Nutrição animal: Saiba como o planejamento nutricional afeta a qualidade da carne
Ter um plano nutricional bem conduzido e investir nos cuidados com a pastagem são requisitos indispensáveis para produzir uma carne de qualidade
Ter um plano nutricional bem conduzido e investir nos cuidados com a pastagem são requisitos indispensáveis para produzir uma carne de qualidade
O crescimento da demanda por uma carne de alta qualidade, ou seja, uma carne premium, tem impulsionado transformações importantes na pecuária de corte no Brasil. Para se adequar às exigências deste mercado, os pecuaristas precisam adotar sistemas de produção que assegurem uma nutrição adequada para que seus animais sejam terminados precocemente, oferecendo carcaças com bons acabamentos de gordura e uma carne macia, saborosa e suculenta.
Além do cruzamento de raças, para garantir a máxima produtividade e rentabilidade destes animais, é preciso ter um plano nutricional bem conduzido e priorizar os cuidados com a pastagem, como uso de herbicidas, para assegurar a qualidade do pasto.
O site Pasto Extraordinário conversou com o doutor em zootecnia e gerente regional da Vaccinar Nutrição Animal, Flávio Henrique Vidal Azevedo, sobre a importância da nutrição no sistema de produção de carne premium.
Segundo o zootecnista, o plano nutricional é importante tanto para a produção da carne premium quanto para a carne convencional. “Muitas vezes o produtor pode gastar mais para produzir uma carne premium do que o mercado remunera. Por isso é interessante estabelecer um plano nutricional para ver a viabilidade do negócio”, afirma.
Azevedo explica que o plano deve levar em consideração o desenvolvimento do animal desde a gestação, porque é nesse período que começam a ser definidos os números de células musculares (miogênese) e adiposas (adipogênese) que o animal terá quando adulto ou na ocasião do abate.
Os primeiros cuidados devem focar na nutrição da matriz, especialmente no segundo e terceiro terço da gestação. Após o nascimento, os bezerros geralmente têm suas demandas nutricionais atendidas pelo leite de suas mães até os 60 dias. Após esse período, deve ser avaliado o uso de suplementação, por meio do creep feeding: “A partir dessa fase, o pasto já começa a fazer parte da dieta deste animal, então as pastagens de boa qualidade já são bem-vindas, tanto para a fêmea quanto para os animais jovens”, enfatiza.
Em seguida, é hora de pensar na desmama, quando se inicia a recria. A recomendação é que na desmama os animais já tenham, pelo menos, sete arrobas. Na recria, o objetivo é que o animal ganhe mais sete arrobas em um período inferior a treze meses. Azevedo afirma que “esse ganho de peso geralmente é feito em pastagens”.
Depois da recria, o plano prevê o confinamento ou a terminação intensiva a pasto (TIP). É nesse momento que a qualidade da nutrição oferecida vai permitir que o animal expresse todo o seu potencial genético na qualidade da carne.
O zootecnista destaca que a limpeza do pasto com o uso de herbicidas é fundamental para se manter a produtividade da pastagem. Ele lembra que diversos estudos atestam a importância de aplicar o manejo correto para maximizar a produção e a qualidade do pasto.
“Uma condição sine qua non para intensificar o uso da pastagem é que ela esteja limpa. E o uso de herbicida se torna muito estratégico para esse fim, pois ele realmente vai eliminar a planta daninha, que muitas vezes compete com a pastagem. Outro método seria a roçagem, mas muitas vezes o produtor está somente podando a planta, ela continua viva e até pode voltar mais vigorosa”, diz.
Azevedo lembra que, no Brasil, a pastagem é importante para o animal desde a gestação, com a sua mãe ingerindo pasto por nove meses. Depois, ele passa no pasto mais oito meses, na fase de cria, e mais um ano, na recria.
Se for uma TIP, a pastagem também vai fazer parte da sua nutrição. “Este animal só não vai mais estar em pastagem se a terminação for em confinamento. Então, somente com a pastagem de qualidade vamos conseguir, sem dúvida nenhuma, chegar nos índices preconizados para que a carne tenha qualidade”, afirma.
Sem nutrição adequada, o animal não chega ao potencial do cruzamento. Por isso, para chegar ao peso ideal, ele deve alcançar metas de ganho de peso em cada fase de desenvolvimento, por meio de estratégias que aceleram o seu crescimento.
