Blog •  11/09/2019

Resíduo de cervejaria (RUC) na dieta de bovinos

Autor:  Antonio Ferriani Branco, possui graduação em Zootecnia pela FCAV-UNESP Jaboticabal, mestrado e doutorado pela FCAV-UNESP Jaboticabal e doutorado pela University of Kentucky, na área de produção e nutrição de ruminantes, pós-doutorado pela Pennsylvania State University na área de nutrição de ruminantes.
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Resíduo de cervejaria (RUC) na dieta de bovinos

A melhor alternativa de uso do RUC para bovinos é na forma de silagem e pode ser fornecido ao gado de corte e leite.

O aumento da produtividade na pecuária passa pelo uso de tecnologias sustentáveis. Dentre elas, destacam-se as tecnologias nutricionais.

A alimentação é o item que tem o maior peso nos custos de produção (60%-80%). Assim, é fundamental buscar alternativas alimentares que possam manter ou melhorar os níveis de produtividade e o custo-benefício.

Aqui entram os resíduos e coprodutos da agroindústria.

Neste artigo, vamos explorar o uso do Resíduo Úmido de Cervejaria (RUC). Os mais importantes, em termos de produção e disponibilidade, são o bagaço de malte ou resíduo úmido de cervejaria e o levedo de cerveja.

RUC na alimentação animal

Quando pensamos em usar um resíduo ou coproduto na alimentação de bovinos, o primeiro passo é o conhecimento das suas características químicas bromatológicas (Tabela 1).

Tabela 1.
Composição química bromatológica do RUC (% na MS).

Item (%) Úmido1 Úmido2 Úmido3 Silagem1
Matéria Seca (MS) 24,6 24,9 20 – 29,0 25,6
Proteína Bruta (PB) 29,0 25,9 32,0 29,2
Fibra em Detergente Neutro (FDN) 48,9 49,6 50,0 57,5
Fibra em Detergente Ácido (FDA) 24,1 20,8 23,0 21,0
Extrato Etéreo (EE) 9,5 7,0 9,5 7,4
Amido 5,6 5,7
Cálcio (Ca) 0,35 0,30 0,31 0,51
Fósforo (P) 0,69 0,58 0,57 0,80
Potássio (K) 0,15 0,16 0,09
Nutrientes Digestíveis Totais (NDT) 74,1 66,1 76,0 67,4

Fontes: 1Dairy One, 2Feedipedia, 3CSC

No caso do RUC, vale a pena destacar suas principais características, sempre com base em 100% de matéria seca (MS):

a. Alimento com alto teor de fósforo (> 0,57%), médio teor de cálcio (0,30 – 0,50%) e muito baixo teor de potássio (< 0,16%);
b. Contém alta umidade, que varia de 75% a 80%;
c. O teor de proteína bruta (PB) varia de 26% a 32% e a taxa de degradação no rúmen é baixa, variando de 40% a 50%. Essa proteína é rica em metionina e pobre em lisina;
d. O teor de Fibra em Detergente Neutro (FDN) normalmente fica acima de 49% e o de Fibra em Detergente Ácido (FDA) acima de 20%;
e. A concentração de energia líquida de lactação (ELL) varia de 1,40 a 1,85 Mcal/kg de matéria seca (MS);
f. Baixa concentração de amido (< 6%);
g. Alta concentração de extrato etéreo (EE) (> 7%).

Prós e contras do RUC na dieta

Sempre que é feito uma recomendação a uma determinada alternativa alimentar, a primeira pergunta do técnico ou produtor é: quais são as vantagens e desvantagens desse resíduo ou coproduto? A seguir, são apresentados os prós e contras do uso do RUC para bovinos.

Vantagens

  1. Disponibilidade o ano todo, pois a produção de cerveja não tem sazonalidade.
  2. Alimento muito palatável.
  3. Fonte de proteína by-pass*. No Brasil, não temos muitas opções de proteína by-pass, principalmente para vacas de produção mais elevada, que demandam esse tipo de alimento. Como é rico em metionina, pode ser usado nas formulações em combinação com o farelo de soja, que é pobre nesse aminoácido;
  4. Pelo fato de ter baixa concentração de amido e alto teor de Fibra em Detergente Neutro (FDN), é um alimento estratégico na formulação de dietas com alta densidade energética, com alta inclusão de grãos.

