Estação de monta: principais aspectos para garantir um bom retorno produtivo e financeiro
Genética superior na estação monta garante a eficiência produtiva do empreendimento.
Genética superior na estação monta garante a eficiência produtiva do empreendimento.
A sustentabilidade econômica em sistemas de produção de rebanhos de corte está ligada principalmente a quatro pilares: nutrição, sanidade, melhoramento genético e reprodução.
O uso de técnicas de manejo eficientes e biotecnologias aplicadas à reprodução animal asseguram retorno financeiro por meio da intensificação nos sistemas de produção na bovinocultura de corte.
A adoção da estação de monta de gado de corte (EM), com o uso de animais selecionados, e a utilização da inseminação artificial são ferramentas que auxiliam no melhoramento genético do rebanho e garantem ganhos ao bolso do pecuarista pelo aumento da produtividade dos animais.
A EM consiste em uma prática de manejo dentro da bovinocultura de corte em que as fêmeas aptas à reprodução são expostas ao touro ou à inseminação artificial durante um período determinado do ano.
Para vacas adultas, a meta ideal para a estação de monta deve ser de 60 a 90 dias, enquanto para as novilhas o período não deve ultrapassar 45 dias, e tanto seu início quanto final devem ser antecipados em pelo menos 30 dias em relação ao das vacas.
No Brasil Central, de modo geral, com um verão chuvoso e um inverno seco, a estação de monta ocorre geralmente entre os meses de outubro e janeiro, que coincide com uma época de melhor qualidade e maior disponibilidade de forragem (estação das chuvas), o que é desejável para as vacas que precisam de boa nutrição no período pós-parto e de estabelecimento de uma nova gestação.
Dessa forma, a época de parição ocorrerá no período seco, apresentando vantagens relacionadas à menor incidência de doenças nos bezerros.
Figura 1. Calendário de estação de monta e oferta de forragem no Brasil Central
Fonte: Scot Consultoria
A definição de qual será a estratégia de acasalamentos que será usada na EM é imprescindível para o planejamento dos manejos dentro da propriedade.
Pode-se adotar a estratégia de monta natural (MN), inseminação artificial convencional (IA), inseminação artificial em tempo fixo (IATF), transferência de embriões (TE) ou produção in vitro de embriões (PIVE). A decisão de qual estratégia será utilizada deverá ser ponderada entre os custos e benefícios para cada propriedade.
A adoção da EM garante a eficiência de inúmeras práticas de manejo, como concentração dos períodos de parto, o que facilita a formação de lotes homogêneos e possibilita a otimização dos manejos, uma vez que há uma concentração de um maior número de animais em idades próximas do nascimento à desmama.
Na EM, as fêmeas mais prolíferas tendem a parir no início da estação de nascimento e, consequentemente, emprenham novamente no início da estação de monta subsequente, além de desmamarem bezerros mais pesados. A otimização da reprodução depende em grande parte da obtenção de índices elevados de concepção, primordialmente, nos primeiros 45 dias de EM.
A estação de monta de gados de corte permite melhorar a pressão de seleção dentro das fazendas por meio do descarte de fêmeas subférteis ou com índoles reativas.
Além disso, o descarte de vacas vazias ao final da estação de monta, ou seja, antes do início do inverno, reduz a pressão sobre o desempenho zootécnico relativo à perda de peso que ocorre no período seco, permitindo o aumento da disponibilidade de forragem para as fêmeas prenhes durante o final do período gestacional, quando as exigências nutricionais aumentam em função do desenvolvimento do feto.
O sucesso da EM nas propriedades envolve a análise de diversos fatores, como os próprios fatores básicos ligados intrinsecamente à atividade, englobando um rebanho bem nutrido e saudável e uma boa estrutura física para a realização dos manejos.
Estudos indicam que a probabilidade de prenhez aumenta quando o animal apresenta uma pontuação de condição de escore corporal (ECC) de pelo menos 3 pontos em uma escala de 1 a 5, e que aumentar a escala de condição corporal em 0,4 pontos percentuais pode aumentar as chances de prenhez em 25,0% em vacas e novilhas. Veja na figura 2.
