Blog •  05/08/2024

Boi gordo: primeira alta mensal de 2024 e expectativa de demanda por carne bovina no 2º semestre.

Autor: Felipe Fabbri, zootecnista, me
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Perspectiva para a demanda por carne bovina – fora alguns pontos de atenção - é favorável. 

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O mercado do boi gordo esteve frouxo no primeiro semestre. A oferta de bovinos, que cresceu em 2023 com o aumento da oferta de fêmeas, seguiu elevada no primeiro trimestre de 2024, com o maior abate da história da pecuária para um único trimestre (figura 1). 

Figura 1. Abate de bovinos no Brasil, por trimestre, em milhões de cabeças.

Fonte: IBGE / Elaboração: Scot Consultoria

Os preços reagiram somente no fim de junho e em julho seguiram firmes em São Paulo e em outras praças pecuárias. 

Essa foi a primeira alta na comparação mensal em 2024 na praça pecuária de São Paulo – a oferta de fêmeas tem diminuído, a demanda está firme, principalmente a externa, e os preços reagiram. 

A pergunta principal que fica no momento é se a trajetória de estabilidade/alta prosseguirá. E há fatores, principalmente relacionados à demanda, que nos fazem acreditar que sim.

Figura 2. Preço médio do boi gordo, em R$/@, em São Paulo, à vista e livre de impostos.

Fonte: Scot Consultoria

A seguir, comentaremos alguns destes pontos e a expectativa para os próximos meses.  

Exportação recorde até o primeiro semestre com o histórico do segundo semestre favorável

A demanda externa está firme – apesar dos preços da carne bovina, em dólares, menores na comparação anual.

No acumulado entre janeiro e julho de 2024, o Brasil exportou 1,14 milhão de toneladas de carne bovina in natura, volume 29,1% superior ao exportado nesse período em 2023 e, até então, recorde. 

Historicamente, o segundo semestre é melhor em volume, preços e receita – foi assim nos últimos 20 anos e nos últimos 5 anos (figura 3). 

Figura 3. Exportação de carne bovina in natura, comportamento no segundo semestre ante o primeiro.

Fonte: Secex / Elaboração: Scot Consultoria

Em julho, a exportação registrou novo recorde mensal para os embarques – foram 215,6 mil toneladas de carne in natura exportadas. 

Com o forte volume embarcado no primeiro semestre de 2024 e em julho, fica a dúvida quanto à demanda no segundo semestre. Com as compras aceleradas, dois comportamentos podem ocorrer: 

1) o comprador internacional estocado e mais ausente das negociações com o Brasil;

2) o histórico se repetir, o que acreditamos que ocorrerá – até porque, mesmo que o preço do boi suba no segundo semestre, como indicam os preços futuros, o câmbio – e assim deve ser até o fim do ano – mantém a cotação do boi brasileiro, em dólares, competitiva no mercado internacional (figura 4).

Figura 4. Fique sabendo: cotação da arroba bovina no mundo.

A demanda interna deve contribuir

O desemprego está mais controlado – próximo a 8%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Há menor pressão de endividamento pela população na segunda metade do ano e, geralmente, há o aumento de empregos temporários, o recebimento de 13º salário e bonificações – em suma, o desemprego tende a ser menor (figura 5) no segundo semestre e a renda per capita, maior. 

Figura 5. Índice de desemprego no Brasil (linhas em azul) e o comportamento de setembro a dezembro (linhas em preto).

Fonte: IBGE / Elaboração: Scot Consultoria

Somamos a esse contexto um preço de carne bovina mais acessível, segundo o levantamento da Scot Consultoria. Em média, no varejo, os preços da carne bovina estão 5,1% menores do que há um ano – com isso, a demanda deverá ser melhor. 

E, além disso, há um histórico de consumo crescente no último quadrimestre do ano, de acordo com os dados de intenção de consumo das famílias (ICF), medido pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) – veja na figura 5.

Figura 6. Índice de intenção do consumo das famílias (ICF - linhas em azul) e o comportamento de setembro a dezembro (linhas em laranja).

Fonte: Confederação Nacional do Comércio – CNC / Elaboração: Scot Consultoria

Em suma, para nós, o segundo semestre deve ser favorável para a demanda por carne bovina. 

O preço do boi gordo subirá nos próximos meses? 

O recorte de uma boa demanda no segundo semestre também está refletindo nos preços no mercado futuro, que indicam trajetória de alta (figura 6). A referência do contrato de outubro encerrou em julho, com um ágio de R$14/@ em relação ao mercado físico.

Figura 7. Referência para o indicador do boi gordo da Scot Consultoria (barras em verde claro) e para os contratos futuros no mercado do boi gordo na B3 (barras em verde escuro), em R$/@.

 

Fonte: B3 - 31/7/24. Elaboração: Scot Consultoria

Destacamos que a diferença entre o mercado físico e o futuro já esteve maior e, ao longo de julho, diminuiu. 

Mas, apesar da expectativa de preços firmes, há alguns pontos de atenção para o pecuarista: a oferta de boiadas confinadas, que deverá ser maior no segundo semestre, e a oferta de bovinos – principalmente a de fêmeas – que, se continuar alta como foi no primeiro semestre, adicionalmente ao aumento da oferta de bovinos confinados, pode pesar negativamente no mercado.

A doença de Newcastle, que levou ao auto embargo da exportação de carne de aves a mais de quarenta fornecedores, também preocupa, pois poderá, momentaneamente, aumentar a disponibilidade interna de carne de aves e estremecer a competitividade entre as carnes de frango e bovina – podendo impor uma pressão baixista nos preços.

É esperar para vermos.