Cigarrinhas das pastagens: situação no país e controle
A melhor alternativa é a diversificação de gramíneas na propriedade, com a formação de pastagens com cultivares de diferentes níveis de resistência às cigarrinhas.
A melhor alternativa é a diversificação de gramíneas na propriedade, com a formação de pastagens com cultivares de diferentes níveis de resistência às cigarrinhas.
As cigarrinhas em pastagens constituem um grupo de insetos de difícil controle, principalmente se pensarmos em medidas curativas. Isso porque as ninfas (formas jovens das cigarrinhas) estão localizadas na base das plantas, próximo às raízes, e há falta de produtos de sistemicidade basípeta, ou seja, que circulam via floema da folha até a raiz da planta, para a pulverização de inseticidas na folhagem.
Considerando que as pastagens são culturas perenes (mais de um ciclo), as práticas de manejo de controle de pragas ou ervas daninhas devem visar à sustentabilidade ambiental e ter caráter preventivo (mais barato que o controle após a infestação).
A resistência varietal (ou resistência genética) com uso de cultivares adaptadas aos locais de cultivo e resistentes às diferentes espécies de cigarrinhas é a principal forma de manejo desses insetos. Entretanto, a disponibilidade de gramíneas resistentes às cigarrinhas é pequena para condições de exploração pecuária específicas, tais como área alagável, solos rasos, solos ácidos, solos de baixa fertilidade e locais de precipitação pluviométrica irregular, principalmente quando se busca forragens produtivas e com valor nutricional satisfatório.
Nessas condições, o pecuarista às vezes tem de recorrer a cultivares de pastagens suscetíveis ou de resistência moderada às cigarrinhas, o que torna o manejo fitossanitário imprescindível, seja por meio da aplicação dos inseticidas ou controle com inimigos naturais.
Na maioria das vezes, os produtores buscam por medidas de controle de cigarrinhas quando os danos já estão estabelecidos (pastagem amarelecida). O que não é recomendado, já que nesse momento o prejuízo possivelmente já ocorreu, como a redução da qualidade da forragem e produção de matéria seca.
A maioria das cultivares de gramíneas forrageiras desenvolvidas no Brasil foi estudada quanto à resistência para as espécies de cigarrinhas típicas de pastagem (Deois flavopicta, Deois incompleta, Notozulia entreriana, Aeneolamia reducta e A. flavilatera).
Contudo, com o avanço da área de plantio de cana-de-açúcar, espécies de cigarrinhas que atacavam exclusivamente essa cultura, no caso as cigarrinhas do gênero Mahanarva (M. fimbriolata, M. spectabilis, M. litura, M. tristis), têm migrado para áreas de pastagens cujas cultivares têm apresentado suscetibilidade a tais espécies.
Recentemente, a Embrapa desenvolveu a cultivar híbrida Ypiporã (Urochloa ruziziensis e U. brizantha), que apresenta elevado grau de resistência às cigarrinhas típicas das pastagens e as da cana-de-açúcar (Mahanarva).
A orientação em casos de pastagens suscetíveis (por exemplo Urochloa (Brachiria) decumbens) e com alta infestação de cigarrinhas (25 ninfas por m²) é aproveitar o pasto, colocando os animais para pastejar, se ainda houver grande quantidade de forragem. Posteriormente, se possível, uma aplicação de inseticida biológico que consiste na utilização do fungo Metarhizium anisopliae, que irá reduzir a população de inseto no ciclo seguinte.
Em caso extremo (densidade de ninfas superior a 25 ninfas por m²), pode ser aventada a possibilidade de controle químico, principalmente se estivermos no início ou meados da estação chuvosa, na qual as pastagens terão tempo de se recuperarem, caso o controle seja efetivo. Porém, a recomendação e os custos econômicos e ambientais dessa aplicação química deverão ser analisados por um profissional habilitado.
A melhor alternativa é a diversificação de gramíneas na propriedade, com a formação de pastagens com cultivares de diferentes níveis de resistência às cigarrinhas.
