Blog •  05/09/2024

Agosto com alta generalizada para as cotações do boi gordo

Autor: Felipe Fabbri, zootecnista, me
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Cotações do boi gordo sobem em agosto após 21 meses de quedas. Mercado segue firme, com previsões de alta até o fim de 2024.

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Em agosto, os preços no mercado do boi gordo subiram Brasil afora – figura 1. Em São Paulo, o boi gordo encerrou o mês negociando entre R$ 240,00 e R$ 245,00/@. 

Figura 1. Variação (%) mensal de preços da arroba do boi gordo, por estado.

Fonte: Scot Consultoria

Este é o primeiro mês em que a média mensal subiu na comparação anual (YoY), após 21 meses de quedas consecutivas. Dado o contexto de agosto/23, pode não ser uma certeza que o movimento de alta veio para ficar, mas, no histórico, ele perdura.

Portanto, a firmeza no mercado, aparentemente, veio para ficar. O mercado futuro aposta nesse cenário, com alta das cotações até o fim de 2024 – veja na figura 2.

Figura 2. Cotação da arroba do boi gordo no mercado físico e no mercado futuro.

Fonte: Scot Consultoria, B3 (29/8/24)

Os motivos?

A oferta de fêmeas diminuiu frente aos últimos meses e a indústria, com margens interessantes, tem procurado manter plena capacidade de abate, dando firmeza à cotação.

A exportação segue firme. Em julho/24, o mercado teve o maior volume de carne bovina in natura embarcado para um único mês na história. Em agosto/24, o ritmo dos embarques seguiu bom, com a expectativa de recorde para os meses de agosto. 

Abordamos, em nosso último artigo, razões que nos levam a acreditar em preços firmes para o boi gordo nos próximos meses. 

Destacamos neste artigo o mercado de reposição e, pensando na virada do ciclo pecuário de preços, a estação de monta vindoura. 

Preços do bezerro de desmama firmes em agosto 

Um dos primeiros sinais de virada entre as fases do ciclo pecuário de preços está na dinâmica de preços das categorias mais jovens.

Como reflexo do investimento ou desinvestimento na atividade de cria, o mercado de reposição é o primeiro a refletir, via preços das categorias mais jovens (bezerros).

Os preços do bezerro de desmama caíram em três praças em agosto e, em outras, o mercado esteve firme e em alta (figura 3).

De modo geral, em 2024, o mercado de reposição tem se mostrado menos pressionado do que o mercado do boi gordo – um reflexo do início da fase de baixa em 2022, primeiro ano de aumento do descarte de fêmeas –, cujos bezerros da estação de monta chegaram ao mercado em 2024.

Figura 3. Variação (%) mensal de preços do bezerro de desmama, por estado. 

 

Fonte: Scot Consultoria

Acreditamos em um cenário mais firme de preços para a reposição para os próximos meses e em 2025 e 2026 – com a expectativa de pico de preços para as categorias mais jovens neste ano. 

Por quê? O abate de fêmeas intenso entre 2023 e 2024 resultará em menor número de matrizes na estação de monta de seus respectivos anos e, consequentemente, em uma oferta de bezerros mais modesta.

Pensando na expectativa de preços melhores para o mercado de reposição nos próximos anos e de olho na estação de monta de 2024, comentaremos alguns aspectos importantes para os quais o pecuarista deve atentar-se.

De olho na virada de ciclo: o bezerro de amanhã é fruto da estação de monta de hoje

A estação de monta consiste em um período determinado que tem como objetivo centralizar o período de nascimentos em uma mesma época, facilitando, assim, a formação de lotes homogêneos, com maior número de animais em idades próximas, que poderão ser manejados juntos do nascimento até a desmama.

Essa prática racionaliza as atividades de rotina da fazenda e a avaliação genética do rebanho, por reduzir os efeitos ambientais presentes nos desempenhos dos animais, e viabiliza um período de recuperação das matrizes e reprodutores.

É um momento crucial na cadeia produtiva pecuária, onde decisões tomadas neste momento reverberarão durante um ciclo completo.

