Blog •  06/02/2025

Mercado do boi gordo e de reposição – preços firmes em janeiro e boas expectativas

Something went wrong. Please try again later...

Oferta de bovinos para o abate cadenciada, demanda aquecida, principalmente na primeira quinzena do mês e menor disponibilidade de fêmeas ditaram o mercado.

Em janeiro, a cotação da arroba do boi gordo subiu nas trinta e duas praças monitoradas pela Scot Consultoria, destaque para as movimentações em Mato Grosso e no Oeste de Maranhão – veja na tabela 1. 

Tabela 1.
Preço da arroba do boi gordo nos últimos trinta dias.

Fonte: Scot Consultoria
*Região de Cuiabá, inclui Rondonópolis

A oferta de boiadas terminadas, considerando os dados preliminares dos abates de bovinos sob sistema de inspeção federal (SIF) foi menor em janeiro, frente a dezembro/24 e janeiro/24, e a demanda, principalmente na primeira quinzena do mês, que esteve aquecida no mercado doméstico, com os preços da carcaça casada no atacado de carne com osso estáveis, mas em patamares elevados, e uma exportação com bom desempenho – quadro, porém, que começou a dar sinais de fragilidade com o avanço da segunda quinzena.

Figura 1.
Variação (%) da exportação brasileira de carne bovina in natura em janeiro/25* em relação a janeiro/24.

*até a quarta semana
Fonte: Secex / Elaboração: Scot Consultoria

No mercado de reposição, considerando os preços do bezerro de ano, a dinâmica foi díspar entre as praças monitoradas. Em algumas, o mercado esteve firme e, em outras, houve pressão de baixa. 

Apesar do comportamento baixista em algumas regiões, na comparação anual, os preços do bezerro de desmama estiveram acima da referência há um ano em todo o Brasil – veja na tabela 2.

Tabela 2.
Preços do bezerro de desmama no Brasil.

Fonte: Scot Consultoria

Qual a expectativa para o mercado de bezerros em fevereiro?

No Brasil, a safra de bezerros (período de maior oferta) acontece, normalmente, entre abril e maio, considerando as fêmeas que emprenharam em dezembro/janeiro, ou seja, aproximadamente 17 meses atrás (9 meses de gestação, 8 meses de desmama). 

E, mesmo com a aproximação do período de maior oferta de bovinos jovens – bezerros –, não esperamos um mercado que retome os preços dos bovinos mais jovens aos patamares de 2023 ou de 2024. 

O mercado de reposição este ano refletirá uma estação de monta, em 2023, com menor participação de fêmeas e uma oferta da categoria menos expressiva no mercado. A expectativa é de que 2025 e 2026 sejam os anos da cria.

A cria sul-mato-grossense: destaque nacional

Com fronteiras com Goiás, Mato Grosso e São Paulo, além de fronteiras internacionais com a Bolívia e o Paraguai, Mato Grosso do Sul, com 13 milhões de hectares destinados às pastagens, merece destaque na produção de bezerros.

A boa disponibilidade de áreas, aliada a um clima tropical com duas estações bem definidas – uma chuvosa e outra seca – e a uma localização estratégica, favorece a otimização das cadeias de suprimentos locais. 

O estado abriga uma parcela significativa do Pantanal (27,3% do território, segundo o IBGE), caracterizado por planícies alagáveis. Nessas áreas, a produção agrícola é limitada, e a prioridade é a pecuária extensiva.

Em 2023, o rebanho total do estado alcançou 18,8 milhões de cabeças, representando 7,9% do rebanho bovino brasileiro, o que o coloca como quinto maior rebanho.

O estado desempenha papel relevante na produção de carne bovina e estímulo à produtividade, conservação ambiental, e a exportação, com o estímulo de programas de melhoramento genético, como o Precoce MS, implementado pela Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc). 

Nos últimos 23 anos, a produção de proteínas no estado cresceu expressivamente, com aumento de 88,3% na produção.

Em resposta a esse crescimento, o governo estadual implementou programas como o Programa de Avanços na Pecuária (PROAPE), que remunera produtores de bovinos de corte pelas boas práticas de produção sustentável e pela qualidade da carne. Esse programa engloba iniciativas como o Precoce MS, Carne Orgânica do Pantanal e Carne Sustentável do Pantanal.

O Precoce MS, em particular, investe em rastreabilidade e sustentabilidade, sendo um dos programas fundamentais para o desenvolvimento da pecuária de corte no estado. Seu impacto se reflete na modernização da produção pecuária, promovendo maior eficiência no manejo, otimização do uso de insumos e redução de desperdícios. 

Além disso, a valorização da carne sul-mato-grossense no mercado nacional e internacional fortalece a competitividade dos produtores locais, agregando valor à cadeia produtiva. O investimento em alimentação, com suplementação estratégica e melhor uso de pastagens, tem permitido ganhos em desempenho e conversão alimentar, resultando em animais mais produtivos e saudáveis. Outro impacto relevante tem sido a mudança na forma de negociação, com a transição da precificação por cabeça para a precificação por quilo, tornando as transações mais justas e alinhadas à qualidade.

