Blog •  11/04/2023

Plantas daninhas em pastagem: identificação das principais e curiosidades

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A sustentabilidade tem exigido cada vez mais do produtor, que busca alternativas para a sua produção, se aliando até a antigos problemas.

Cada vez mais a sustentabilidade tem feito parte do nosso cotidiano, seja urbano ou rural.

Novas formas de produzir, além de diferentes formas de uso para um mesmo material, nasceram.

Para a pecuária, não podia ser diferente. Em momentos de alta de custos de produção, o produtor busca por aliados inesperados.

Alguns deles serão abordados durante este texto, com sua identificação, seu controle e sua inusitada forma de utilização dentro de um ambiente produtivo, desde que feita corretamente.

Algodão de seda

De nome científico Calotropis procera  e ocorrência mais abrangente em estados do Nordeste e norte de Minas Gerais, é uma planta arbustiva com folhas ovaladas, nervuras bastante aparentes, com caule grosso e liso.

Suas flores são complexas, pequenas, com pétalas brancas, roseadas ou roxas em um formato afunilado e côncavo. Seu fruto arredondado e grande, com sementes rodeadas por fibras brancas, semelhantes ao algodão, é que dá referência ao nome.

Figura 1
Perspectiva de folha, fruto e flor do algodão de seda

Fonte: Wilfredo Rodriguez

Seu principal dano está na toxicidade para humanos e animais, por isso deve ser evitada em um ambiente de pastagem. Porém, seu emprego na alimentação animal tem começado, como pré-secado e feno, evitando-se utilizar as partes mais tóxicas da planta e utilizando cortes de estruturas mais jovens, que apresentam menor concentração da toxina.

Seu uso requer atenção e acompanhamento de um profissional especialista.

Alguns estudos demonstram atividade inseticida, antibacteriana e antifúngica com o uso da folha da espécie, entre outros usos de compostos para composição de fármacos.

Mucunã

Uma planta daninha, a depender da situação, de hábito de crescimento em trepadeira. Bastante indesejada em cultivos de gramíneas, principalmente para cana-de-açúcar, pois seu acúmulo gera embuchamentos, estragando maquinários de colheita.

Como característica, por ser uma leguminosa, a folha é composta de três folíolos ovais, de textura pouco rugosa. As flores, também, têm colorações roseadas, branca ou roxas.

Seu caule é flexível e lenhoso, justificando seu crescimento de trepadeira, que envolve plantas ou estruturas próximas, para seu benefício (busca de luz).

Figura 2
Trepadeira de mucunã envolta em galho, com inflorescência

Fonte: J. M. Garg

Se cultivada solteira, pode ser grande produtora de biomassa e, consequentemente, boa cobertura de solo, podendo ser utilizada como adubação verde em solos degradados ou de pousio. Também, com uma boa produção de folhas, pode ser destinada à alimentação animal.

Saindo da produção agropecuária, a mucunã traz benefícios medicinais, ainda sendo estudados, devido aos seus constituintes, que podem até servir para tratamento deParkinson e outras doenças neurodegenerativas.

Guanxumas

Bastante conhecida dos produtores, desde pastagens a pomares, as guanxumas são bastante abrangentes, com diversas espécies ocorrendo em todo o solo brasileiro. São também sinais de possível compactação no solo e estão ligadas a sistemas de plantio direto.

Uma de suas espécies mais conhecidas, Sida rhombifolia, pode também ser chamada de relógio devido à sua característica, pois a abertura de suas pétalas é diária e pontual (sempre no mesmo horário).

Suas plantas apresentam folhas alternadas, com um formato elíptico (círculo bastante achatado), com bordas não lisas. As flores são pequenas, com tons próximos do amarelo. Seu caule é lenhoso, mas ainda assim resistente, capaz de se recuperar rapidamente de danos por pisoteamento.

Figura 3
Planta de guanxuma em floração

Fonte: Mauricio Mercadante

Os principais aspectos que dificultam seu controle estão ligados a seus estádios mais avançados, uma vez que seu desenvolvimento inicial é lento e competitivamente ineficiente. Além de difícil controle, as guanxumas são hospedeiras de pragas, doenças e nematoides, podendo causar danos fitossanitários.

Porém, estudos recentes ainda pontuam a capacidade produtiva para disponibilizar a planta para alimentação animal, ofertada de maneira natural, pois ela apresenta quantidades de nutrientes e proteínas superiores a algumas das forrageiras mais utilizadas, como algumas espécies de braquiárias.

Fora das produções agropecuárias, as guanxumas, que também são conhecidas como vassourinhas, se tornam vassouras em algumas casas, e pesquisas apontam o emprego de suas fibras na área têxtil, com uma boa resistência mecânica e elasticidade.

Mutamba

Dentre as daninhas abordadas neste artigo, é a única árvore. Pode atingir até 30 metros de altura, porém também é cultivada como forragem e com boas porcentagens de proteína bruta (entre 17% e 28%). Seu cultivo, além da alimentação animal, pode ser destinado a celulose e papel, energia (biomassa), carpintaria e medicinal (de conhecimento popular e não comprovado no método científico como o uso de sua casca para chás). Ressalta-se a não recomendação do consumo sem a orientação de um especialista.

