Genética Animal: o que os olhos não veem, mas o bolso sente
O aumento da produtividade por meio da multiplicação da genética animal dos bovinos superiores.
O aumento da produtividade por meio da multiplicação da genética animal dos bovinos superiores.
Nesta nova série de quatro artigos, falaremos sobre melhoramento genético e reprodução de bovinos. A importância dessas duas técnicas é alcançar o progresso genético do rebanho por meio da seleção de animais superiores e sua utilização como pais da próxima geração.
E, para iniciar o assunto, explicaremos o que é a genética e como ela mudou os rumos da pecuária no Brasil.
Como sabemos, o sucesso da produção pecuária depende de alguns pilares fundamentais, como sanidade, reprodução, nutrição, ambiente e, por fim, mas não menos importante, genética.
Para entender o que é genética, o jeito mais simples é observar o desempenho de animais contemporâneos (nascidos na mesma época) que têm acesso aos mesmos processos de criação.
Na Fazenda Boa Esperança, da Dona Irene, em Minas Gerais, por exemplo, existiam duas vacas holandesas em lactação que chamavam a sua atenção: a Dandara e a Emília. Ambas nasceram no mesmo dia e foram criadas sob as mesmas condições (as duas recebiam suplementação, estavam com a saúde ideal e tinham acesso à sombra e água de qualidade).
Entretanto, a Dandara produzia 10 litros a mais de leite por dia do que a Emília. E por mais que Dona Irene melhorasse a dieta da Emília, ela não tinha potencial para responder em aumento de produção. Isso porque seus fatores genéticos faziam com que produzisse menos que Dandara.
Usamos o caso da Dona Irene como exemplo, mas a genética foi um dos principais pilares que ajudou a alavancar e consolidar a criação de gado no Brasil.
Um dos primeiros passos importantes para melhorar a base genética nacional foi a importação de zebuínos da Índia da espécie Bos taurus indicus, representados principalmente pelas raças Gir, Guzerá e Nelore.
Os bovinos que estavam no Brasil antes do zebu eram de origem ibérica e tinham força de trabalho, mas não tinham potencial produtivo. Assim, com a população e o consumo crescendo, a demanda por animais mais produtivos fez com que os zebuínos começassem a ser trazidos para o Brasil.
Essas transformações na base genética foram primordiais para a evolução do rebanho brasileiro, devido à adaptabilidade do gado zebu e às condições do clima e solo brasileiros.
A partir de então, os animais da raça Nelore, que tinham melhor aptidão para produção de carne, foram se reproduzindo e, com o passar do tempo, o rebanho nacional foi se desenvolvendo até se tornar o que é hoje, com aproximadamente 80% de Nelore em sua composição.
Existem duas maneiras básicas para o criador promover o melhoramento genético do próprio rebanho de maneira objetiva e direcionada.
A primeira delas é a seleção, que consiste na escolha dos melhores bovinos que serão os pais da próxima geração e, portanto, passarão seus genes para a frente.
Levando em consideração o exemplo da Dona Irene, provavelmente ela colocará a vaca que produz mais leite em reprodução.
A segunda consiste no cruzamento entre indivíduos de diferentes raças. Dessa forma, as características de duas raças se complementam e o ganho genético é muito maior. Por isso, muitos produtores fazem o cruzamento entre animais zebuínos e animais europeus.
Assim, é possível combinar as características produtivas dos animais europeus (ganho de peso e precocidade) com as características do gado zebu (rusticidade e adaptabilidade) e produzir um animal com maior potencial produtivo.
A maneira mais eficiente e rápida de transmitir os genes superiores entre as gerações e acelerar o melhoramento genético é por meio da inseminação artificial.
Segundo o relatório da ASBIA (Associação Brasileira de Inseminação Artificial), foram comercializadas 13,8 milhões de doses de sêmen em 2018, número 14% superior a 2019.
A pecuária de corte foi responsável por 9,6 milhões das doses vendidas, e a raça Angus teve a maior participação nas vendas (51%). A demanda pelo cruzamento industrial impulsionou essas vendas.
Apesar do crescimento, o volume de doses vendidas ainda é muito baixo para atender as fêmeas em idade reprodutiva no Brasil (aproximadamente 80 milhões). Segundo dados acadêmicos, aproximadamente 10% das fêmeas são inseminadas no Brasil.
De acordo com a Associação Nacional de Criadores dos Estados Unidos (NAAB), foram comercializadas aproximadamente 25 milhões de doses de sêmen em 2018, e como o país possui em torno de 40 milhões de vacas em reprodução, mais de 60% das vacas americanas são inseminadas. Isso mostra que temos muito caminho a ser andado.
No próximo texto, abordaremos as vantagens dessa técnica, fique ligado!