5 motivos para investir em uma pecuária sustentável
Além de evitar desperdícios, as boas práticas agropecuárias e de sustentabilidade podem aumentar a produtividade por área e a lucratividade do negócio.
Além de evitar desperdícios, as boas práticas agropecuárias e de sustentabilidade podem aumentar a produtividade por área e a lucratividade do negócio.
Produzir com responsabilidade social, consciência ambiental e bem-estar animal, sem prejudicar a rentabilidade do negócio. Essas são as principais metas para quem deseja adotar um modelo de pecuária sustentável, que tem se expandido no Brasil nos últimos anos.
Mas enquanto muitos pecuaristas migram suas atividades para sistemas produtivos mais sustentáveis, ainda há quem considere que investir na pecuária sustentável não dê retorno financeiro, seja por falta de informação/treinamento, seja por falta de ferramentas. A verdade é que as boas práticas agropecuárias e de sustentabilidade podem evitar desperdícios, aumentar a produtividade por área e a lucratividade do negócio.
Para o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP), Thiago Bernardino de Carvalho, quando um pecuarista argumenta que a sustentabilidade não vende, e, talvez, ele nem queira saber de sustentabilidade, é porque muitas vezes há uma pressão muito grande, uma exigência de que ele “tem que respeitar o meio ambiente”, e que na maioria dos casos isso ocorre naturalmente.
Carvalho explica que isso acontece porque o produtor ainda não entende que é preciso tratar a sustentabilidade de forma ampla, nos âmbitos social, ambiental e econômico. E que é preciso buscar a preservação, o bem-estar animal, para ter esses pilares caminhando juntos.
“Quando busco ter uma sustentabilidade nesses três pilares, a própria atividade começa a ser mais produtiva. Ou seja, se eu tenho sustentabilidade econômica e consigo fechar a conta, vou ter uma equipe motivada, começo a ter um ambiente mais interessante de se trabalhar e naturalmente passo a buscar a sustentabilidade ambiental”, diz ele.
Confira abaixo cinco motivos mercadológicos e financeiros para adotar uma pecuária sustentável.
Como grande exportador de carne, o Brasil precisará atender aos mercados internacionais que, cada vez mais, irão demandar que os sistemas de produção atuem com sustentabilidade. Essa exigência foi reforçada com as metas para a redução de gases de efeito estufa definidas na COP26.
Para entrar no mercado europeu, por exemplo, a tendência é que as exigências quanto à procedência da carne aumentem. Os fornecedores deverão comprovar, entre outros itens, que seus produtos não têm qualquer relação com o desmatamento. Deixar de atender a esta pressão internacional por uma pecuária sustentável pode diminuir a lucratividade do negócio.
“Hoje as grandes empresas têm um compliance, para não comprar gado de áreas desmatadas, de áreas que desrespeitam o meio ambiente, e o mercado deve se ajustar nesse sentido. Haverá uma exigência maior e, em termos de sustentabilidade, o cenário é muito mais de penalização do que de valorização”, alerta o pesquisador.
A alta demanda de grandes importadores, como a China, também pode estimular o pecuarista a produzir uma carne sustentável. São países que podem se dispor a pagar o sobrepreço para obter uma carne premium, se necessário.
Nos últimos anos os consumidores de carne têm buscado mais transparência em relação ao produto, e essa tendência deve crescer, influenciando diretamente nos processos produtivos. Isso significa que para atender esse perfil de consumidor será necessário adotar uma pecuária sustentável, que ofereça as garantias que este público busca.
“O consumidor pode pressionar o produtor, comprando o produto que tem o selo ou que tenha um bom marketing, que tenha essa pegada mais sustentável. Mas isso também está relacionado ao preço, que precisa ser competitivo”, fala o pesquisador.
Ao adotar uma pecuária sustentável, o produtor pode se beneficiar com o pagamento por serviços ambientais (PSA), como o crédito verde. Ela também pode abrir portas na hora de pegar um financiamento.
Para isso, o pecuarista precisa comprovar, com todos os indicadores e controles necessários, que está sendo sustentável, e adotar os pilares da agenda ESG com ações voltadas para a responsabilidade ambiental, social e de governança corporativa. O pecuarista deverá apresentar certificado de boas práticas para o bem-estar animal para possibilitar a comercialização dos animais.
“Ter o ESG é um ponto a mais para que o produtor consiga um crédito verde, visto que cada vez mais as empresas, sejam de serviços, indústria ou agropecuária, estão implementando essa agenda. A partir do momento em que elas seguem as normas, é importante que a sociedade e o financiador saibam que produtor está em um processo de busca de melhoria da propriedade”.
A Agenda Global de Sustentabilidade 2030, orientada pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), traz um dos mais ousados acordos que os países já fizeram. Os 17 ODS contemplam três aspectos do desenvolvimento sustentável: social, econômico e ambiental. Esses compromissos podem ser implementados na fazenda, empresa ou instituição pecuária, independentemente do tamanho.
“Quando se pensa no mercado global, o Brasil é o grande player exportador. Dos países que mais produzem carne bovina (EUA, China, Austrália e Argentina), temos o menor custo de produção, devido ao sistema de pastagem. Então, esses são compromissos que teremos que adotar e todo o mundo está de olho”.
Segundo o pesquisador, os riscos vêm aumentando para quem não está disposto a se adequar à agenda global para eliminar as emissões de gases do efeito estufa, ou aos compromissos do Brasil para uma pecuária mais sustentável.
“Realmente existe a possibilidade de se ter uma penalização de preço, de não conseguir negociar a produção e não acessar melhores preços, e você realmente começar a sair do mercado. Para o produtor ou o agente de uma cadeia que não estiver preocupado com isso, o risco econômico e financeiro é grande, então, a perda financeira começa a afetar o negócio”, afirma.
O pesquisador ressalta que para incluir a sustentabilidade como prioridade nos objetivos da agropecuária são necessárias ações que envolvam toda a cadeia produtiva. É preciso que todos os elos da cadeia demonstrem um esforço para adequar as práticas sustentáveis em suas atividades.
“O frigorífico tem que valorizar, o financiador do empréstimo tem que fiscalizar, tem que pedir, exigir, e o consumidor e o varejo precisam falar que estão dispostos a entrar nesse processo, pagando por esse tipo de produto. Pois isso é a cadeia, não é simplesmente apenas o produtor”, enfatiza.
Ele sugere ainda que o próprio crédito verde pode ser uma forma de premiar, não só pecuaristas, mas a cadeia agropecuária que realmente adota a sustentabilidade.
Além da indústria, iniciativa pública, produtores e frigoríficos, é preciso envolver cada vez mais a cadeia produtiva de carne como um todo para práticas sustentáveis.