Blog •  03/08/2020

Competividade entre as carnes bovina, suína e de frango

Autor:  Hyberville Neto – médico veterinário, msc.
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Competividade entre as carnes bovina, suína e de frango

Embora a alta da carne bovina tenha sido o destaque no fim do ano passado, as proteínas alternativas não estão baratas em uma comparação histórica.

No fim de 2019, a carne bovina virou manchete em incontáveis veículos. Ganharam espaço também as sugestões de sua substituição por proteínas alternativas.

Neste texto, vamos analisar como estava a competitividade de outras carnes, no caso, a de frango e a suína, frente à carne bovina no fim do ano passado e a situação atual.

Essa analise será feita por meio da comparação da quantidade de carne de frango e suína adquirida pelo valor de um quilo de carne bovina.

Como a concorrência afeta as proteínas alternativas?

A dona de casa, a proprietária de um restaurante ou o nutricionista do refeitório de uma indústria busca otimizar ao máximo o orçamento.

Com isso, a dona de casa, ao escolher na gôndola do supermercado, ou os proprietários de restaurantes, as nutricionistas, etc., ao definirem os cardápios, considerando os preços no atacado, analisam a diferença dos custos das opções de carnes disponíveis.

Tipicamente, as carnes de frango e suína são mais baratas que a carne bovina, mas a distância dos preços, ou seja, a concorrência entre elas, afeta o consumo das diferentes proteínas.

Explicando: em um cenário de cotações relativamente mais caras da carne bovina, ela participa em menos pratos em um restaurante ou aparece mais raramente no refeitório ou na cozinha de casa. O oposto também vale, isso é, a carne bovina tende a ser mais consumida em um cenário de melhor competitividade em relação às carnes de frango e suína.     

Além do efeito dos preços dos substitutos, há outros quesitos fundamentais, como a própria situação de renda da população. Focamos aqui na relação das cotações das proteínas.

Variações de preços

A figura 1 traz a variação nominal dos preços de alguns cortes de bovinos, suínos e aves no varejo em São Paulo, considerando o intervalo entre março de 2019 e março de 2020.

No horizonte analisado, os cortes bovinos se destacam, mas há um ponto importante. A valorização dos cortes bovinos ocorreu principalmente no último trimestre de 2019, enquanto o frango e o suíno já vinham em alta há mais tempo.

Tomando por exemplo o frango inteiro, que em 12 meses teve valorização de 2,5%, quando consideramos a variação em 24 meses, a alta foi de 30,6% desde março de 2018.

Figura 1.
Variações nominais dos preços de cortes selecionados de bovino (dianteiro e traseiro), frango e suíno no varejo (referência estadual em São Paulo).

Variações nominais dos preços de cortes selecionados de bovino (dianteiro e traseiro), frango e suíno no varejo (referência estadual em São Paulo).
Fonte: Scot Consultoria

Para avaliar a situação dessa concorrência em uma perspectiva mais longa, foi feita a média dos preços dos cortes de dianteiro de bovino apresentados (acém e peito), assim como as médias dos cortes de frango e suínos da figura 1. Foram usados cortes de dianteiro por terem preços menores, mais próximos aos das demais proteínas analisadas.

Em março de 2020, antes da pandemia, com um quilo de carne bovina de dianteiro era possível comprar 1,3 quilo de carne suína ou 2,1 quilos de carne de frango. Essa relação é um exemplo da escolha que a dona de casa faz, muitas vezes inconscientemente, ao ir ao mercado.

Apesar dos movimentos positivos de preços para os cortes bovinos, influenciados pela conjuntura econômica em recuperação e pelas exportações, a relação não está distante da média histórica.

Considerando o período desde o início de 2018, a relação de preços da carne de dianteiro com a de frango, considerando os cortes apresentados, é de 1,9.

Outro ponto com relação à substituição de consumo é que ela não ocorre apenas entre tipos de proteínas, mas também entre cortes. Por exemplo, a fraldinha, um corte comumente usado para churrasco, é uma opção à picanha em momentos de alta de preços.

Esse equilíbrio entre cortes e proteínas se soma a outros fatores, como renda e preços no atacado, e gera as cotações no varejo, sempre com forte influência do poder de compra e demanda na ponta da cadeia. 

O mercado de carnes na pandemia

Mesmo com a valorização das carnes de frango e de suíno no atacado nos últimos meses, quando comparamos com o mesmo período do ano passado, fica claro o aumento da competividade dessas proteínas frente à carne bovina.

Essa valorização menor que a observada para a carne bovina, associada à situação econômica, impactando o poder de compra do consumidor e incentivando a migração para proteínas de menor valor agregado, ajuda no escoamento. 

A expectativa é de aumento gradativo da demanda por essas proteínas no mercado doméstico.

Tipicamente, o segundo semestre é de maior movimentação. E a atratividade dessas proteínas frente à carne bovina reforça tal expectativa de aumento do consumo, à medida que o semestre avança e bares e restaurantes reabrem ou observam aumento, ainda que gradativo, do fluxo de clientes.

Cabe a ressalva de que, com as altas recentes da carne suína, os varejistas têm segurado as compras. De toda forma, exportações e oferta curta mantêm a expectativa de preços firmes.