Blog •  26/09/2023

Manejo de pastagens: a agricultura dentro da pecuária

Pedro Gonçalves, engenheiro agrônomo 
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O manejo das pastagens é a relação mais pura entre o pecuarista e as práticas de agricultura e não deve ser ignorada.

 

Em termos comerciais, a bovinocultura brasileira é a maior do mundo, com rebanho estimado em 224,6 milhões de cabeças (IBGE, 2022). Segundo a Embrapa (2023), 95% da produção nacional é a pasto, ou seja, 213,4 milhões de cabeças, aproximadamente.

Estima-se que, no Brasil, a área de pastagem seja de 158,9 milhões de hectares (Lapig, 2021), área 2,2 vezes maior que a área destinada ao cultivo de grãos, de aproximadamente 73,52 milhões de hectares (Conab, 2023).

Com base nisso, o pecuarista, que tem sua produção fundamentada em pasto, não deve esquecer que seu principal ativo dentro da sua área de produção é o capim, não sendo errado considerá-lo um agricultor.

Emprego de tecnologias e manejo de plantas daninhas

Assim como qualquer outra cultura, a presença de plantas daninhas reduz a produtividade da pastagem também.

A presença simultânea de plantas na mesma área acarreta competição por nutrientes, luz e água. Mesmo que o pasto escolhido tenha um hábito de crescimento e desenvolvimento bastante agressivo, podendo até mesmo suprimir o desenvolvimento das invasoras, é necessário um bom manejo da área.

A formação e manutenção de um pasto de qualidade é primordial para obter altas produtividades, logo, maior retorno financeiro, tanto na fase de baixa do ciclo pecuário, como o momento atual, quanto nos momentos de alta, já que o custo de produção tende a ser menor em sistemas de pastagens quando comparado aos sistemas em confinamento, por exemplo, permitindo melhores margens.

Nos sistemas produtivos de pasto em monocultivo, onde o produtor não faz qualquer tipo de integração e se dedica apenas à produção pecuária (corte ou leite) a pasto, o emprego de fertilizantes, corretivos de solo e até mesmo de defensivos agrícolas estão abaixo do potencial de utilização comparado a outras culturas.

Acompanhe, na figura 1, que os cinco estados com maior área com pastagens apresentam menor participação na aquisição de herbicidas, com exceção do Mato Grosso, também grande produtor de grãos. Isso não reflete no emprego tecnológico de áreas, mas remete a uma menor preocupação do agricultor de pastagens em monocultivo quanto à sua produção.

Figura 1. Áreas de pastagens brasileiras por estado

Fonte: Lapig (2021) / Elaborado por Scot Consultoria

Figura 2. Vendas de herbicidas, em porcentagem do total comercializado, nos cinco estados com maior área de pastagens

 

Fonte: Ibama, 2021 / Elaborado por Scot Consultoria

Para um controle efetivo de plantas invasoras e boa formação de pastagens, é necessária a integração de diferentes práticas, como a rotação de ingredientes ativos de herbicidas para pastagem, controle biológico, controle mecânico etc., o que levará a uma redução do custo devido ao aumento de produtividade, ou seja, uma maior disponibilidade da forragem, incrementando o ganho de peso animal e elevando os indicadores da propriedade.

Impedir a propagação e o desenvolvimento das plantas daninhas é primordial, mantendo uma boa cobertura de solo pela pastagem e, em casos de formação, o emprego de sementes com certificação e qualidade, garantindo que sejam implantadas apenas a cultura econômica desejada na área.

Como fazer manejo de pastagem

O controle mecânico, com o uso de roçadeiras, tratorizadas ou outros (elétricos, foices, enxadas etc.), é um método não seletivo, que pode ser empregado independente da planta invasora, mas tem restrição topográfica em alguns casos, quando necessária a tratorização. Outro ponto é a baixa eficiência operacional, tanto em termos de custo, quanto do ponto de vista de efetividade de controle, comparado aos métodos mais modernos.

