Blog •  07/03/2025

Um erro que pode custar caro: deixar para depois

 Pedro Gonçalves, engenheiro agrônomo
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Se o custo nutricional para os bovinos deve subir, a margem para o pecuarista deve ser garantida com um bom manejo produtivo dentro da sua pastagem.

 

Nos últimos meses, a relação de troca do boi gordo com a reposição pesou um pouco mais para o recriador/invernista. 

Ainda que o período seja, em média, bom para essa compra. O momento ótimo de compras já passou e não deve retornar tão cedo.

Figura 1. Arrobas de boi gordo comercializadas necessárias para a compra das diferentes categorias de reposição, em São Paulo.

Fonte: Scot Consultoria

O abate de fêmeas nos últimos dois anos, somado a um início de 2025 com grande participação de fêmeas nos abates, deve levar a uma redução na oferta de bovinos no médio e longo prazo. 

Essa oferta mais limitada já é sentida, onde os preços da maior parte das categorias de reposição estão 39,1% acima do mesmo período do ano anterior, em média.

Figura 2. Variação entre os preços mensais de um ano ao outro (YoY) dos preços pagos pela arroba do boi gordo e desmama, em São Paulo.

Fonte: Scot Consultoria

Pensando na pecuária de corte, a aquisição de boi magro, pode representar de 60% a 90% do custo total produtivo. Essa proporção pode depender pela região em que se é feita a negociação, ou até mesmo a originação dos bovinos, ou até mesmo do sistema utilizado.

Destacando que sistemas mais extensivos, os insumos alimentares costumam ter um custo relativamente menor, com a compra do bovino assumindo um peso ainda maior na composição do custo.

Mas, não é apenas a aquisição de bovinos que deve ficar mais onerosa, os custos para a suplementação do rebanho também deve subir. 

O preço do milho, por exemplo, está em alta e deve manter-se firme em 2025 nas principais regiões produtoras, o que piorou o poder de compra do pecuarista frente ao insumo.

Figura 3. Quantidade de sacas de milho adquiridas com a comercialização de 1 arroba de boi gordo, em São Paulo.

Fonte: Scot consultoria

Quando cotação da arroba do boi gordo subiu no último quadrimestre de 2024, a relação de troca foi muito positiva para o pecuarista. Mas, ao mesmo tempo, o preço do milho também subiu. 

Mesmo que a média vigente seja superior à média dos últimos cinco anos (3,6 sacas por arroba de boi gordo).

Dessa forma, o custo nutricional para o gado deve subir. Isso porque o milho orquestra uma cadeia de insumos, funcionando como uma espécie de termômetro do mercado. Isso, devido à sua grande utilização em formulação de rações, ao mercado líquido e mais globalizado.

Ou seja, quando o milho tem um movimento de alta, por exemplo, isso é um indicativo de que o custo nutricional geral para bovinos de corte, deve acompanhar.

E, se o custo dos alimentos deve subir, a margem para o pecuarista deve ser garantida com um bom manejo produtivo dentro da sua pastagem.

O manejo adequado, além de garantir menor dependência de suplementação animal e promover uma engorda mais rápida, gera vantagem competitiva nas negociações.

Essa vantagem é gerada pela possibilidade de reter os animais por mais tempo no sistema produtivo, evitando vendas forçadas pelo período seco ou menor produtividade das pastagens, onde o ajuste da carga de lotação é a principal estratégia adotada , reduzindo a pressão de pastejo. 

É claro, a negociação sempre deve ser feita de acordo com seu custo produtivo. Se o preço pagar a produção, a negociação deve ser feita, garantindo uma melhor gestão econômica da propriedade.

Mas, o que teria impedido isso em anos anteriores?

O custo de aquisição de insumos agrícolas está diretamente atrelado ao dólar, principalmente devido à forte necessidade de importação. 

Dessa forma, fertilizantes e defensivos estão estritamente atrelados às variações do câmbio.

Figura 4. Câmbio mensal do dólar, entre 2024 e 2025.


Fonte: Banco Central do Brasil.

O final de 2024, e início de 2025, foram marcados pela alta desvalorização do real, e insegurança econômica, que assombra. Isso levou ao maior patamar da cotação da moeda norte-americana/mundial em relação ao real.

Enquanto o cenário é positivo para a exportação, os custos de produção são afetados. Inclusive, pensando no cenário internacional, a valorização ou desvalorização do real frente ao dólar, impacta na composição direta do preço da arroba para o mercado internacional.

Ou seja, quando o real se enfraquece frente ao dólar, o repasse de preços da arroba do boi gordo na moeda estrangeira é limitado. Assim como aconteceu no fim de 2024, o enfraquecimento do real limitou a alta dos preços internacionais da arroba do boi gordo brasileiro.

Figura 5. Preços pagos pela arroba do boi gordo, em São Paulo, em R$/@ e US$/@.

Fonte: Scot Consultoria

E por que agora?

A insegurança econômica, volátil e incerta, faz com que a aquisição dos produtos seja mais viável, economicamente, neste momento do que em momentos futuros.

Além disso, o caráter técnico que envolve o bom manejo das pastagens. Pensando nas particularidades de cada região, o manejo deve ser eficaz, tanto nas águas, quanto na seca, para se evitar um período de entressafra produtiva para a pastagem.

Um erro que pode custar caro: deixar para depois. Adiar estratégias de manejo da pastagem, visando enxugar os custos, pode, na verdade, aumentá-los. Com maior necessidade de suplementação animal, além de perder o momento para aumentar a taxa de lotação por hectare. E pior, elevar o risco de pragas e doenças.

O crédito rural, que vê a situação balançar para as últimas semanas, pode ser mais um fator de que o investimento feito, deve ser agora.

Quando devo iniciar o manejo?

A resposta pode variar bastante, mas o adequado seria o quanto antes, já que em todo ano temos seca e período chuvoso. Porém, o início do período das águas é o mais adequado para plantio/semeadura, devido a melhor disponibilidade hídrica.

Dessa forma, a região Nordeste brasileira, deve ser o centro das atenções para as pastagens neste momento. A pré-estação chuvosa, dezembro a janeiro, ficou abaixo da média histórica. 

No Nordeste, as chuvas serão mais frequentes no Maranhão, Piauí e Ceará, que deverão ser os estados mais abastecidos no próximo mês. Já no Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, os volumes de chuva serão menores, sem superar os 200mm no acumulado. 

Grande parte da região receberá precipitações abaixo da média histórica, com exceção da Bahia, que deve permanecer dentro dos padrões, e do Maranhão, onde algumas áreas poderão superar a média.

Momento ideal para o desenvolvimento da gramínea, desde que feito o bom manejo.