Seu tronco é tortuoso e curto, com a ramificação baixa, e tem uma casca áspera em tons de marrom escuro, com a região interna roseada. As folhas são ovaladas, elípticas ou lanceoladas, com margem não lisa e pilosa (presença de pelos) no dorso.

Suas flores são pequenas, com tonalidades amarelas e estruturadas em cinco pétalas, com um fruto verde a verde-escuro, arredondado e duro.

Figura 4
Árvore de mutamba

Fonte: Paulo Ernani Ramalho Carvalho

Quando utilizada em produções pecuárias, pode ser ofertada in natura, semelhante ao que é feito para Leucena, com um controle de cortes para oferta de suas folhas. Porém, algumas dificuldades para o seu uso se dão devido ao seu tronco mais resistente, mas a possibilidade de crescimento quase indeterminado pode garantir um sombreamento para áreas abertas, caso cultivado corretamente.

E quanto ao seus controles, caso sejam daninhas?

Em uma área onde as plantas anteriormente citadas são consideradas daninhas, seu controle é similar entre elas.

A principal prática de controle de daninhas em uma pastagem é o manejo correto da cultura. De crescimento bastante agressivo, o capim tem a capacidade de cobrir o solo rapidamente e, em competição com outras plantas, é capaz de não permitir o desenvolvimento delas.

Além do manejo, o controle mecânico é bastante comum, principalmente para a mutamba e guanxumas, nos períodos mais secos do ano, quando o desenvolvimento para as invasoras costuma ser mais lento.

Em épocas de águas, com seu crescimento acelerado, promovido pela boa disponibilidade de água e nutrientes (chegando por meio da adubação da pastagem), o controle pelo método químico é bastante efetivo, com o emprego da tecnologia XT-S da Corteva. Quando utilizado em manejo integrado com as demais práticas, tem o intuito de evitar resistência das moléculas por parte da invasoras, mesmo que poucos casos tenham sido registrados para as plantas acima citadas.

Toda planta é uma daninha?

Ao passo que os movimentos sustentáveis caminham, a máxima utilização e empregos de novas culturas para a agropecuária tendem a aparecer também.

Dessa forma, antigos inimigos do produtor acabam se tornando aliados, descobertos por meio de pesquisas. Assim, são encontradas diferentes formas de utilização, seja em integração com culturas, como adubo verde, até em usos medicinais específicos.

Uma planta daninha não se faz por suas características morfológicas ou fenológicas, mas sim por sua importância dentro de uma área de produção. Dessa forma, todas as plantas podem ser consideradas como plantas invasoras/daninhas, desde que estejam em uma área considerada não desejada.

Em um cultivo de soja, por exemplo, o milho “tiguera” é considerado uma daninha, planta indesejada. Essa máxima também vale para as áreas de pastagens, onde toda e qualquer planta que se estabeleça em uma área destinada ao pastejo, que não seja a cultura primária, será considerada uma invasora e deverão ser utilizados os meios disponíveis para seu controle.

Neste exemplo, o marandu, tradicional cultivar utilizado como forrageira, seria considerado uma daninha em uma área de cultivo de mucunã, e o inverso também seria verdadeiro.

Referências

CARVALHO, P. E. R. Mutamba: Guazuma ulmifolia. Circular técnica 141, p. 13, Colombo – PR, 2007. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPF-2009-09/42548/1/Circular141.pdf.  Acesso em: 9/3/2023.

EMBRAPA, Mucuna. Embrapa Agrobiologia. Informe técnico, p. 2. Disponível em: https://www.embrapa.br/documents/1355054/19774764/INT_2017_CATALOGO+INOCULACAO_MUCUNA_LAMINA+A5.pdf/1cd961b6-d0e6-5761-9456-b3c481252fac. Acesso em: 9/3/2023.

FERRO, D. M. Guanxuma (Sida rhombifolia l.): obtenção de extratos com potencial antioxidante por métodos a alta pressão e encapsulação via spray-drying. p. 221, Florianópolis – SC, 2019. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/200082/Tese%20-%20Guanxuma%20-%20Diego%20M.%20Ferro%20-%20Eng.%20Alimentos%20UFSC.pdf?sequence=1&isAllowed=y Acesso em: 9/3/2023.

SILVA, J. U. Efeito do extrato de Calotropis procera (apocynaceae) sobre Thrips tabaci (thysanoptera: thripidae) na cultura da cebola. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao IF Sertão – PE. p. 39, Petrolina – PE, 2018. Disponível em: https://releia.ifsertao-pe.edu.br/jspui/handle/123456789/418. Acesso em: 9/3/2023.

TABATINGA FILHO, G. M. et al. Fenologia, biologia reprodutiva e ecologia da polinização de Calotropis procera Ait. R. Br. (Apocynaceae-asclepiadoideae). p. 79, Recipe – PE, 2008. Disponível em: https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/1025/1/arquivo8867_1.pdf. Acesso em: 9/3/2023.