Figura 2. Correlação entre a condição de escore corporal (ECC) das fêmeas e a probabilidade de concepção (%)
Fonte: TAROUCO et al. (2020)
Um bom planejamento é uma ferramenta imprescindível para o sucesso da estação de monta de bovinos. Há ferramentas no mercado que promovem o bom planejamento e a propagação de bom material genético dentro das fazendas brasileiras.
A estratégia de acasalamento por monta natural é ainda frequentemente utilizada em todo o Brasil, especialmente devido ao tipo de criação extensiva utilizado, com propriedade de extensas áreas de criação de bovinos, além do elevado número de animais e lotes.
O acasalamento por meio da MN em rebanho de corte nacional tem sido amplamente utilizado pelo fato de ser considerado uma estratégia “simples”, de “menor custo”, e ser uma tradição da pecuária nacional.
A monta natural requer a manutenção de elevado número de reprodutores em função da relação touro:vaca, além da avaliação periódica dos touros antes da entrada na EM, pelo exame andrológico.
O manejo reprodutivo pela MN pode apresentar alguns entraves decisivos para sua utilização nas fazendas comerciais, acidentes podem ocorrer com frequência considerável, tanto para o lado dos colaboradores em manejar touros com índoles indóceis quanto para os próprios bovinos, com distúrbios locomotores pelos excessivos saltos para a monta dos reprodutores e a ocorrência de lesões para as matrizes, em casos de touros grandes ou pesados demais.
O excesso de montas pode reduzir a vida útil dos reprodutores, sendo necessária a troca de touros dentro de poucos anos. Além disso, o risco de contágio de doenças sexualmente transmissíveis é potencialmente maior pelo fato de ser pouco usual a rotina de exames para doenças reprodutivas, diferente do que se é observado em centrais de melhoramento genético.
A utilização da inseminação artificial (IA) dentro da estação de monta de bovinos tem o objetivo primordial de garantir o progresso genético do rebanho.
A adoção de um planejamento genético é contemplada com a aquisição de sêmen de touros com melhores características produtivas e reprodutivas, aliada a uma alta herdabilidade em transmitir essas características a sua progênie.
A promoção do controle de doenças em esferas reprodutivas, a segurança para os trabalhadores e os próprios animais devido à possibilidade de não seleção de touros agressivos e a realização de cruzamentos entre raças taurinas e zebuínas (cruzamento industrial) são outras vantagens dessa tecnologia ao rebanho, além de facilitar os registros reprodutivos e a coleta de dados da propriedade, necessários para análises de desempenho.
A IA convencional pode ser utilizada durante toda a EM. Contudo, é uma forma de trabalho um tanto laboriosa, uma vez que é necessária uma equipe organizada, principalmente em relação às observações diárias de cio em rebanhos de corte. Dessa forma, é possível trabalhar com essa estratégia apenas por um período da estação de monta e realizar o repasse com touros, em sistema natural, até o final do período de monta.
O grande ponto de impasse da técnica é manter um número grande de reprodutores na propriedade para que o repasse seja realizado de modo eficiente, o que, do ponto de vista financeiro, pode não ser atrativo. Caberá, portanto, pesar as vantagens e as desvantagens para a utilização da técnica.
Com o objetivo de diminuir problemas associados à deficiência da observação de cio e incrementar o uso de programas de IA em rebanhos de corte, técnicas de inseminação artificial em momentos predeterminados (inseminação artificial em tempo fixo – IATF) também têm sido promovidas na pecuária brasileira.
A IATF eleva a proporção de vacas prenhes logo no começo da estação de monta e, ainda, melhora a performance reprodutiva de vacas em lactação, induzindo aumento da taxa de prenhez e redução dos dias para estabelecer a nova prenhez. Além disso, ao se usar essa tecnologia, bezerros nascendo no início da estação e sendo frutos de touros melhoradores estarão mais pesados à desmama, podendo elevar a receita dentro da propriedade.