Nessa projeção, em que o bezerro de 2026 está sendo produzido hoje, é importante entender os fatores que influenciam no sucesso dessa estação.

Veja também: Estratégias para encurtar o ciclo de produção

A produção de bezerros

Produzir bezerros em um contexto de preços baixos requer uma gestão eficiente dos custos e um planejamento estratégico para garantir que a produção de 2026 seja condizente com a expectativa de alta de preços.

Quando o bezerro nasce, todo o seu potencial já foi definido, não apenas pela genética predecessora, mas também pela sua vida intrauterina, que impacta diretamente na vida pós-natal.

Nesse contexto, a nutrição e sanidade da vaca que vai gerá-lo e a escolha do touro são determinantes para o sucesso da matéria-prima de toda a cadeia produtiva.

Para a eleição de um touro reprodutor, é preciso entender que não existe o touro ideal para todos os rebanhos. Essa escolha deve ser realizada de forma personalizada, deve-se analisar quais dificuldades a fazenda enfrenta, quais são os objetivos genéticos e qual sistema produtivo é utilizado, para assim encontrar o reprodutor adequado para a realidade do rebanho.

Ademais, o impacto do touro no rebanho é maior proporcionalmente, já que ele pode gerar um maior número de descendentes – considerando um sistema que não utiliza transferência de embriões.

Seleção dos reprodutores

É importante buscar reprodutores que consigam transmitir características genéticas e funcionais para a sua progênie, touros com características de herdabilidade comprovadas por programas genômicos, garantindo assim a confiabilidade no patrimônio genético do animal quanto às características desejadas.

Deve-se realizar uma avaliação abrangente, incluindo aspectos fenotípicos e reprodutivos, começando pelas características zootécnicas do animal. Caso o animal seja eleito nesse primeiro momento, atingindo as exigências fenotípicas, deve-se realizar a avaliação reprodutiva.

Os critérios fenotípicos devem incluir avaliações ortopédicas: aprumos, cascos e articulações, pois, além da viabilidade e saúde do aparelho locomotor em si, lesões e patologias ortopédicas impedem o touro de realizar a monta natural. Além disso, é necessário considerar a pelagem do animal, levando em consideração a tolerância térmica à qual ele vai ser submetido.

O reprodutor – replicador de genética – deve apresentar padrões raciais estabelecidos pelas associações responsáveis pela manutenção e acurácia de determinada raça.

O diagnóstico da aptidão da fertilidade é chamado exame andrológico, realizado por um médico veterinário. 

Esse exame avalia as características externas do animal, desde a sua saúde geral e parâmetros vitais até o exame físico do aparelho reprodutor do touro, a fim de descartar qualquer anomalia e patologia. Após essa etapa, o exame utiliza práticas de palpação e ultrassonografia para avaliar a conformação dos órgãos sexuais, aferir e mensurar escroto e testículos.

O próximo passo é a coleta de material biológico seminal e avaliação do touro. O médico veterinário avalia de acordo com os parâmetros previamente estabelecidos pelo Colégio Brasileiro de Reprodução Animal (CBRA). 

O sêmen é submetido a análises físicas, quantitativas e qualitativas, que determinam a potencial fertilidade do touro naquele período, já que o exame andrológico possui validade de 30 dias, podendo ser repetido conforme a necessidade do proprietário para validar compra/venda do animal. Com o exame andrológico positivo, o touro é considerado capaz de reproduzir.

Veja também: Intensificar não é sinônimo de confinar

Considerações

A estação de monta é um momento estratégico e fundamental para o sucesso da pecuária, onde o planejamento cuidadoso e a escolha acertada de reprodutores têm impacto direto na produtividade e qualidade do rebanho. 

A avaliação genética, associada a uma nutrição adequada e à sanidade das matrizes, assegura que o bezerro nasça com o máximo de potencial, refletindo na eficiência e rentabilidade de toda a cadeia produtiva. 

Assim, ao entender e otimizar cada etapa desse processo, os produtores podem garantir que a Safra de 2026 seja robusta e adaptada às futuras demandas do mercado.