Dia do Gaúcho: conheça a história de superação do pecuarista Miguel Ferreira
O pecuarista Miguel Ferreira teve o pasto inundado pela enchente e se surpreendeu ao ver o capim rebrotando em pouco tempo, graças ao manejo adequado
O pecuarista Miguel Ferreira teve o pasto inundado pela enchente e se surpreendeu ao ver o capim rebrotando em pouco tempo, graças ao manejo adequado
Uma relação histórica de amor e tradição com a pecuária. Assim pode ser explicado o forte vínculo do povo gaúcho com a criação de gado, uma atividade que criou raízes no Rio Grande do Sul há mais de dois séculos, e hoje faz da carne gaúcha referência mundial em qualidade. Para celebrar a cultura e a identidade dos gaúchos, no dia 20 de setembro é comemorado o Dia do Gaúcho, em virtude da Revolução Farroupilha.
Na região dos Pampas, onde a pecuária gaúcha mais se desenvolveu, é possível encontrar histórias fascinantes de famílias que mantêm essa convivência de respeito com o campo e o boi há diversas gerações.
É o caso do pecuarista e zootecnista Miguel Ferreira, que há dois anos administra a propriedade da família no município de Pantano Grande, a 120 quilômetros de Porto Alegre.
Na Fazenda Capão da Várzea, ele trabalha com recria e engorda de animais de raças européias (Hereford, Braford, Angus e suas cruzas), por meio do sistema de Integração Lavoura-Pecuária, com lavoura de arroz e soja terceirizadas.
“A propriedade está na família desde os meus antepassados, desde meu tataravô, e agora estamos dando continuidade a esse trabalho. É muito prazeroso fazer o que se gosta, planejar e ver as coisas dando resultado. E nós, gaúchos, já temos uma certa vocação para isso. Nascemos no meio, temos uma influência dos antepassados e um legado a seguir.”
Assim que assumiu a gestão da fazenda, Miguel começou a intensificar o sistema, e fez um planejamento de rotação de culturas: soja em rotação com arroz, e depois implantou as pastagens. “Essas pastagens bem adubadas e bem manejadas beneficiam o solo e refletem no resultado da lavoura. Assim, colhemos mais e também limpamos um pouco dessas áreas”.
Com esse sistema, os animais não chegam a ficar um ano dentro da propriedade. Eles são comprados na primavera/verão e no inverno já são levados para o abate, em até 24 meses. Dessa forma, ele atinge um nicho de mercado diferente, voltado à carne de qualidade.
A força e a resiliência de Miguel foram colocadas à prova quando a fazenda da família foi atingida pelas enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul, no mês de maio.
Tudo aconteceu muito rápido, lembra o pecuarista. Quando soube que as águas do rio, que fica a sete quilômetros da fazenda, se aproximavam da região, Miguel, sua mãe e dois funcionários estavam em casa. Eles saíram da fazenda por volta das 7h30 da manhã e duas horas mais tarde a água já chegava na altura da cintura. Pouco tempo depois, só os telhados da casa estavam de fora.
“Graças a Deus saímos a tempo e todos ficaram protegidos, mas saímos só com a roupa do corpo. No dia seguinte tive a visão da casa, de cima. Vi os cavalos e ovelhas mortas, e isso balança… O nosso parceiro agrícola perdeu toda a soja e o que estava armazenado nos silos. Eu tinha as planilhas de planejamento até 2030, e agora teremos que rasgar tudo e começar do zero. Mas, o que nos incentiva é fazer o que gostamos.”
Entrada da Fazenda Capão da Várzea, quando a água já estava abaixando.
Em meio à calamidade, Miguel pode contar com a solidariedade típica do povo gaúcho para salvar 472 bois do rebanho. Um dia antes da área ser inundada, o gado foi retirado e levado para o campo da propriedade vizinha, que era mais alto.
“Se não fosse o meu vizinho, onde é que eu ia colocar meu gado? Ele não foi atingido, mas se prontificou e remanejou o próprio sistema para conseguir receber meu gado.”
Miguel ressalta que as famílias dos funcionários, que também perderam tudo que tinham, receberam o apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), que realizou muitas doações aos desabrigados, e agora também contam com a ajuda do pecuarista para reconstruir.
