Fazenda intensifica produção com novo sistema da Embrapa
O Sistema Pontal é fundamentado por três pilares: integração lavoura-pecuária, o manejo de pastagens e a estação de monta invertida
O Sistema Pontal é fundamentado por três pilares: integração lavoura-pecuária, o manejo de pastagens e a estação de monta invertida
Um sistema produtivo desenvolvido pela Embrapa Agrossilvipastoril, em colaboração com a JP Agropecuária, trouxe melhorias para a técnica de integração lavoura-pecuária (ILP), com resultados comprovados em uma fazenda no Mato Grosso.
A tecnologia, chamada de Sistema Pontal, permite reduzir o ciclo da pecuária de corte e aumentar a produtividade. Ela foi aplicada na Fazenda Pontal, em Nova Guarita (MT), de propriedade da JP Agropecuária.
O Sistema Pontal é fundamentado por três pilares: a adoção da lavoura-pecuária, o manejo de pastagens, com maior oferta de forragem durante o período seco do ano e que possibilita maior taxa de lotação no período chuvoso, e a estação de monta invertida, que possibilita o nascimento de bezerros na seca.
Segundo o ex-pesquisador da Embrapa que iniciou o trabalho na Fazenda Pontal, e que atualmente é professor da Universidade Estadual do Kansas (EUA), Bruno Pedreira, a principal característica do Sistema Pontal é ter a capacidade de juntar todos os componentes que existem na fazenda, para que ela seja capaz de se desenvolver e produzir mais.
Além disso, é um sistema que se sustenta, que se preocupa com a preservação dos recursos naturais, com desenvolvimento sustentável e rentável.
“O conceito é aplicável para qualquer tipo de produção em sistemas integrados de lavoura e pecuária, não importa o tamanho da propriedade. Obviamente, na escala em que o Sistema Pontal funciona, ele seria mais adequado para fazendas médias a grandes.”
Um diferencial do Sistema Pontal é que o produtor pode ter informações precisas sobre a situação atual da propriedade e também projetar o futuro do seu negócio.
Ele sabe, por exemplo, onde estão as plantas forrageiras na fazenda, quantos hectares ocupa cada uma delas e qual a capacidade produtiva de cada talhão. Também monitora quando a soja entra no sistema e quando a pecuária pode retornar.
Segundo Pedreira, o Sistema Pontal tem um planejamento de médio e longo prazo, ou seja, o que vai acontecer nos próximos anos já está definido.
“Existe uma evolução de rebanho esperada, uma renovação de pastos numa escala esperada e um planejamento para a lavoura e pecuária nos próximos anos. Isso faz com que o sistema tenha capacidade de contornar quaisquer adversidades de ambiente, de maneira mais eficaz do que um sistema que não considera a lavoura com pecuária”, explica.
Os benefícios mais importantes deste sistema são as ciclagens de nutrientes e a capacidade de manter o solo coberto o ano inteiro, já que ele evita a erosão e a degradação e gera um uso mais equilibrado dos nutrientes. Além disso, a adubação aplicada na lavoura também é aproveitada pelas pastagens.
“As áreas de pastagem são pastejadas, e ocorre um impute também por parte dos animais. Com isso, ocorre bastante a ciclagem dos nutrientes, o que, no final do dia, vai beneficiar a lavoura”, diz Pedreira.
No manejo das pastagens, o grande benefício é que existe uma alternância entre a utilização das pastagens permanentes e das pastagens que vêm depois da lavoura.
De acordo com o professor, as pastagens permanentes não têm a capacidade de manter os animais durante o ano todo, especialmente durante a época da seca, onde a produção é bastante limitada.
Por outro lado, as pastagens após a lavoura, que são plantadas todo ano, em fevereiro e março, têm o seu pico de produção durante a época da seca – exatamente quando as pastagens permanentes têm a sua maior limitação.
“Este sistema é complementar do ponto de vista de manejo de pastagem, e isso faz com que os resultados de produção animal sejam altamente acelerados. Não existe mais a possibilidade de os animais perderem peso durante a estação seca, porque estão crescendo o ano inteiro em pastagens de alta produção e de alta qualidade.”
Segundo a Embrapa, o Sistema Pontal já tem servido de referência para produtores de Mato Grosso e estados vizinhos. Fazendas que já faziam integração lavoura-pecuária estão adotando a estação de monta invertida e investindo mais na gestão das pastagens.
“Outras fazendas da região têm buscado integrar a lavoura com a pecuária e entender os benefícios desta integração, para aplicar conforme a condição que existe em cada em cada uma delas. Mas é importante deixar claro que cada sistema é único, cada sistema de produção se aplica àquela determinada propriedade.”
O Sistema Pontal foi implantado na Fazenda Pontal como apoio dos pesquisadores da Embrapa Agrossilvipastoril (MT). Em 2002, a fazenda começou a utilizar lavouras para recuperar pastagens. Pouco depois, passou a consorciar milho com braquiária na reforma dos pastos, por meio do Sistema Santa Fé (tecnologia que permite o uso intensivo de áreas agrícolas na região de Cerrado com redução nos custos de produção).
A qualidade da forragem melhorou e, com isso, eles se preocuparam em saber como ter o melhor aproveitamento do alimento e maior produtividade.
A fazenda passou a utilizar forrageiras mais modernas, resultando em maior produção de forragem e melhora na produção de soja, graças à palhada de melhor qualidade. O resíduo da adubação aplicada na lavoura foi usado para o capim, trazendo mais qualidade para o pasto e aumento da taxa de lotação.
Com a integração lavoura-pecuária, a fazenda não tem mais falta de forragem no inverno, e com isso pode implantar a estação de monta invertida.
A inseminação artificial das novilhas, que acontecia de outubro a dezembro, passou para os meses de julho e setembro. Assim, os bezerros nascem entre março e julho e são desmamados no período chuvoso.
Atualmente, a Fazenda Pontal trabalha com ciclo semicompleto: quando os bezerros machos desmamados atingem o peso ideal, são encaminhados para a recria na propriedade. Eles ficam nas pastagens de ILP até junho e são terminados em confinamento.
As fêmeas nelores são inseminadas com 14 meses e, com 22 meses, já estão com bezerro ao pé. As novilhas angus vão para abate com 16 meses e sua carne é destinada ao mercado gourmet.
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