Zootecnista explica importância do planejamento forrageiro no manejo de pastagem
Com manejo de pastagem adequado ao longo do ano, é possível manter a produtividade do rebanho
Com manejo de pastagem adequado ao longo do ano, é possível manter a produtividade do rebanho
Manter a pastagem adequada ao longo do ano, assegurando a produtividade do rebanho, pode ser um desafio para os pecuaristas. Entretanto, existem estratégias que são essenciais para manter a oferta de alimento e a segurança nutricional dos animais. Márcia Cristina Teixeira da Silveira, zootecnista, pesquisadora e coordenadora de projetos na área de manejo de forrageiras anuais de verão e inverno da Embrapa Pecuária Sul, explica que manter o sistema de produção estável ao longo do ano envolve o uso adequado de forrageiras.
A não adequação da quantidade e da qualidade da forragem disponível para os animais pode gerar limitações nutricionais por períodos curtos ou longos, dependendo do estágio de crescimento, do manejo e das condições climáticas. Além disso, na maioria das vezes os animais consomem quantidades de forragem acima ou abaixo do que está sendo produzido, o que também é indesejável.
“É preciso conhecer o sistema de produção e entender a dinâmica dos componentes desse sistema, ou seja, a dinâmica solo-planta-animal, pois durante o ano temos seca, estiagem, períodos com excesso de chuva, variação de temperatura e luminosidade que vão impactar de alguma forma a produção de forragem”, considera Márcia, que também é mestre e doutora em manejo e avaliação de plantas forrageiras e pastagens e pós-doutorada com ênfase em pastagens diferidas e produção animal.
A zootecnista esclarece que, para adotar o planejamento forrageiro, é necessário conhecer o sistema de produção e as demandas do rebanho ao longo do ano para planejar o uso das pastagens e verificar os períodos de excesso ou deficiência de forragem. A partir disso, o pecuarista pode se organizar e implementar ações para melhorar a alimentação dos animais, aumentar a produtividade e reduzir os custos, como:
- uso de forrageiras mais produtivas e adaptadas às condições locais;
- ajuste de lotação em cada sistema de manejo;
- conservação de forragem;
- suplementação;
- diferimento de pasto;
- consorciação;
- rotação de culturas na lógica do Sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) para produção de pasto Safrinha;
- terminação intensiva a pasto (TP);
- venda programada de animais.
Também é importante ficar atento ao controle de plantas daninhas, que interferem na qualidade do pasto e podem ser prejudiciais ao rebanho. Márcia observa que a presença de plantas daninhas interfere nas pastagens ao competir por água, luz e nutrientes e seu surgimento está relacionado a medidas inadequadas na fase de implantação, como o preparo do solo, sistema de plantio, uso de forrageira não adaptada, qualidade de semente e taxa de semeadura, além da falta de controle de plantas daninhas em momento oportuno, insuficiente adubação de correção e manutenção e compactação do solo.
“O controle de plantas daninhas é importante no sentido de manter a pastagem produtiva ao longo do tempo. Para tanto, é importante evitar o uso de queimadas, evitar condições de sub ou superpastejo e de ‘empobrecimento’ químico, físico e biológico do solo, que são considerados fatores que podem contribuir não só para o aparecimento das plantas daninhas como para a degradação das pastagens”, destaca.
A especialista ressalta que o método mais indicado para o controle de plantas daninhas é o preventivo, com práticas que evitem a introdução, o estabelecimento ou a disseminação de determinadas espécies daninhas em áreas ainda não infestadas. Entretanto, também existem outras formas, como o controle mecânico ou físico, o químico e a integração de métodos.
A roçada é o controle mecânico mais comum, porém, se houver o manejo inadequado da forragem, a infestação pode aumentar, sem contar que essa técnica isolada não é suficiente para controlar as plantas daninhas. Já o controle químico é a aplicação de herbicidas, sendo necessário identificar a planta daninha e escolher o herbicida adequado para obter alta eficiência.
“O uso e manejo de herbicidas em pastagem deve priorizar o entendimento amplo da implantação e do manejo da pastagem, correlacionando-o com o possível aparecimento das plantas daninhas. Assim, o sucesso no programa de manejo das plantas daninhas com herbicidas demandará adequada seleção dentre as formulações disponíveis no mercado, seu manuseio correto e avaliação na eficiência do programa de manejo adotado”, acrescenta.
A Corteva Agriscience oferece diversas soluções para você manter o pasto limpo e saudável.
LEIA TAMBÉM: Quanto custa a formação de um hectare de pasto?
De acordo com Márcia, no competitivo universo da pecuária, os produtores estão constantemente em busca de estratégias para otimizar a produtividade e garantir a sustentabilidade de suas operações. Nesse contexto, o correto manejo do pastejo, seja no sistema contínuo ou rotacionado, é indispensável para atingir esses objetivos.
No sistema de pastejo contínuo, os animais permanecem na mesma área, com alguma ou nenhuma subdivisão. Entre as vantagens, estão o menor investimento inicial, a possibilidade de ingestão de dieta de melhor qualidade em virtude do pastejo seletivo e a redução da necessidade de mão de obra.
Entretanto, as desvantagens são a maior desuniformidade na distribuição de fezes e urina com geração de área de rejeição e o menor ganho por área em comparação ao rotacionado.
O sistema de pastejo rotacionado consiste na divisão da área de pastagem em piquetes menores, nos quais os animais são direcionados em um cronograma de rotação controlada. Ao permitir que o rebanho pasteje em uma parte da área por vez, o pastejo é mais uniforme e a pastagem pode se recuperar durante a sua ausência. Porém, é preciso um investimento inicial maior para subdividir o local e também para a alocação de cochos e bebedouros.