Um exemplo é o Boi China, como é chamado o bovino de corte que atende ao padrão exigido pelo mercado chinês. Trata-se de um animal jovem, que deve ser abatido antes de completar 30 meses. Para produzir um Boi China de qualidade, o produtor precisa investir em sistemas integrados de produção, que permitem que os animais sejam abatidos mais jovens e pesados.
No Brasil, a meta é desmamar o animal aos oito meses, com pelo menos 210 quilos. De acordo com Azevedo, os principais requisitos para alcançar essa meta e conseguir um ganho de peso diário ideal, são ter vacas com boa produção de leite, e pastagens de boa qualidade. Na falta de um desses dois pilares, é necessária a utilização do creep feeding.
Na recria, a nutrição pode ser feita de duas formas. A tradicional é oferecer, no período da seca, uma pastagem de boa qualidade, mesmo que seja seca, e suplemento proteico ou proteico energético. A meta é obter, pelo menos, 250 gramas de ganho de peso diário.
Após o período seco, o objetivo é chegar aos 420 quilos, com um ganho de peso em torno de 900 gramas por dia. “Em fazendas que têm ótimo manejo de pastagem, é possível bater a meta de 916 gramas com tranquilidade, usando um sal aditivado no período de primavera-verão”.
A segunda estratégia é o resgate ou sequestro dos animais. Eles são levados para recria no confinamento, onde é traçado um ganho de até 700 gramas diárias. No período das águas, esses animais voltam para pastagem, com a meta de ganho de peso sempre superior ao obtido no período anterior. Às vezes é possível atingir 420 quilos com 10 meses de recria.
Durante a terminação, a meta é chegar aos 570 kg, em um período de 100 a 120 dias, o que equivale a um ganho de peso médio de 1,250 a 1,520 kg por dia. Ao final deste processo, ele vai entregar uma carcaça de 21 arrobas.
O zootecnista ressalta que a suplementação será necessária desde a concepção até o abate do animal, em quase 100% dos casos, sendo utilizada em maior quantidade no período seco, em comparação com o período das águas.
Ele lembra ainda que é preciso fazer mudanças no nível de suplementação, dependendo do cenário encontrado: “As fazendas que investem mais em pastagens vão gastar menos com suplementação, e aquelas que não investem tanto em pastagens para conseguir atingir os índices, terão que gastar mais com a suplementação do rebanho”.
Tipos de carne premiumPara produzir carne de qualidade, com maior marmoreio, que é a gordura entremeada responsável por proporcionar sabor, suculência e maciez na carne, os pecuaristas apostam no cruzamento industrial de raças. Segundo o zootecnista, existem três principais tipos de carne premium: os animais superprecoces ou precoces; a produção de carne marmorizada, prioritariamente com o cruzamento com animais Wagyu e Akaushi e de cruzamento com animais de origem europeia - geralmente entre o Aberdeen Angus, bovino de origem britânica reconhecido pela qualidade de sua carne, com matrizes zebuínas (prioritariamente o nelore, que representa 80% do rebanho bovino nacional). Os zebuínos superprecoces têm a carne com um pouco menos de gordura entremeada e de cobertura, porém, é uma carne extremamente macia e saborosa. Os animais provenientes de cruzamento industrial também possuem a carne muito macia e saborosa, mas com uma cobertura de gordura muitas vezes superior aos animais de origem zebuína. Os principais diferenciais desse sistema são a precocidade dos animais e a uniformidade genética, ou seja, animais de origem genética superior aos animais comumente encontrados no mercado, além da seleção de raças para a qualidade de carne. “Atualmente existem alguns programas que selecionam zebuínos que possuem melhor qualidade e um bom marmoreio em sua carne. Em breve, teremos carnes de qualidade superior oriunda de animais zebuínos puros”, afirma. Linha Pastagem: aliada eficiente na limpeza do pastoPara ajudar o pecuarista no manejo das pastagens, a Corteva Agriscience tem, em seu portfolio, produtos com tecnologias inovadoras e que trazem muito mais eficiência para controlar as principais plantas daninhas que atingem o pasto. Com formulações que possibilitam um melhor rendimento na aplicação, as soluções da Linha Pastagem da Corteva Agriscience têm ação consistente das raízes às folhas, restaurando a produtividade por hectare e contribuindo para aumentar a produtividade da pastagem. Tudo isso sem deixar de lado a sustentabilidade, já que são produtos concentrados. |