Mulheres do agro: a competência e influência de Leda Resende
Pecuarista é uma das fundadoras do grupo criado para incentivar as mulheres no agronegócio e levar qualificação para os trabalhadores do campo.
Pecuarista é uma das fundadoras do grupo criado para incentivar as mulheres no agronegócio e levar qualificação para os trabalhadores do campo.
A pecuária de corte sempre fez parte da vida da produtora rural Leda Resende. No Maranhão, ela nasceu e cresceu em meio a uma família de pecuaristas - pai, tios e primos - que ajudaram a despertar sua paixão pelo agronegócio. “Nas rodas de conversa, festas e reunião de família os assuntos eram sempre sobre a pecuária, em todo tempo só se falava em preço de arroba, nutrição, sistemas de produção e outros temas sobre criação de gado”, ela lembra.
Há seis anos, Leda se tornou a sucessora dos negócios da família e passou a ter uma relação ainda mais próxima com o mundo do agronegócio. Nessa convivência, ela conta que sentia muita falta das rodas de conversa entre mulheres, de ter com quem pudesse dialogar e trocar experiências sobre assuntos da pecuária.
“Nós, mulheres, temos essa necessidade muito grande de compartilhar o nosso dia a dia, nossos desafios e experiências. Foi quando estava conversando sobre isso, em uma ida para fazenda, que surgiu a ideia de criar um grupo de mulheres do agronegócio”.
Em 2019, junto com a representante comercial Lais Solange Moi Lacerda, Leda fundou o grupo conhecido como As Fazendeiras. Para a pecuarista, a iniciativa é a realização de um sonho de tornar todas as mulheres protagonistas da sua própria vida e história.
“O grupo começou com nós duas, depois nos tornamos três, e quatro. Hoje somos mais de 240 mulheres. Vejo que consegui o objetivo que eu tinha quando o grupo foi criado, que é incentivar mais mulheres e levar qualificação para os trabalhadores do campo. Me sinto realizada por termos ajudado tantas mulheres e sermos referência em grupos de sucesso”, afirma Leda.
Mesmo tendo o pai como principal mentor, e de ter contado com o apoio dos vaqueiros da fazenda que a ensinaram sobre as práticas da atividade pecuária, Leda conta que a sua trajetória como mulher no agronegócio inicialmente foi árdua. “Não existiam mulheres com quem pudesse falar do negócio da fazenda, os grupos de homens distorciam muito a realidade que eu presenciava. Só com o tempo fui sendo admirada e respeitada, mostrei que não estava ali para brincar e sim para produzir com eficiência. Mas não tive grandes problemas, porque eu já estava habituada ao meio”, relata.
Entre as principais ações realizadas pelo grupo estão o projeto Fazendinha Kids, que promove a interação entre crianças e o agro e contribuiu para que as pessoas da área urbana conheçam mais sobre o meio rural. Outra iniciativa importante, desenvolvida em parceria com a instituição Rehagro, é o projeto Seguindo em Frente, que dá assistência técnica gratuita às mulheres que acabaram de herdar ou começaram a trabalhar em suas propriedades.
“É um projeto social muito bacana, que me marcou muito. Ele apoia a mulher do campo em um momento em que ela está diante de um grande desafio. Para isso, é feito um diagnóstico por técnicos que apontam direções para viabilidade econômica da propriedade, para que ela enxergue o negócio com novos horizontes e possa dar continuidade ao trabalho”, explica.
Também com a Rehagro o grupo também criou e desenvolveu o projeto Vaqueiro Nota 10, que tem o objetivo de tecnificar os vaqueiros, por meio de cursos e treinamentos.
“Eu sentia muita dificuldade na formação dos meus vaqueiros e dos meus colaboradores. Sabemos que grande parte da mão de obra das fazendas não possui escolaridade, e nós queríamos levar a educação para estas pessoas, mesmo para aqueles que são analfabetos”, diz Leda. “Com o curso pudemos ajudá-los a entender que o que temos de melhor em uma fazenda é a terra, e que você pode cultivar nela as frutas e legumes para consumir no seu dia a dia”.
