Blog •  12/06/2020

Carne bovina: mercado interno versus mercado externo

Autor:  Rafael Ribeiro – zootecnista, msc.
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Carne bovina: mercado interno versus mercado externo

A maior parte da carne bovina produzida no Brasil tem como destino o próprio mercado doméstico, mas as exportações são fundamentais para o escoamento da produção, em especial nos momentos de crise.

O Brasil produziu 10,20 milhões de toneladas de carne bovina em 2019, segundo informações do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

Desse total, 2,31 milhões de toneladas ou 22,7% foram exportadas. O restante foi consumido no próprio mercado interno.

Veja na figura 1 a evolução da produção nacional de carne bovina nos últimos dez anos e o volume exportado anualmente.

Figura 1.
Produção e exportações brasileiras de carne bovina, em milhões de toneladas.

Produção e exportações brasileiras de carne bovina, em milhões de toneladas.

Fonte: USDA/compilado pela Scot Consultoria

Na figura 2, apresentamos a participação das exportações brasileiras em relação à produção nacional. Observe que a representatividade dos embarques vem aumentando gradualmente nos últimos anos.

Figura 2.
Participação das exportações brasileiras em relação à produção nacional de carne bovina.

Participação das exportações brasileiras em relação à produção nacional de carne bovina.

Fonte: USDA/compilado pela Scot Consultoria

Isso ocorreu, primeiro, em função da queda do consumo interno, devido à crise econômica vivida pelo país desde 2014, com a recessão e, paralelamente, o aumento da demanda no mercado internacional, especialmente pela China.

O segundo ponto é mais recente e está relacionado à pandemia de coronavírus, que levou ao fechamento de estabelecimentos, tais como restaurantes, lanchonetes e bares, que têm um papel importante no escoamento de carne bovina no mercado brasileiro.

No caso das exportações, a China, principal cliente da carne bovina brasileira, aumentou as compras de carnes, em geral, em função da redução do seu rebanho de suínos, devido à peste suína africana, que ainda assola o país. Ou seja, mesmo com os ajustes do lado da demanda em função do coronavírus, a China precisou seguir comprando mais no mercado internacional, devido aos prejuízos da peste suína africana. 

A abertura gradual da economia chinesa, mais cedo em relação a outros países, por exemplo, também colaborou para bons volumes exportados pelo Brasil em 2020.

De janeiro a abril deste ano, últimos dados disponíveis até a elaboração deste artigo, o Brasil exportou 469,81 mil toneladas de carne bovina in natura. O volume foi recorde para o período analisado e 5,3% maior em relação ao embarcado no primeiro quadrimestre do ano passado.

Em maio de 2020, até a segunda semana, a média diária exportada foi 39,2% maior na comparação com a média diária de maio de 2019.

A expectativa para 2020 é de que os embarques sejam recordes. O Brasil deverá exportar 2,50 milhões de toneladas de carne bovina, o equivalente a 24,2% da produção total do Brasil.

Considerações finais

O mercado doméstico é o principal destino da carne bovina produzida no país e, portanto, o seu desempenho impacta diretamente nas cotações no mercado do boi e da carne.

Tomando como exemplo a situação atual do mercado, além da maior oferta de animais para abate, com o final da safra de capim, a demanda ruim por carne bovina no mercado doméstico tem colaborado com a pressão de baixa sobre as cotações da arroba do boi gordo no país.

As exportações brasileiras em patamares recordes em 2020 não têm sido suficientes para fazer os preços da arroba subirem no mercado interno, mas ajudam, limitando as quedas nos preços neste final de safra de boi de capim, diante da dificuldade de escoamento de carne no mercado doméstico com a pandemia de coronavírus.

Em outros momentos, como no fim de 2019, antes da pandemia e diante de um cenário de consumo interno se recuperando, a forte demanda chinesa por carne bovina elevou os preços da arroba e da carne bovina consideravelmente no mercado interno.

No mais, para o pecuarista que trabalha com a terminação de bovinos até 30 meses, portanto, que atendem à demanda do mercado chinês, o ágio pago pelas indústrias frigoríficas por esse animal chega a R$ 5,00 – R$ 10,00 por arroba.

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