a fazenda que se tornou o seu novo lar. Mas a menina da cidade não levou muito tempo para se adaptar àquela nova realidade.

“Amava acordar cedo, ir para o curral sem nem mesmo ter tomado o café da manhã. Passava quase o dia todo no pasto, ao lado dos vaqueiros, com bota e chapéu. Esquecia até de me alimentar, vivia magrinha e minha mãe ficava muito preocupada. Se meus pais deixassem, nem para a escola eu iria”, diz Érika.

A sinergia com o agro é um legado do pai, Olindo Chaves, que, segundo ela, “dormia e acordava” pensando no campo. Ela se recorda que na maioria das vezes o pai era muito sério, mas era feliz sorrindo e contando causos nas noites na fazenda, ao lado da esposa, Ageni Lira, dos filhos, dos vaqueiros e suas famílias.

“Ele tinha um encantamento pela fazenda, que não consigo nem descrever. Acordava de madrugada, vivia no pasto, amava levar o gado de uma fazenda para outra. Eu sentia a intensidade do amor dele pelo campo e pelas pessoas simples que faziam parte dessa realidade. A sua maior alegria era andar pela fazenda, respirar o campo.”  

E é esse respeito que Érika se empenha em passar para a próxima geração. No dia a dia da fazenda, ela busca ensinar para os filhos, Ulisses Chaves e Heitor Chaves, o que aprendeu com o pai: valorizar e respeitar o campo e o homem e a mulher simples da terra. “Meus filhos sabem que temos que trabalhar direito, pois dessa linda empresa chamada fazenda tiramos nosso sustento. Confio que, se trabalharmos com humildade e persistência, as gerações futuras também poderão viver da terra.”

Leia mais: Mulheres inspiradoras: a história das Irmãs Coragem da pecuária

Liderança feminina no agro 

Na cidade de Imperatriz, Érika comanda a Fazenda Campolina com determinação e muito trabalho. Ela concorda que a gestão feminina no agronegócio tem detalhes peculiares importantes para o agro.  “A mulher é dotada de um sexto sentido, que ajuda na tomada de decisão e na hora de definir o que é mais apropriado fazer naquele momento. Temos um olhar mais abrangente das pessoas. Creio que, por ser mulher, e também esposa, mãe e dona de casa, me importo muito com a vivência na fazenda em relação aos funcionários e terceirizados.” 

Esse toque feminino, que prioriza a boa convivência e o bem-estar, pode ser observado em cada detalhe planejado pela pecuarista. No galpão, que ela decora como uma sala, tem jogo de sofá, TV, revistas, livros e pebolim. É um espaço que serve para reuniões, cultos e atividades de lazer para os funcionários e suas famílias, com parquinho para as crianças se divertirem.  

O celeiro tem espelho e banco, e os currais são organizados e limpos com frequência. “Temos banheiro feminino e masculino e água gelada – que parece essencial, mas não vemos muito nas fazendas. Meu pai falava que o curral é a sala de estar da fazenda, então procuro que seja assim”, diz ela. 

Sustentabilidade e bem-estar animal também estão presentes. Caminhando pela fazenda, é possível ver o tronco eletrônico, a cerca elétrica, os painéis de energia solar e uma fábrica de ração, que produz a mistura de sal proteinado para o rebanho.  

Para auxiliar na gestão, Érika busca ter sempre à mão dados sobre a propriedade. São tecnologias que fornecem informações como controle do rebanho, meta de produtividade, planejamento das atividades e mapeamento da propriedade; além de informações sobre pastagens e planejamento nutricional. Ela também monitora a taxa de lotação e tem acesso à análise de resultados de cada produto utilizado. 

Como nem tudo são flores, Érika conta que já enfrentou situações de resistência de homens e também de mulheres em sua gestão, mas que soube lidar com profissionalismo e paciência.  “Uma vez tive que ‘dar as contas’ para um vaqueiro que não estava confortável em receber ordens minhas, ou seja, de uma mulher. Em outra ocasião, a esposa de um candidato a vaqueiro me disse que eu deveria mandar meu marido falar com o marido dela, pois homem conversava com homem e mulher com mulher. Claro que não o contratei, e eu e meu marido rimos da situação.”  

União das mulheres no agro 

A dedicação ao agro só aumentou depois que Érika passou a presidir o grupo As Fazendeiras, que incentiva a liderança feminina em cargos de gestão no agronegócio. Criado em 2018, o grupo começou com duas integrantes e hoje conta com mais de 200 mulheres, de vários estados e até de outros países. 