SAIBA MAIS: Como calcular o número ideal de piquetes para o manejo rotacionado de pastagem
As estratégias a serem adotadas dependem das condições ambientais de cada região e também estão diretamente ligadas às particularidades do sistema de produção.
Por isso, Márcia recomenda que o pecuarista tenha suporte técnico para identificar quais práticas ou estratégias são as mais indicadas, de acordo com a sua realidade, para viabilizar a produtividade do rebanho mediante a melhor distribuição forrageira ao longo do ano.
Outro ponto essencial é o planejamento para os períodos de chuva e de seca. Ao se preparar para esses momentos, a especialista afirma que o pecuarista poderá prever com um certo grau de acuidade como a produção de forragem da fazenda irá atender a necessidade do rebanho, além de permitir o gerenciamento da relação entre o acúmulo e a demanda em cada período.
“Nas águas, o pecuarista deve se atentar para a possibilidade de intensificação da produção de forragem, visto que há condições de clima favoráveis ao desenvolvimento das plantas forrageiras na maior parte do país”, orienta.
Ainda no período das chuvas, a zootecnista observa que, sendo a base forrageira o pasto, o pecuarista deve estar atento ao que está sendo ofertado pela pastagem e realizar a suplementação estratégica de acordo com as exigências do rebanho e as expectativas de produtividade almejadas para o seu sistema de produção. “Caso o produtor tenha interesse em conservar o excesso de forragem para uso no período seco do ano, é preciso se organizar com antecedência”, reforça.
Planejar com antecedência também é imprescindível para garantir produtividade no período da seca, que ocorre no inverno nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil e são comuns no verão da Região Sul.
Entre as alternativas, estão a conservação de forragem na forma de feno ou silagem ou o uso de vedação ou diferimento de pastagens para o acúmulo de forragem e utilização em momento oportuno, ação conhecida como feno em pé. “Aqui, vale analisar uma estratégia de suplementação proteica capaz de otimizar a utilização da fibra da forragem disponível pelo animal. A observação desses pontos pode evitar o famoso efeito boi sanfona, no qual, principalmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, os animais ganham peso nas águas e perdem peso no período seco do ano”, aponta.
Sobre a vedação ou diferimento de pastagens, Márcia esclarece que essa técnica visa garantir forragem durante a seca para ao menos garantir a manutenção do peso dos animais.
O método consiste na interrupção do pastejo em uma determinada área ou conjunto de áreas antes do final da estação chuvosa, para possibilitar o acúmulo de forragem para pastejo direto no período crítico de produção de forragem. “Vale salientar que, para gerar pasto com quantidade, mas com certa qualidade ao se adotar essa técnica, é preciso escolher gramíneas de porte baixo, colmo fino e florescimento tardio, além de ficar atento a questões como o tamanho da área a ser diferida, o escalonamento no diferimento dessa área, o período de diferimento de cada área, a realização de adubação estratégica, suplementação, monitoramento e manejo nesse período da seca”, ressalta.
Uma das ferramentas orientadoras de manejo de pastagem é a régua para medir a altura das plantas. Para Márcia, é um instrumento simples e prático, desenvolvido com objetivo de sintetizar os princípios básicos de manejo, por meio de um indicador que é altura, para auxiliar a tomada de decisão dos produtores e técnicos que atuam com produção animal em pasto.
De maneira simplificada, as alturas de manejo indicadas na régua, ou representadas por cores, são baseadas na fisiologia das plantas forrageiras. O momento de entrada dos animais para pastejo é quando há um maior acúmulo líquido de forragem, ou seja, a formação de novas folhas está em seu estágio máximo e a perda de folhas por senescência ainda é baixa, potencializando a oferta de forragem em quantidade e qualidade.
Já o momento de saída é determinado quando o resíduo do pastejo tem folha fotossinteticamente ativa suficiente para a sobrevivência da planta e rápida rebrota, proporcionando acúmulo de forragem para um novo ciclo de pastejo.
“Hoje, existem duas réguas de manejo desenvolvidas pela Embrapa, uma voltada para forrageiras tropicais, desenvolvida pela equipe da Embrapa Gado de Corte, e uma voltada para forrageiras da Região Sul, que foi desenvolvida pela equipe da Embrapa Clima Temperado, juntamente com a Embrapa Pecuária Sul, Embrapa Trigo e Embrapa Gado de Leite.
A recomendação de altura para as diferentes forrageiras baseia-se nas avaliações desenvolvidas em experimentos prévios, com foco no refinamento de estratégias de manejo mediante associação de altura do pasto com o desempenho animal, sendo esses estudos conduzidos tanto em pastejo rotacionado quanto em pastejo contínuo”, acrescenta.
Pasto sobre pastoSegundo a pesquisadora Márcia, a Embrapa Pecuária Sul tem uma linha de estudo voltada justamente para pesquisar estratégias para garantir forragem para os animais ao longo do ano, de forma a reduzir os famosos “vazios forrageiros”. Os pesquisadores têm trabalhado com o “Pasto sobre Pasto”, um conjunto de práticas de manejo associadas ao uso de mais de uma espécie forrageira na mesma área. Entre as técnicas, destacam-se: - uso de cultivares forrageiras; - adubação de base e de cobertura; - plantio direto sem uso de dessecação; - manejo do pastejo; - manejo em períodos de transição entre estações do ano; - planejamento. |