*É uma proteína não degradada no rúmen, permitindo que seja completamente digerida no intestino delgado, consequentemente, melhorando o aproveitamento dos aminoácidos essenciais.

Desvantagens

  1. Variabilidade na composição nutricional, que depende principalmente do tipo de grão usado e do processo industrial.
  2. Palatabilidade cai com o tempo de estocagem, se não for ensilado.
  3. Produto altamente perecível devido ao crescimento de bactérias, leveduras e fungos.
  4. Produto com alto teor de umidade, o que limita seu uso em propriedades que ficam distantes da fonte.

Considerando a composição química e bromatológica e as vantagens e desvantagens, no caso do RUC, fica um saldo muito positivo.

Esse alimento pode diminuir consideravelmente o custo da ração e manter ou até melhorar a produção de leite ou carne. É importante sempre verificar a disponibilidade do produto na região e custos com frete.

Uma outra pergunta que sempre surge quando tratamos desse assunto é: vale a pena usar o alimento e como devo usá-lo?

Em seguida, as recomendações mais importantes relacionadas ao uso correto do RUC:

a. Se o RUC não for ensilado, o produto deve ser usado em, no máximo, 4 dias. No caso de regiões muito frias, esse período pode ser um pouco mais longo, mas deve ter monitoramento da qualidade do material;
b. A melhor alternativa de uso é na forma de silagem. O material deve apresentar pelo menos 25% de MS e o processo deve seguir as mesmas regras usadas para silagem de milho. Logo após o resfriamento do material, deve-se proceder ao processo de ensilagem;
c. Para materiais com mais de 25% de MS, a adição de milho desintegrado com palha e sabugo (MDPS) em nível de 2,5% melhora significativamente a qualidade da silagem produzida. Para abrir o silo, deve-se esperar pelo menos 15 dias (Aronovich, 1999);
d. Faça silos pequenos, dimensionados para cortar, diariamente, pelo menos 30 cm em profundidade. Isso ajuda na preservação da qualidade do RUC.

Considerando tudo que já abordamos sobre o RUC, é importante passarmos às recomendações de quantidades a serem utilizadas.

Mas, antes, não se esqueça: os percentuais e as quantidades são sempre considerados com base na matéria seca. Como o RUC tem somente de 20% a 25% de matéria seca, as quantidades em MS (kg) são multiplicadas por 3 a 4.

Leia também: Subprodutos do etanol de milho como fonte de proteína mais barata

Exemplo:

Se uma vaca consome 15 kg de matéria seca e queremos substituir 20% com o RUC, devemos fornecer de 9 a 12 kg desse alimento diariamente.

Para vacas leiteiras, o nível de inclusão é de 20% a 25% do concentrado e de 15% a 20% da dieta total (MS). Contudo, muitos técnicos e pesquisadores recomendam até 30%.

Dietas de vacas leiteiras podem conter até por volta de 15% de silagem de RUC sem prejuízo do consumo de MS, da produção e da qualidade do leite. O RUC pode substituir parte da silagem de milho.

Para gado de corte, o consumo de até 2 kg de RUC (base matéria seca) não altera o desempenho. Isso significa algo em torno de 6 a 8 kg com base na matéria natural.

Se considerarmos com atenção a questão da qualidade do material, como vimos ao longo desse artigo, o RUC é uma excelente alternativa alimentar para bovinos.

Quando as recomendações dadas (nível de inclusão na dieta, tempo de estocagem, entre outros) não são seguidas, o uso do RUC pode ser prejudicial, como descrito em vários artigos científicos, tais como:

  • De acordo com Okwee-Acai & Acon, 2005, o uso de RUC na dieta de bovinos confinados por longo período (1 ano) aumentou significativamente os casos de laminite;
  • Segundo Loretti et al. 2003, a contaminação do bagaço de malte por fungos, especialmente por cepas de Aspergillus clavatus produziu desordens neurológicas em bovinos;
  • Já Haagsma, 1991, mostrou que mesmo que não seja uma intoxicação comum, casos atípicos de botulismo tipo B ocorreram na Holanda durante o período de 1977 a 1978, causados pela suplementação alimentar de grãos de cerveja.

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