A iniciativa surgiu da necessidade de conhecer mais mulheres do ramo, e falar com elas de igual para igual, apoiando e encorajando-as a permanecer na atividade. Ela conta que muitas mulheres, ao ficarem viúvas ou perderem os seus pais, não se sentiam aptas para seguir com a propriedade rural, pois se achavam incapazes ou que era um meio machista. 

“Tentamos minimizar as diferenças, e como a ‘união faz a força’, penso que, se estivermos unidas num mesmo objetivo, mais politizadas, à frente de decisões, podemos trazer mais benfeitorias para as mulheres. Com o grupo, nos inteiramos mais sobre o dia a dia do mercado e somos sempre lembradas que ‘Você não está só’ no ramo, frase que é o nosso slogan”, afirma.  

Conquistas das mulheres fazendeiras 

A partir da união das fazendeiras, que participaram mais ativamente do Sindicato Rural de Imperatriz (Sinrural), Érika ocupa hoje, junto com a pecuarista Leda Resende, o cargo de diretora da Mulher Fazendeira no sindicato, função que não existia. Ali, ela auxiliou a implantação do espaço Fazendinha Kids, dentro da Exposição Agropecuária de Imperatriz (Expoimp), a maior feira agropecuária do Maranhão. O espaço promoveu a interação entre crianças e o agro, e, junto com seus familiares, contribuiu para o público da cidade conhecer mais da área rural.

O Projeto Seguindo em Frente é outra iniciativa importante do grupo. Ele oferece à produtora, gratuitamente, orientação do diagnóstico e técnicas para auxiliar na tomada de decisão.  “Este projeto tem tudo a ver com um dos nossos pilares, que é fortalecer o conhecimento da mulher rural. O técnico conversa com a produtora, conhece suas dificuldades, analisa o potencial da fazenda e a auxilia a melhorar seus índices de rendimento em colheita, produção e desempenho de gestão.”

Além de trazer palestrantes para eventos promovidos pelo grupo, As Fazendeiras participam de eventos de parceiros e empresas do agro. Em 2019, a convite da Corteva Agriscience, Érika esteve no 4º Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio (CNMA), em São Paulo, e participou das ações desenvolvidas pela companhia no evento, com o tema “Juntas, inspiramos o melhor do agronegócio”. 

Manejo de pastagem 

Quando o assunto é pastagem do rebanho, a pecuarista destaca a importância de um pasto bem cuidado e produtivo. “Conhecendo a sua lotação por pasto, você saberá melhor como manejar. Vai conseguir avaliar melhor o seu rendimento e seus pastos não ficarão sobrecarregados. Fazer análise do solo e trazer nutrientes periodicamente é devolver à terra o alimento que ela te dá”, enfatiza.    

Na Campolina, que atua na recria e engorda, o pastejo é alternado e rotacionado. Para o controle de plantas daninhas, Érika conta com a Linha Pastagem, da Corteva Agriscience. Para ela, o diferencial da marca está nas soluções e no suporte diferenciado. 

“Sou muito bem assistida pelo Willian Nery, desde o levantamento das áreas até o acompanhamento do serviço pelos técnicos. Isso faz toda a diferença para o controle de ervas daninhas e doenças de cada estação. Buscamos proteger melhor o solo da fazenda para a colheita do capim sempre com suporte maior a cada ano, pensando não só no hoje, mas no futuro.” 

Foi por meio do Nery, representante da marca na região, que Érika ficou sabendo sobre a primeira turma de pecuária da Academia de Liderança para Mulheres do Agronegócio (ALMA) e se tornou uma das participantes. O programa exclusivo, que contempla temas de interesse de mulheres que atuam no setor, é uma iniciativa da Corteva Agriscience, Fia Business School e Associação Brasileira de Agronegócio (ABAG).

“Eu me senti agraciada, pela marca, que teve essa sensibilidade de trazer às mulheres essa oportunidade de conhecimento e vivências. A lida não pode mais ser feita sem gestão e estamos com sede de informação, de método para facilitar e organizar o dia a dia na fazenda. Considero essa iniciativa como nota 100, porque nos ensinou muitas ações para que o agro seja cada vez mais forte e bem administrado”, afirma a pecuarista. 

Leia mais: Herdeiras da empresa Bom Futuro falam sobre o papel da mulher na agropecuária