Segundo o pecuarista, o cuidado com o solo e o manejo adequado das pastagens foram essenciais para minimizar os danos causados pela enchente. A pastagem, implementada no mês de março, foi atingida poucos dias antes de iniciar o pastejo e ficou inundada por quinze dias, com uma lâmina d'água de três metros.
“Não teve um palmo de chão que ficou fora d'água. Obviamente que toda essa pastagem morreu. Mas, por termos respeitado o manejo lá atrás, essa pastagem, que era de ressemeadura natural, nasceu de novo. Eu adubei novamente e agora estamos em pastejo nessa área, e já estamos engordando novilhos. Notamos que quando começamos a investir nos potenciais das áreas elas respondem, e isso minimiza os efeitos.”
Com o aumento das temperaturas a partir de agosto, época propícia para o crescimento do pasto, ele espera aumentar o número de animais em pastagem e, consequentemente, abater e diminuir a carga animal do sistema.
“A gente nunca esperava uma tragédia dessa, mas quando o sistema está alinhado, acaba não colapsando em uma situação assim. Quando estamos com o sistema seguro, minimizamos os efeitos negativos, sejam eles mercadológicos ou climáticos. Dá até um ânimo saber que em breve poderemos voltar ao que estávamos fazendo, mesmo que no ritmo mais reduzido. Já enxergamos o sistema rodando, a pior parte já passou.”
Diante do cenário atual, o pecuarista avalia que mesmo em um ambiente complicado surgem oportunidades para investir mais, e essa é a grande lição para colher mais resultados. Ele acredita que a profissionalização na pecuária é fundamental para ser mais produtivo e, principalmente, para lembrar que existem altos e baixos.
“Sempre teremos ambientes complicados ou mais otimistas, mas o principal é não desistir do negócio. Por exemplo, essa pastagem que eu mencionei me surpreendeu, eu nunca tinha visto algo parecido. É o resultado dos investimentos que fizemos e que colhemos.”
Em uma clara demonstração da força e superação do povo gaúcho, Miguel deixa um conselho para os pecuaristas e agricultores que agora lutam pela reconstrução de suas propriedades e seus negócios:
“Tem muita coisa boa para vir, temos que tocar o barco pra frente, ‘gaúcho não afrouxa’! Vamos investir mais no negócio e acreditar que vamos recuperar lá na frente, mesmo num ambiente atípico como esse. Eu acho que é isso que o povo gaúcho tem de diferente: ele nasceu junto com a pecuária. O povo gaúcho só é gaúcho por causa do trabalho no campo. Ele tem essa virtude. Tanto é que desbravou aí Brasil afora, isso é a nossa principal força.”
Miguel é cliente da Corteva Agriscience e utiliza os produtos da Linha Pastagem para o combate de plantas daninhas. Ele considera que o uso dos herbicidas eficientes é fundamental para a sustentabilidade do sistema de lavoura-pecuária.
“Trabalhamos com a sucessão, ou seja, após a lavoura, surgem as pastagens, e precisamos fazer uma boa interação entre elas. Então, sem dúvida, os herbicidas da Corteva nos ajudaram bastante”, enfatiza.
Para o pecuarista, duas palavras-chave definem o diferencial dos produtos da marca: efetividade e custo-benefício. Ele pontua que, às vezes, um produto concorrente pode até ser um pouco mais barato, mas a efetividade é menor.
“Isso faz toda a diferença, principalmente nas pastagens. É como se fosse uma semente, se começamos com algo que não desempenha bem, isso reflete no futuro, temos um grande problema pela frente. Todo o planejamento vai por água abaixo.”
Origem do Dia do GaúchoA origem da data é uma homenagem a um dos episódios históricos mais importantes para a comunidade gaúcha: o início da Revolução Farroupilha, também conhecida como Guerra dos Farrapos. A revolução, que iniciou em 20 de setembro de 1835, tinha como objetivo principal lutar por melhores condições fiscais para os estancieiros gaúchos contestando o poder imperial do Brasil. Foi uma das revoltas que durou mais tempo, 10 anos. Essa data foi escolhida para celebrar o Dia do Gaúcho como forma de lembrar e valorizar a luta e a cultura dos gaúchos, sendo marcada por eventos que destacam a música, a dança, a culinária e as tradições gaúchas. |