Na tabela 1, estão descritas algumas cultivares e seus níveis de resistência às cigarrinhas que atacam pastagem.
Fonte: EMBRAPA
Quanto à aplicação de inseticidas, esses devem ter como alvo as cigarrinhas que ocorrem na primeira geração (logo após as primeiras chuvas de setembro/outubro), em caso de gramíneas suscetíveis a esses insetos.
Geralmente os adultos das cigarrinhas da primeira geração são o principal alvo dessa aplicação (uma vez que as formas jovens – as ninfas – ficam envoltas por uma espuma, na base da planta, e protegidas por toda massa vegetal da pastagem). Isso implica num acompanhamento da população do inseto, no campo, tão logo se inicia o período chuvoso.
Devemos nos antecipar à emergência dos adultos e aplicar o inseticida tão logo constatarmos a emergência de grande número dos mesmos ou verificarmos na base das plantas grande número de espumas (ver imagem abaixo). Os produtos a serem aplicados devem ter registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para uso em pastagem.
Um dos critérios para a seleção do produto deverá ser a seletividade a inimigos naturais.
Em geral, são produtos de curto período residual, que é o intervalo de tempo entre a aplicação e o uso da pastagem. Entretanto, há a necessidade da retirada dos animais da pastagem a ser tratada, pelo tempo indicado na bula do produto (em geral, uma semana para bovinos de corte e de duas semanas para bovino leiteiro).
O profissional que irá prescrever o controle químico deverá recorrer à bula de tais produtos em que terão as informações detalhadas de metodologia de aplicação, intervalo de segurança e período de reentrada. Portanto, a análise e o acompanhamento de profissional habilitado são obrigatórios para a recomendação dessa forma de controle.
Quanto à aplicação do fungo (Metarhizium anisopliae), essa tem sido bastante utilizada como opção de controle de cigarrinha, concomitante ao uso de variedades resistentes. Porém, sua eficiência está relacionada ao momento da aplicação, ou seja, no início da infestação do inseto (primeiras chuvas de setembro/outubro).
O uso desse método de controle tem aumentado, principalmente por não ser prejudicial à gramínea, além de não deixar resíduo na forragem. Contudo, os resultados têm sido às vezes inconsistentes (há casos de sucesso e casos de fracasso), muito em função da época de aplicação, condições climáticas durante a aplicação e a formulação do produto que às vezes confere baixa estabilidade do princípio ativo frente às condições ambientais e de tecnologia de aplicação.
Recomenda-se que o controle microbiológico com Metarhizium anisopliae seja realizado de forma preventiva, com aparecimento das primeiras espumas de ninfas, no início da estação chuvosa, naqueles piquetes que apresentam histórico de ocorrência de cigarrinhas. Em função do monitoramento dos insetos, na área poderá ser tomada a decisão de reaplicação do inseticida biológico aos 14 e 21 dias, além da decisão de aplicação do inseticida biológico em mistura ao inseticida químico, conforme teste de compatibilidade, informado pelos fabricantes dos produtos.
De maneira complementar, deve ser avaliado o sistema de manejo que tem sido aplicado nas áreas de pastagem atacadas. Sabemos que, em condições de carga animal leve, os animais tendem a selecionar as folhas mais jovens, ocorrendo assim sobra de pasto.
Nesse caso, as folhas mais velhas, senescentes, morrem e se acumulam na superfície do solo, originando uma camada de palha. Essa palha cria um microclima favorável à sobrevivência e desenvolvimento das ninfas.
Sugere-se ajustar a carga animal de modo a evitar sobra de pasto. Não se trata de superpastejo, o que seria prejudicial.
Além disso, o balanço nutricional da pastagem, utilizando-se formulações orgânicas e inorgânicas de N-P-K pode atribuir menor preferência da planta para os insetos. Sabe-se que quando há nitrogênio disponível em excesso, as plantas podem acumular substâncias nitrogenadas nas células, aumentando a suscetibilidade aos insetos.