Blog •  05/12/2024

2024: o ano da demanda por carne bovina. O que esperar para 2025?

Autor: Felipe Fabbri, zootecnista, me
Something went wrong. Please try again later...

Com a expectativa do maior abate – e produção de carne bovina - da história em 2024, o mercado ganhou fôlego, principalmente pela forte demanda. 

 

Em novembro, a cotação da arroba do boi gordo em São Paulo subiu 11,0%, considerando os preços do “boi China”.

Veja na tabela 1 os preços do boi gordo em diferentes regiões do Brasil.

Tabela 1.
Preço do boi gordo, em R$/@, a prazo e livre de impostos (Senar e Funrural).


Fonte: Scot Consultoria.

Em nosso último artigo, trouxemos algumas reflexões sobre o momento do mercado do boi gordo, que vem de fortes altas desde agosto e também se havíamos entrado na fase de alta do ciclo pecuário. Há alguns indícios de que estamos em um momento de transição, entre a fase de baixa e a fase de alta.

Mas a característica fundamental de uma fase de alta, passa pela redução no abate de fêmeas. 

E, em novembro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresentou os dados parciais de abate de bovinos no terceiro trimestre de 2024 e, para o período, foram abatidas 10,3 milhões de cabeças – recorde para um único trimestre, cujos antecedentes haviam sido o primeiro e segundo trimestre de 2024. Veja na figura 1.

Figura 1.
Abate de bovinos no Brasil, por trimestre, em milhões de cabeças.



Fonte: IBGE / Elaboração: Scot Consultoria

Para alongar um pouco mais a análise, a partir dos dados preliminares dos abates sob sistema de inspeção federal (SIF), de janeiro e outubro de 2024, os abates aumentaram 16,5%, na comparação com o mesmo período em 2023 – nesse recorte, para 2024, os abates de fêmeas cresceram 19,4% e os de machos, 14,9%.

Além disso, em todos os meses até setembro, os abates de 2024 superaram os mesmos meses de 2023 e, em outubro, a partir de dados preliminares, houve retração de 0,9%, na comparação anual.

Ou seja, o mercado esteve ofertado e o abate de fêmeas seguiu intenso este ano. Então, o que sustentou os preços da arroba do boi gordo?

Fundamentalmente, há dois pilares quanto à precificação de commodities: a oferta e a demanda. Se a oferta esteve abundante, os preços, se não houver demanda, tendem a cair. O que o mercado nos mostra é que, em 2024... 

A demanda por carne bovina imperou!

Que a exportação está de vento em popa, não é novidade, e já comentamos em outras oportunidades sobre o tema.

Em outubro, confirmando as expectativas, registramos novo recorde de embarques de carne bovina in natura para um mês – 270,0 mil toneladas – superando setembro último. 

Em novembro, a demanda segue intensa e, até a quarta semana, 179,9 mil toneladas de carne bovina in natura foram exportadas, considerando a média diária do período, o volume é 36,8% maior que a média diária em novembro/23.

Destaque ao preço por tonelada que subiu frente aos meses anteriores e à média em 2024 (US$4,51/kg), e está em US$4,84/kg na parcial do mês. 

Ou seja, pouco a pouco, os vendedores brasileiros estão conseguindo repassar ou renegociar os preços da carne junto aos seus compradores e, com um dólar em suas máximas, recompor, parcialmente, sua margem pressionada nos últimos meses.

Mas não só a demanda externa dá prumo ao mercado de carne bovina – pelo contrário – o maior consumidor segue sendo o brasileiro. Estima-se que, em 2024, 30,2% da produção brasileira será exportada – maior participação na história. 

Ou seja, o maior consumidor de carne bovina é o próprio brasileiro. E, como reflexo da maior disponibilidade de bovinos, os preços da carne cederam.

Ao considerarmos o mercado de carne bovina, temos três grandes elos: o atacado de carne com osso, o atacado de carne sem osso, estando os dois primeiros diretamente ligados à indústria, e o varejo, ligado ao consumidor final. 

No mercado atacadista de carne com osso, a competitividade do boi gordo esteve interessante em 2024 – até setembro, quando a arroba bovina subiu.

Para mensurar essa competitividade, consideramos a referência de preços do dianteiro avulso e a relação entre quilos desse corte bovino no atacado com osso e quilos de frango e carcaça suína.

Consideramos o dianteiro, pois refere-se à porção da carcaça bovina mais acessível do que os cortes do traseiro, sendo então os cortes mais em conta na mesa.

Em 2024, até meados de setembro a quantidade de carne concorrente comprada com o preço de um quilo de dianteiro foi menor, ou seja, para a indústria que desossa e vende os cortes sem osso ao varejo, o preço da carne bovina esteve atrativo (figura 2). 

Figura 2.
Preço médio do dianteiro avulso no atacado de carne com osso e a quantidade de quilos de carne de frango e carne suína compradas com um quilo de dianteiro.

Fonte: Scot Consultoria

Com o preço no atacado de carne com osso menor, no varejo o preço da carne bovina esteve mais acessível ao consumidor. Veja na figura 3.

Figura 3.
Preço médio da carne bovina no varejo, em São Paulo, em valores nominais e reais – deflacionados pelo IGP-DI –, e a variação anual (%) da média de preços.

Fonte: Scot Consultoria 

Enquanto o preço da carne ficou mais acessível, a taxa de desocupação diminuiu, e o poder de compra do brasileiro, a partir de dados do IBGE, considerando a renda média per capita mensal, aumentou em 2024 – veja na figura 4.

Figura 4.
Rendimento médio mensal, em laranja, e quilos de carne bovina possíveis para serem adquiridos, em azul. 

Fonte: Scot Consultoria. 

Desde 2021 o brasileiro não tinha um poder de compra tão favorável à aquisição de carne bovina. Ou seja, a demanda interna, aparentemente, colaborou. 

Mas após fortes altas da cotação da arroba do boi e seu repasse ao longo da cadeia... 

A dúvida que fica é, até onde a corda esticará? 

Para dezembro, o comportamento dos preços parece claro: firmeza adiante. 

Enquanto houver demanda, os preços deverão se manter sustentados e, do lado da oferta, com as chuvas mais regulares nos últimos meses, há espaço para o pecuarista cadenciar a oferta de bovinos terminados em pastagens e, para os bovinos confinados, que poderiam ter uma saída mais precipitada pelas chuvas, a demanda, aparentemente, tem enxugado essa oferta.

Para o início de 2025, atenção à possibilidade de uma demanda mais comedida. Mas esse é assunto para o nosso próximo artigo.