Mercado do boi gordo voltou a flertar com altas às cotações
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Com o avanço da entressafra do capim e a oferta de gado diminuindo, o preço do boi gordo voltou a subir em boa parte das praças pecuárias no Brasil.
Com o avanço da entressafra do capim e a oferta de gado diminuindo, o preço do boi gordo voltou a subir em boa parte das praças pecuárias no Brasil.
Em nosso último artigo, comentamos que, no segundo semestre, as cotações do boi gordo poderiam reagir e elencamos quatro elementos fundamentais que nos levavam a essa percepção.
Pois bem, o período de entressafra, enfim, começou a dar sinais de uma certa normalidade em seu comportamento. A oferta de gado tem diminuído nas praças e a escala de abate das indústrias está menor.
Com isso, desde a segunda quinzena de junho, os preços no mercado do boi gordo estão subindo.
Em São Paulo, a cotação da arroba do boi comum e do “boi China” é de R$ 245,00 e R$ 255,00 (com relatos de negócios a R$ 260,00/@), respectivamente, aumentos de R$ 7,00/@ e R$ 10,00/@ desde o início de junho.
Veja o comportamento dos preços do boi gordo (R$/@), em São Paulo, na figura 1.
Figura 1
Cotação do boi gordo destinado aos mercados interno e externo (“boi China”), em R$/@, preços brutos e a prazo, em São Paulo.
Fonte: Scot Consultoria
No mercado futuro do boi gordo na B3, os preços de todos os contratos destinados ao segundo semestre (jul-dez) subiram em junho. A referência para o contrato de outubro/23, parâmetro para o segundo semestre, era de R$ 248,00/@ em 1/6/23 e é negociado a R$ 264,60/@ em 29/6/23.
O aumento nos preços reflete o sentimento do mercado de que a oferta de boiadas terminadas, com destaque aos próximos meses (jul/ago/set), deverá ser menor, uma vez que o gado de pastagem já foi entregue e a oferta de gado confinado, principalmente neste primeiro giro, deverá ser menor.
A firmeza nos preços no mercado do boi gordo deu sustentação à cotação no mercado de reposição em algumas praças Brasil afora.
Destaque, principalmente, às categorias mais eradas, devido ao cenário no mercado do boi gordo (físico e futuro) que estimulou o recriador/invernista. A entrada dessas categorias para terminação intensiva no confinamento é uma boa estratégia.
A demanda por carne bovina tem dado sinais de melhora, tanto no mercado doméstico quanto no externo.
No mercado doméstico, o preço da carne com osso no mercado atacadista, após semanas em queda entre abril e maio, voltou a subir em meados de junho. O relato, segundo os agentes, é de que a demanda aumentou em meio a uma oferta ajustada.
No mercado externo, até a quarta semana de junho, exportamos 154,6 mil toneladas, totalizando 9,66 mil toneladas diárias, média 33,1% maior que a de junho/22. Quanto ao preço pago por tonelada (US$ 5,08 mil), este está 25,6% menor este ano na mesma comparação.
Os resultados preliminares já consolidam jun/23 como o melhor mês ante seus pares. A demanda, com destaque à China, segue firme em termos de volume e, nos próximos meses, o quadro deve seguir refletindo o comportamento de melhora adiante – como comentamos em nossa última análise, a demanda do gigante é, historicamente, melhor no segundo semestre.
No mercado interno, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) aponta que o consumo nos lares brasileiros é maior entre os meses de outubro, novembro e dezembro, o que também influencia positivamente a demanda por carne bovina.
No curto prazo (julho), as cotações devem seguir firmes, uma vez que o relato é de que a oferta de gado gordo está menor ao mercado brasileiro.
Mas atenção ao fato de que, como já abordamos, o mercado do boi está em fase de baixa dentro do seu ciclo de produção – o que limita altas expressivas e, até mesmo, ganhos reais (ante a inflação) à arroba do boi gordo.
A entressafra chegou, mas não quer dizer que oportunidades não estejam adiante e, principalmente, que a pastagem deve ser deixada em segundo plano.
Vamos pensar em um produtor que trabalhe com ciclo completo. Dentro do seu sistema de produção, a capacidade de suporte de sua propriedade, naturalmente, diminui no inverno.
Comentamos, em outro momento, a importância e como o uso de estratégias encurtam o ciclo de produção na pecuária de corte.
No período da seca, o ajuste da lotação da pastagem é essencial.
Vamos considerar uma propriedade cuja taxa de lotação, no período da seca, seja de 0,9 UA/hectare, sem considerar nenhum tipo de estratégia relacionada à nutrição.
Pensemos que o rebanho deste produtor é composto por bovinos de diferentes eras.
Veja, na tabela 1, a quantidade de bovinos que o produtor poderá manter nessa área, com essa capacidade de suporte.
Tabela 1
Quantidade de cabeças por hectare, por categoria, considerando a lotação por animal estimada.
*Fonte: Embrapa, Scot Consultoria e agentes de mercado
**Considerando uma taxa de lotação de 0,9 UA/hectare.
Analisando as informações apresentadas, vamos discorrer sobre uma possível estratégia ao produtor para aumentar a taxa de lotação em sua área de pastagem.
Considerando a expectativa para os preços no segundo semestre, esse produtor pode, durante o período de entressafra, optar por alocar parte do gado mais erado (garrote/boi magro) presente em seu rebanho em um sistema de confinamento terceirizado (boitel).
O momento atual, com a expectativa de preço disponível no mercado futuro e o custo da diária menor (R$ 16,00/cabeça), apresenta um cenário rentável ao produtor.
E a área de pastagem? Veja que, enquanto a uma taxa de lotação de 0,9 UA/hectare, é possível trabalharmos apenas com uma cabeça por hectare de gado erado, enquanto, para animais mais jovens, podemos considerar 2 cabeças por hectare, no mínimo, sem considerar estratégias nutricionais relacionadas à suplementação proteica ou energética no período seco.
Os preços da reposição caíram mais que o preço do boi. O produtor deve olhar para o hoje, sempre visando o amanhã.
Mas atenção à presença de plantas daninhas nas áreas, que reduzem o potencial produtivo – nas águas e nas secas. Identificar e reduzir a presença das daninhas na área é essencial para aproveitar ao máximo a produtividade da forrageira.