O passo a passo para garantir alimento para os bovinos na seca e no frio
Não há receita pronta, portanto, faça com que a atividade pecuária seja empresarial: com gestão, planejamento anual e metas.
Não há receita pronta, portanto, faça com que a atividade pecuária seja empresarial: com gestão, planejamento anual e metas.
As pastagens sempre foram a principal fonte de alimento no sistema de produção pecuária no Brasil. Nesse cenário, três pontos são fundamentais para manter a boiada ganhando peso:
Além disso, no Brasil Central, dividimos o ano em duas grandes épocas: águas e seca.
A estação das águas é caracterizada por muita chuva, radiação solar e dias longos, fatores que contribuem para o acúmulo de forragem. Durante esse período, a produção de forragem responde por cerca de 70-80% do total produzido no ano.
Nos meses mais secos, as chuvas e as temperaturas diminuem, e a produção reduz acentuadamente.
Por isso, a transição do período das águas para a seca é um ponto crítico para garantir o planejamento alimentar do rebanho. O ajuste da oferta de forragem nesse período pode ser feito reduzindo a taxa de lotação dos pastos (venda de animais), armazenando alimento (suplementação) ou combinando essas duas estratégias.
Reduzir o número de bovinos, programando a venda de bezerros (sistemas de cria), ou venda de boi gordo (sistemas de terminação), pode resultar em vulnerabilidade comercial, já que os preços tendem a cair quando a oferta aumenta.
Por outro lado, o armazenamento volumoso é dependente de logística, máquinas, equipamentos, estrutura e mão de obra. Tudo isso, evidentemente, passa pela decisão do produtor.
No entanto, é necessário entender a demanda anual de forragem e planejar como suprir a falta de alimento no período seco.
Para isso, existem algumas estratégias que auxiliam na decisão:
1. Ao final do período chuvoso, realizar a venda e reduzir a reposição de animais, para manter alguns pastos isolados. Assim, a forrageira, em diferimento, continua crescendo para ser utilizada durante a estação seca (“feno em pé”). Aqui fica um alerta: nem toda gramínea é recomendada para o diferimento. A utilização das braquiárias é uma opção, pois mantêm muitas folhas e perdem valor nutritivo menos acentuadamente. Para saber, confira o artigo “Aprenda a fazer o manejo de diferimento de pastos“.
2. Se não há mais tempo para o diferimento dos pastos ou o número de animais na fazenda não pode ser reduzido, é necessário adquirir alimento volumoso e concentrado. Nesse caso, o confinamento pode ser uma opção, principalmente, em regiões produtoras de grãos. Pense nisso como uma estratégia de negócio.
Há anos em que essa estratégia não oferece grandes margens ou apenas empata financeiramente. Mas, enquanto isso, os pastos estão com a lotação que suportam, e os animais terão oferta de forragem suficiente para ganhar peso. Reflita, faça as contas e tome a decisão pensando nos custos, na longevidade dos pastos, no seu negócio como um todo.
3. É necessário dimensionar a alimentação do rebanho com antecedência, pensar na seca do ano seguinte e executar o plano no início da estação chuvosa. Com manejo do pastejo, adubação e suplementação, é possível intensificar a utilização das pastagens e aumentar a taxa de lotação em parte da propriedade. Com isso, é possível ter áreas sem pastejo gerando capim excedente durante toda a época das águas.
Nessa área em crescimento, sem animais pastejando, é possível fazer diferimento, conforme mencionado anteriormente ou ensilar e armazenar o capim para suprir a ausência de volumoso na seca. Essa estratégia permite trabalhar com altas taxas de lotação e alta eficiência de utilização da forrageira, melhorando a produtividade média da propriedade. Embora resulte em aumento de custo devido à necessidade de maquinário e estrutura. Em algumas regiões, existe a possibilidade de locação de colhedoras automotrizes de forragem.
4. Na escalada das possibilidades, existem os sistemas mais complexos como os de integração lavoura-pecuária, os quais melhoram a alimentação do rebanho e reduzem o problema de escassez durante a estação seca. Com as duas atividades na propriedade, é possível ter produção de forragem após a safra (soja, milho, etc.), procedendo o plantio de forrageiras após a colheita ou em associação com a segunda safra (milho + braquiária).
Essa técnica permite produção de capim no final da estação chuvosa, que será utilizado para pastejo durante a estação seca.
Já existem algumas propriedades invertendo a estação de monta para que os bezerros nasçam na seca, o que garante excelente condição sanitária-reprodutiva (menor incidência de doenças, por exemplo, carrapatos, verminoses, etc.) e grande quantidade de forragem pós-lavoura.
5. Com a união da lavoura com a pecuária, é possível dar dois destinos à produção de grãos na propriedade: venda ou armazenamento para posterior suplementação (em confinamento ou em pastagens), agregando valor ao negócio agropecuário. Também é possível mudar o destino de uma lavoura de milho. Se houver a sinalização de redução de preço do grão, por exemplo, é possível fazer silagem e aumentar o número de animais suplementados. A integração permite diversas possibilidades, uma delas, por exemplo, é a compra de animais magros para fazer uma terminação rápida.
Inúmeras são as possibilidades e combinações de técnicas que permitem aproveitar as oportunidades em cada região.
O planejamento alimentar anual é vital para aumentar a lucratividade da pecuária. Equilibre o sistema para o que você precisa, entendendo que cada sistema é único.
Esteja um passo à frente, faça com que a atividade pecuária seja empresarial, com gestão, planejamento anual e metas, entenda as perspectivas de riscos e oportunidades para o futuro do seu negócio.
Cada dono pensa de uma maneira, e cada propriedade tem um conjunto de características. Por isso, para cada sistema, é necessário um determinado conjunto de ações que garantirá o sucesso do negócio.
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Sobre o autor: Bruno Carneiro E Pedreira, agrônomo (2003), mestre e doutor pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – USP, possui pós-doutorado em Ciência Animal e Pastagens pela mesma Universidade. Atualmente, é pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril e professor do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia na Universidade Federal de Mato Grosso, em Sinop-MT.