O bom manejo da cultura, como mencionado acima, permite um excelente controle de invasoras na área, pois sua agressividade de crescimento, além da boa cobertura de solo, não permite que outra planta se desenvolva com facilidade na mesma área.

Este método é altamente seletivo, onde um agente de controle pode atacar espécies dentro de um mesmo gênero de plantas invasoras, não causando danos às espécies cultivadas.

E, por fim, o uso dos herbicidas, o defensivo agrícola de maior emprego nas áreas produtivas mundo afora.

De maneira técnica e bem calibrada, o herbicida deve atingir alguma estrutura da planta, geralmente a folha, onde o agente atuará, percorrendo até a raiz, promovendo um controle efetivo. 

As condições ambientais, das plantas daninhas e respeitadas todas as informações compreendidas na bula, bem como orientação assertiva do produto resultam no sucesso para uma pastagem produtiva e livre da mato-competição por plantas indesejadas.

Leia Também:

- Planejamento: custos de reforma e recuperação de pastagens

- Boas Práticas Agrícolas: recomendações para uso de herbicidas em pastagens

- 5 dicas para o uso de herbicidas em pastagens

Referências

BRASIL. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos. Painéis de informações de agrotóxicos, 2023. Disponível em: <https://www.gov.br/ibama/pt-br/assuntos/quimicos-e-biologicos/agrotoxicos/paineis-de-informacoes-de-agrotoxicos/paineis-de-informacoes-de-agrotoxicos#Painel-comercializacao> Acesso em: 1 jun. 2023.

BRASIL. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos. Relatórios de comercialização de agrotóxicos, 2022. Disponível em: < https://www.gov.br/ibama/pt-br/assuntos/quimicos-e-biologicos/agrotoxicos/relatorios-de-comercializacao-de-agrotoxicos#:~:text=Foram%20identificados%20309%20ingredientes%20ativos,%3B%20Enxofre%3B%20Imidacloprido%20e%20Clorpirif%C3%B3s.> Acesso em: 1 jun. 2023.

CONAB. Safra Brasileira de Grãos. Disponível em: https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/graos. Acesso em: 1 jun. 2023.

IBGE. Pesquisa da Pecuária Municipal. 2021. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/agricultura-e-pecuaria/9107-producao-da-pecuaria-municipal.html. Acesso em: 1 jun. 2023.

EMBRAPA. Pastagem. Disponível em: https://www.embrapa.br/en/qualidade-da-carne/carne-bovina/producao-de-carne-bovina/pastagem. Acesso em: 1 jun. 2023.

LAPIG. Atlas das Pastagens. Disponível em: https://atlasdaspastagens.ufg.br/. Acesso em: 1 jun. 2023.

MORAES, R. F. Agrotóxicos no Brasil: padrões de uso, política da regulação e prevenção da captura regulatória. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, texto para discussão. Brasília, 2019. Disponível em: <https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/9371/1/td_2506.pdf> Acesso em: 1 jun. 2023.

OLIVEIRA, M. F.; WENDLING, I. J.; SILVEIRA, M. C. T. Uso e manejo de herbicidas em pastagens. DOCUMENTOS 247, Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas/MG, ISSN 1518-4277, 2019. Disponível em: <https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/211868/1/doc-247.pdf> Acesso em: 1 jun. 2023. 

OLIVEIRA, M. G. S. S.; SANTOS, J. C. S. Uso de herbicida no controle de plantas daninhas em pastagem. Trabalho de conclusão de curso, EDUVALE, Jaciara/MT, 2021. Disponível em: <https://repositorio.kanix.com.br/arquivos/2021/22aa06f5a2751d326e7007aed686ad7a.pdf> Acesso em: 1 jun. 2023. 

SALOMÃO, P. E. A.; FERRO, A. M. S.; RUAS, W. F. Herbicidas no Brasil: uma breve revisão. Research, Society and Development, v.9, n.2, e329221990, 2020. DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i2.1990. Acesso em: 1 jun. 2023.