Mitos e verdades sobre bem-estar animal
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Além de garantirem o conforto dos animais, práticas impactam produtividade das fazendas
Apesar de ser uma ciência interdisciplinar consolidada, o bem-estar animal ainda é visto como uma preocupação acessória por muitos produtores. É comum, por exemplo, a percepção de que ele não impacta a produtividade e a rentabilidade – o que, de acordo com a professora de medicina veterinária da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) Fernanda Macitelli Benez, não é o que as pesquisas mostram.
“O estudo da ciência do bem-estar animal começou quando se percebeu que os bichos são capazes de aprender, de sentir etc. Inicialmente, os conhecimentos foram aplicados para animais em zoológico. Quando foram levados aos animais de produção, começou-se a ver que traziam resultados econômicos positivos”, diz.
As percepções errôneas sobre o tema vêm de uma falta de compreensão sobre o que é o bem-estar animal e como garanti-lo. Por isso, elencamos aqui alguns mitos e verdades sobre o tema para que as práticas que promovem o conforto de animais se tornem cada vez mais conhecidas e que os produtores possam se beneficiar delas.
“Bem-estar animal bovino é uma moda e não faz tanta diferença” – MITO
O estudo sobre o estado físico e mental dos animais a partir da relação que eles estabelecem com o ambiente à sua volta data de meados do século 20. Conforme Fernanda, o ponto de partida para isso foi o livro Animal Machines, escrito pela jornalista Ruth Harrison e publicado em 1964, que disseminou a ideia de que animais não eram máquinas e, portanto, não deveriam ser tratados como tal.
Desde então, sistematizou-se uma ciência interdisciplinar em torno do tema e pesquisas mostram que práticas simples impactam a produção pecuária e a qualidade da carne. “O gado ganha mais peso, produz mais leite e carne”, resume a professora.
“Nutrição bovina é uma das bases do bem-estar animal” – VERDADE
“Hoje, sabemos que o bem-estar animal se baseia em cinco princípios: boa nutrição, boa saúde, conforto ambiental, possibilidade de expressar comportamentos naturais e bons estados mentais”, diz Fernanda.
Cada um desses fatores envolve uma série de práticas. A nutrição, por exemplo, diz respeito não apenas a oferecer alimento ao gado, mas também garantir que ele seja nutritivo. No caso do gado criado no pasto, é essencial garantir a qualidade da forrageira. “É importante entender um pouco de manejo de pastagem. Senão é como se você tivesse um animal com potencial de Ferrari e o abastecesse com álcool diluído em água”, alerta a professora.
Isso significa que o produtor deve saber quais cultivares são mais adaptadas à região onde ele está, fazer uma boa combinação entre espécies e fazer o manejo de plantas daninhas, pragas e doenças – e, para garantir esse cuidado com a pastagem, o produtor pode contar com as soluções da Corteva Agriscience, que tem um portfólio completo de herbicidas para o controle das plantas daninhas nas pastagens.
Além disso, é fundamental garantir o acesso de todos os animais ao alimento e à água, assim como verificar a limpeza de bebedouros, por exemplo.
“As práticas de bem-estar só são importantes para animais em idade produtiva” – MITO
Embora seja comum o entendimento de que a pecuária começa com o desmame dos animais, para Fernanda e outros estudiosos da área, a prática começa com o nascimento – o que significa que os cuidados com bem-estar devem começar desde o início da vida.
“Dentro da bovinocultura, recomendamos bons manejos desde o nascimento, por causa da memória que formamos nos animais. Nos primeiros 40 dias, tudo o que ele vive, ele guarda no inconsciente. Quando o manejo dos bezerros é feito de forma mais calma e respeitosa, isso influencia como ele se comporta mais tarde”, explica a especialista.
“Manter o animal saudável requer mais do que cumprir as leis” – VERDADE
A legislação sanitária é essencial para manter a saúde dos animais, mas não é suficiente para garantir o bem-estar deles. “O produtor precisa fazer a ronda e pensar nos indicadores de saúde. Precisa, por exemplo, verificar se tem algum animal espirrando, se tem algum animal mancando, se algum demonstra dor”, enumera Fernanda.
Esse cuidado precisa ser diário e demanda profissionais qualificados. “Hoje, um vaqueiro não pode só contar o número de bois ou colocar sal no cocho. Eles precisam ser bem treinados para reconhecer sintomas, saber fazer testes de hidratação. A perda de um animal é, além de tudo, um prejuízo muito grande”, explica a professora.
Práticas de bem-estar animal são muito caras – MITO
Para implementar práticas de bem-estar animal, o primeiro passo é promover mudanças de atitude. A partir disso, é possível que se identifique a necessidade de mudar rotinas, treinar pessoal, adquirir ferramentas tecnológicas etc., o que vai exigir do produtor um investimento. Contudo, isso não significa que as despesas serão necessariamente altas. Além disso, muitas vezes, os gastos são baixos e facilmente compensados pelos impactos positivos acarretados pelas mudanças na produtividade.
“É lógico que se você tiver que lavar o bebedouro uma vez por mês, haverá um custo, mas o desempenho vai melhorar e isso vai se pagar”, afirma Fernanda. “Recentemente, instalamos uma estrutura para fazer sombra em uma fazenda e ela se pagou em cerca de ano”, exemplifica.
Documentário sobre bem-estar animal
Um bom exemplo de que o investimento em bem-estar animal funciona é o da Agropecuária Orvalho das Flores, sob o comando da pecuarista Carmen Perez. Desde 2007, Carmen investe em mudanças nos processos produtivos para garantir que seu rebanho tenha condições e tratamento adequados, o que se reflete em produtividade. Uma das ações recentes da pecuarista foi eliminar as marcas a fogo, exceto em casos exigidos por lei, substituindo-as por brincos eletrônicos, que facilitaram a identificação dos animais.
A jornada de Carmen e as dúvidas que a pecuarista tinha em relação ao tema foram transformados, em 2021, no filme documental “Quando Ouvi a Voz da Terra”, que tem patrocínio ouro da Corteva Agriscience. O sucesso da empreitada inspirou a produção de uma série homônima em 2022. Em 2024, um novo filme será lançado, aprofundando a discussão sobre bem-estar animal e meio ambiente.