Nas fazendas administradas pela pecuarista, todos os alimentos consumidos na cantina são produzidos dentro da propriedade. Segundo ela, esta iniciativa também tem servido de inspiração para as outras mulheres.
A pecuarista acredita que o diferencial da gestão feminina no agronegócio é que a mulher consegue enxergar melhor o lado do trabalhador, a organização e a gestão de pessoas. Ela conta que já foi procurada por vários homens que queriam conhecer o trabalho na fazenda, porque achavam uma organização fora do normal, bem diferente do habitual deles.
“A mulher tem uma sensibilidade maior para entender as necessidades dos seus parceiros de trabalho, tem um entendimento maior do bem-estar animal, das boas práticas da pecuária. Então ela veio trazer essa delicadeza, veio ser inspiração para muitos homens pela forma de organizar o trabalho na fazenda. A mulher realmente conquistou e veio para ficar, para fazer a diferença”.
Para as mulheres que querem ocupar espaços de liderança no agronegócio, Leda aconselha que busquem o conhecimento e a tecnificação. “O ensino abre seus horizontes, o conhecimento transborda em ideias, em soluções. Então eu indico fazer vários cursos sobre gestão, pecuária, mercado e tudo mais que você trabalha. Conhecimento é o grande pilar do sucesso. Também é preciso ter perseverança, foco, e muita vontade de vencer”.
São estas mesmas lições que ela também procura passar para seus dois filhos. “Digo a eles que não desistam. Tem momentos que nos sentimos desanimados, mas devemos seguir em frente. O primeiro passo é conhecer o seu negócio, depois ter o domínio dele através do conhecimento, para saber lidar com todas essas dificuldades. Tudo isso com muita fé em Deus e paixão pelo agro”.
Foi com os pais, que são a principal inspiração, que Leda aprendeu como proceder em todas as situações, seja pelo exemplo de vida ou pelos ensinamentos que recebeu. “Meu pai tinha uma inteligência e carisma ímpar. Sua forma de negociar e gerenciar foram para mim um aprendizado sem fim. Só de ouvi-lo eu estava aprendendo. Ele foi o meu mestre, que me ensinou o que eu sei hoje, e eu pude continuar o legado dele. E minha mãe que me inspirou com sua força e dedicação. Para ela não existia obstáculos, pois sua fé ultrapassava tudo”.
Leda comanda duas propriedades distintas que atuam na recria e engorda, a Fazenda Planalto e a Fazenda Cajueiro. Além de trabalhar com foco na sustentabilidade e na qualificação dos trabalhadores, ela acredita que o grande diferencial de sua gestão foi implantar uma linguagem visual de cores dentro das propriedades. “Trabalho ração, pulmão e bebedouros com cores diferenciadas para facilitar a comunicação visual. Acredito que a mão de obra tem que ser inclusiva. Aqui o funcionário que não sabe ler nem escrever também tem seu espaço”.
No dia a dia da fazenda, a pecuarista conta com os produtos da Linha Pastagem da Corteva Agriscience, uma parceria que iniciou há seis anos. Segundo ela, são produtos que contribuem muito para a produtividade, por serem de credibilidade e qualidade. “Eu conheço e confio nestes produtos, conheço a sua eficácia e tenho um excelente atendimento de pós-venda, o que para mim é muitíssimo importante”, ela afirma.
Leda conta que participou da primeira turma de pecuária da Academia de Liderança para Mulheres do Agronegócio (ALMA), capacitação que tem o propósito de acelerar o desenvolvimento de mulheres que atuam no setor, estimulando a formação de futuras líderes.
“Me senti gratificada e honrada em participar com mulheres capacitadíssimas em uma das melhores escolas de negócio do país. A experiência foi enriquecedora, levei como aprendizado que temos que nos empenhar em ser de excelência e fazer o máximo em tudo. Fiquei encantada com o corpo docente, a didática e profissionalismo do curso”, diz a pecuarista.
A ALMA foi criada em 2018, em uma parceria entre a Corteva Agriscience, Fia Business School e a Associação Brasileira de Agronegócio (ABAG).