Blog •  30/10/2019

Creep feeding e a produção de bezerro

Autor:  Wagner Pires, engenheiro agrônomo, pós-graduado em Pastagens pela ESALQ/USP. Consultor e CEO da Wagner Pires Consultoria & Treinamentos.
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O creep feeding é uma estratégia nutricional para os bovinos jovens

O creep feeding é uma estratégia nutricional para os bovinos jovens

Para o pecuarista que trabalha com produção de bezerros, o desejável é que o animal fique o mais pesado possível no menor tempo possível.

Quanto menos esse bezerro for exclusivamente dependente da vaca como fonte de alimentação e mais rapidamente começar a degustar e a se alimentar de capim, melhor para a vaca e para o produtor.

Para atingir esse objetivo, é preciso que o pecuarista permita que o bezerro se alimente de todos os minerais e fontes de proteína e energia para desenvolver sua flora ruminal e, assim, iniciar a digestão correta do capim.

Pensando em tudo isso, foi criado um espaço a que somente o bezerro tem acesso e onde é oferecido a ele um alimento mais concentrado para que desenvolva mais rapidamente sua flora ruminal, este é o creep feeding.

É nessa fase que o bezerro irá aumentar seu tecido muscular, o que vai permitir que ele, na fase de recria, consiga ganhar mais peso e adquira menor dependência da vaca, evitando, assim, que ela chegue à desmama com um grande estresse corporal.

Os principais objetivos e ganhos com a prática do creep feeding são:

  • Aumentar a taxa de ganho de peso dos bezerros, reduzindo a idade de abate e/ou primeira prenhez.
  • Tornar os bezerros menos dependentes das vacas.
  • Adaptação mais fácil dos bezerros aos programas de confinamento.
  • Padronização dos lotes dos bezerros.
  • Diminuição do stress pós-desmama.
  • Possível produção do novilho precoce e superprecoce.
  • Melhoria na condição corporal das vacas pela diminuição do tempo de aleitamento.
  • Aumento da fertilidade e melhoria das características reprodutivas.

É importante lembrar que as novilhas de hoje serão as vacas de amanhã, ou seja, se conseguirmos machos mais pesados e precoces com o creep feeding, possivelmente teremos fêmeas também mais pesadas e mais precocemente preparadas para a primeira reprodução.

Na tabela 1, estão alguns resultados de trabalhos que mensuraram o efeito do creep feeding no desempenho de bezerros.

Tabela 1.
Efeito do creep feeding no desempenho de bezerros.

Efeito do creep feeding no desempenho de bezerros.

PB – Proteína Bruto
NDT – Nutrientes Digestíveis Totais
Fonte: Adaptado Silva,2000; Paulino et al. 2002.

Os estudos mostram que o creep feeding reflete diretamente no peso vivo na desmama e no desempenho animal nas fases seguintes. Isso reflete diretamente no resultado econômico da atividade, principalmente considerando as pressões de mercado, como a alta do preço do bezerro, por exemplo.

A implementação do creep feeding pode tornar o trabalho mais árduo, pois o cuidado e o abastecimento dos cochos serão dobrados. Os resultados financeiros, no entanto, serão muito satisfatórios, já que, em muitas atividades agrícolas e pecuárias, as bonificações de salário são por meio da eficiência do desempenho dos animais.

O sucesso do creep está no detalhe

Como tudo tem que ser feito sobre o prisma certo da tecnologia, existem alguns pontos fundamentais, tais como:

  • Localização do creep: ele deve ser próximo ou colado ao cocho da vaca. Isso dará mais segurança aos dois, mãe e filho, no momento da separação para se alimentar.
  • Altura da cerca que contorna o creep: como normalmente o produto ofertado ao bezerro é uma ração que pode até receber leite em pó, o aroma dela é bastante atrativo e as vacas podem tentar entrar na área do creep para comer esse produto.
  • Pasto de boa qualidade: se estamos falando que o ideal é o bezerro começar a se alimentar mais precocemente de pasto, este deve ser abundante e de qualidade.
  • Água de boa qualidade: é essencial e desempenha importante papel no ganho de peso.
  • Balança para medir e avaliar os resultados: é fundamental que o pecuarista pese com frequência os bezerros. Principalmente, no final do processo.
  • Paciência para avaliar e chegar a um consenso final: nem sempre o resultado vem logo no primeiro ciclo. É preciso comparar o novo modelo com o modelo antigo por um tempo superior a um ciclo.
  • Ter um acompanhamento técnico: é indispensável o acompanhamento de um bom veterinário ou zootecnista para avaliar com o pecuarista todos os detalhes.
  • Usar um produto de qualidade tanto para a vaca como para as crias: a qualidade da matéria-prima ofertada ao rebanho é crucial para o sucesso.

Quem trabalha com cria tem obrigatoriamente seu lucro no bezerro desmamado e vendido. Para ter esse animal, é necessário que o pasto seja suficiente para atender às necessidades da vaca, pois ela irá transferir isso para o bezerro.

Lembrando que vaca magra, com um escore corporal baixo, não irá produzir um bezerro de qualidade.

Outro ponto muito importante é a questão de mineralização da vaca, de forma que ela não fique deficitária em algum nutriente que possa interferir diretamente no bezerro.

A vaca pode até gerar um bezerro sadio e de bom peso, mas isso não significa necessariamente que ele irá apresentar o desempenho desejável pelo pecuarista e pelo mercado. Lembrando que a competição exige cada vez mais do criador para que produza um bom animal.

Para o pecuarista, a sugestão é não ter medo de testar e fazer um laboratório experimental em sua fazenda. Tenha sempre em mente que não é possível obter um resultado melhor fazendo sempre a mesma coisa. O objetivo é crescer e prosperar. Boa sorte!