Considerando essa perspectiva, comentaremos práticas zootécnicas que podem beneficiar o produtor no momento da comercialização e pontos de atenção para o sistema produtivo para melhorar o resultado financeiro da operação. 

A importância da comercialização por quilo

A desmama pode ocorrer com os bezerros pesando entre 180 e 250 kg (Embrapa), a depender das condições de manejo zootécnico no sistema de produção. 

A comercialização de bovinos no Brasil ocorre, na maioria das vezes, “no pé” ou “por cabeça”, ou seja, não leva em consideração o peso vivo do bovino e o valor do seu preço em quilogramas (R$/kg). 

A partir do preço do bovino de desmama em São Paulo, em R$/cabeça, apresentado na tabela 2, analisaremos diferentes resultados para o pecuarista com base em seu peso de desmama e na comercialização do bovino em R$/kg. 

Tabela 3.
Diferenças entre a comercialização de bovinos pelo peso vivo, considerando a mesma referência de preço.

Fonte: Scot Consultoria

Apenas em um cenário a comercialização por cabeça, como usualmente ocorre, tem resultado melhor ao criador: se o peso vivo do bovino desmamado for inferior a 195 kg.

Técnicas que permitem maior peso à desmama e maior giro da produção

Para o pecuarista que trabalha com produção de bezerros, o desejável é que o animal fique o mais pesado possível no menor tempo possível.

Quanto menos esse bezerro for exclusivamente dependente da vaca como fonte de alimentação e mais rapidamente começar a degustar e a se alimentar de capim, melhor para a vaca e para o produtor.

Para atingir esse objetivo, é preciso que o pecuarista permita que o bezerro se alimente de todos os minerais e fontes de proteína e energia para desenvolver sua flora ruminal e, assim, iniciar a digestão correta do capim.

Uma estratégia para complementar a dieta da cria é o sistema de creep feeding, onde comedouros exclusivos aos bezerros são dispostos, com uma dieta balanceada, à base de concentrado, estrita à fase de amamentação. 

Essa técnica é vantajosa por permitir que o bezerro expresse todo o seu potencial genético, podendo gerar bezerros 15% mais pesados ao desmame – o que, somado à estratégia de comercialização em R$/kg, pode ampliar o retorno financeiro ao produtor e o giro do sistema produtivo, reduzindo a taxa de lotação e permitindo melhora da vida útil do sistema de produção.

Mas e para quem recria/engorda?!

Para o produtor que realiza a recria/engorda e depende da aquisição do bezerro, há um indicador importantíssimo para a avaliação dos investimentos em 2025 e 2026: o ágio do bezerro. 

O ágio é o quanto a mais se paga pela arroba do bovino para reposição do rebanho em relação ao boi gordo, enquanto o deságio é o quanto a menos se paga. 

Para quem compra reposição, quanto menor o ágio, melhor. 

E se o ágio está elevado, o preço do bezerro está firme em relação ao boi gordo.

Com os preços do bezerro mais firmes, a rentabilidade da cria começa a melhorar e acontece uma redução na oferta de fêmeas para abate. As fêmeas, matrizes, são direcionadas para a produção de bezerros. E, com menos fêmeas indo para o gancho, a cotação do boi começa a subir, diminuindo o ágio com o bezerro.

Em anos onde há menor oferta de bezerros e retenção de fêmeas – fase de alta do ciclo – a tendência é de que o ágio da reposição aumente. Ou seja, mais onerosa é a compra da reposição. 

Com tudo isso na mesa, fica o questionamento de até onde o ágio do bezerro é interessante para o recriador invernista. Consideraremos as informações para São Paulo.

Entre 2000 e 2024, o ágio médio da desmama foi de 25,6%. De 2014 a 2024, o ágio médio foi de 33%.

Na última fase de alta (2019-2021), o ágio chegou à máxima de 58% em junho/20 - o que, dois anos depois, não se pagou com a venda da boiada em função da cotação da arroba do boi gordo.

O recriador/invernista deixará de comprar a sua reposição? Não, afinal, de fazenda vazia ninguém vive, mas a prudência será a palavra da vez. 

Repor apenas o necessário e aproveitar o aumento de caixa proporcionado pela fase de alta, em um momento em que o retorno em renda fixa no país está atrativo, pode ser uma boa estratégia para a realização de caixa e a alocação do recurso em insumos que melhorem o sistema produtivo. 

É a hora de pensar em recuperar aquela área degradada, com maior controle de plantas daninhas e recuperação de nutrientes do solo, para no futuro aumentar a capacidade de suporte do seu sistema e para, na próxima fase de baixa, aproveitar o melhor que o mercado poderá oferecer em arrobas de bezerros com preços menores e uma arroba produzida, em pastagem, menos onerosa.