A seleção de touros com fertilidade comprovada é imprescindível para aumentar a qualidade e a quantidade de bezerros geneticamente e fenotipicamente superiores. A avaliação de reprodutores por meio do exame andrológico realizado por médico-veterinário garante a seleção de touros pelo potencial de produção de sêmen, características raciais, comportamento e libido. A seleção de reprodutores deve contemplar também o mérito genético, avaliando o potencial de fertilidade e produção herdado dos seus pais e antepassados por meio do estudo da genealogia e provas genéticas.
A escolha do touro que será utilizado durante a estação de monta deve ser baseada em um bom planejamento de custo/benefício, pois o impacto da fertilidade e o mérito genético do touro no desempenho reprodutivo é inúmeras vezes superior ao da vaca, uma vez que a proporção do touro:vaca pode variar de 1:25 até 1:50 em regime de monta natural nas condições de acasalamento comumente utilizadas nas propriedades brasileiras.
Um dos grandes objetivos dentro da pecuária nacional é incrementar o peso à desmama dos bezerros do rebanho. Portanto, o investimento em seleção de touros geneticamente superiores traz importantes resultados financeiros para o pecuarista.
Características genéticas de peso à desmama, habilidade materna e peso aos 120 dias devem ser selecionadas a fim de garantir bezerros pesados à desmama. Um exemplo prático é selecionar touros com DEPs (diferença esperada na progênie) elevadas para MP210kg. Veja o exemplo a seguir.
Figura 3. Esquema de seleção de reprodutores e a estimativa de retorno em função do peso à desmama dos bezerros
Fonte: Scot Consultoria
O touro A tem uma DEP para habilidade maternal para peso aos 210 dias de idade de 10,09 kg. O touro B tem uma DEP de 0,05 kg. A diferença entre as DEPs dos dois touros é de 10,04 kg.
Isto significa que, se os dois touros fossem acasalados com fêmeas aleatórias da população e produzissem um grande número de bezerros, espera-se que a média de peso da progênie do touro A seja superior em 10,04 kg à média da progênie do touro B.
Segundo a Scot Consultoria, o preço do kg do bezerro em São Paulo (13/9/2023) é de R$ 8,70. Ou seja, considerando esse preço e a venda em R$/kg e não por R$/cabeça, estimamos um retorno de R$ 87,35 por bezerro macho nelore ao se optar por realizar o acasalamento com o touro A em detrimento ao touro B.
Por outro lado, a seleção de matrizes que serão contempladas na estação de monta de gados de corte deve ser baseada em precocidade sexual (idade ao primeiro cio), habilidade materna (desmamar bezerros pesados) e a capacidade de produção de um bezerro ao ano.
Dentre as alternativas mais em conta relacionadas à seleção das matrizes está, por exemplo, a manutenção no rebanho das matrizes que parem no início da estação de nascimentos, pois normalmente essas fêmeas emprenham mais no início da estação de monta.
Essas fêmeas, frequentemente, são mais férteis e desmamam bezerros mais pesados. Além disso, no início da estação de monta seguinte, essas matrizes já terão passado pelo puerpério (pós-parto) e o retorno ao ciclo reprodutivo já deve estar acontecendo (ou próximo de acontecer), reduzindo a expectativa de intervalo entre partos.
Uma alternativa adicional simples é iniciar a estação de monta pelas novilhas, que geralmente são primíparas, em pelo menos 30 dias, em relação ao das vacas. Essa estratégia visa permitir mais tempo para que a categoria se recupere no pós-parto no próximo ano.
A estação de monta (EM), apesar de ser considerada uma estratégia simples e rotineira à pecuária, requer planejamento e uma boa gestão.
Além disso, o manejo da estação de monta de bovinos apenas apresentará resultados satisfatórios nas propriedades se todos os pilares da produção animal (sanidade, nutrição, melhoramento genético, reprodução, ambiente) estiverem em harmonia.
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